Há 28 anos na PM, subtenente J. Silva não pensa em aposentadoria
Se quisesse, o subtenente J. Silva já poderia estar usufruindo da aposentadoria, na reserva da Polícia Militar. Ele já completou 28 anos como militar e é uma das referências do grupo Rotam (Rondas Ostensivas Tático Móvel) do 11º Batalhão de Campo Mourão. Tanto que já recebeu até homenagem da Câmara de Vereadores. Mas por enquanto, aposentadoria não está nos planos dele. “Enquanto eu aguentar passar as noites acordado e estiver bem física e psicologicamente, vou permanecer nas fileiras da nossa corporação”, afirmou em entrevista exclusiva à TRIBUNA.
Considerado na cidade o “terror” dos marginais envolvidos com tráfico, J. Silva iniciou na carreira militar no Exército. É casado, tem dois filhos legítimos e uma enteada. Um dos filhos, de 26 anos, é policial militar em São Paulo. Além de ameaças no enfrentamento do crime, ele admite que também já enfrentou até pressão política. “Já teve políticos aqui da nossa cidade que foram a Curitiba para tentar me transferir”, revelou.
Ele enfatiza que a segurança pública não envolve apenas o poder público, mas também a própria sociedade. “Quando alguém chama a polícia é porque a sociedade perdeu o controle de determinada situação e aí você tem que agir. E você agindo, uma das partes não vai gostar. O trabalho policial é para restabelecer a ordem onde ela deixou de existir. É um verdadeiro sacerdócio”, pondera.
A principal frustração de J. Silva é a sensação de impunidade que o crime de tráfico gera na sociedade. “O crime de tráfico é considerado não violento, por isso muitas vezes o indivíduo não fica preso. Mas ele gera violência. Já tivemos caso aqui de um jovem que foi morto porque devia três pedras de crack, ou seja, trinta reais”, exemplifica, ao lembrar que outros crimes estão associados ao tráfico, como furtos, roubos e quase todos os homicídios.
“Muitos falam que a gente só pega os pequenos. Mas essas biqueiras é que trazem os grandes problemas, porque é ali que se fomenta o tráfico. É ali que são levados os produtos de furto ou roubo. Se não combater os pequenos, os grandes vão crescendo ainda mais. São eles que pegam dos grandes”, explica.
Para ele, pelo porte da cidade, Campo Mourão tem um índice de criminalidade alto. “Por ficarmos próximo da fronteira, aqui se tornou um corredor do tráfico. Pelo tanto de pontos que existem o número de usuários é muito alto”, analisa. Com a experiência na Rotam, J. Silva conhece bem a realidade do mundo do tráfico. “Quando chega uma denúncia que em determinado lugar estão vendendo drogas, a gente já sabe quem são os marginais que atuam ali”, comenta.
Como policial, muitas vezes tem que atuar até como psicólogo. “Tem mães que nos procuram pedindo pra gente aconselhar o seu filho”, admite. Ele lembra que é importante os pais ficarem atentos, principalmente quando o filho aparece em casa com objetos que não condizem com a realidade financeira dele. “As vezes uma pessoa calma se torna agitada, já não para em casa. Esse pode ser um sinal”, explica.