Jornalista Alexandre Garcia estreia coluna na TRIBUNA; confira entrevista
O jornalista Alexandre Garcia é o novo colunista da Tribuna do Interior. Semanalmente, às quartas-feiras, serão publicadas suas análises sobre a política atual. A coluna estreia hoje. Garcia é um dos nomes mais respeitados no jornalismo brasileiro. Com passagens por rádio e TV, sempre teve o olhar voltado para o noticiário político, trazendo informações sobre os chamados “bastidores” da política. São 43 anos vivendo em Brasília.
A novidade agrega aos investimentos da TRIBUNA, que recentemente estreou o novo layout de seu portal de notícias. “A partir do início do ano que vem teremos mais novidades que serão implantadas dentro de um cronograma de melhorias de qualidade editorial e acessibilidade tendo em vista o atendimento do nosso leitor no portal e assinante no impresso”, adiantou Thomé.
A TRIBUNA entrevistou o jornalista, que comentou sobre sua estreia. “É um prazer de estar entre uma comunidade tão próspera e tão ativa como é o Paraná. Fico muito feliz em estar no meio dos paranaenses, especialmente de Campo Mourão agora”, falou Garcia. Para escolher o tema de cada coluna, o jornalista diz que faz uma avaliação do fato mais importante da semana, seus reflexos no futuro e a sua consequência. Ele promete sintetizar tudo em 40 linhas. “Os leitores podem ficar tranquilos que não vou tomar muito tempo de ninguém. Eu jamais vou passar de 40 linhas, sempre usando uma linguagem simples e clara”, falou.
Nesta semana, por exemplo, Alexandre está falando da eleição na Argentina e suas consequências para o Brasil. “Tem que parar dessa bobagem de a gente achar que tem que ficar longe da Argentina. Não, a Argentina vai ficar ali na fronteira sempre, não vai sair até que o mundo acabe e temos que considerara isso”, falou. Leia abaixo a entrevista completa.
Quem é Alexandre Garcia
Hoje com 78 anos de idade, Alexandre Eggers Garcia nasceu em Cachoeira do Sul (RS). Aos 6 anos teve o primeiro contato com rádio, ao lado do pai, o uruguaio Oscar Chaves Garcia. O menino Alexandre fazia papéis em radionovelas da Rádio Cachoeira e, mais tarde, da Rádio Alto Taquari, na cidade de Estrela. Aos 15 anos, passou a transmitir missa dominical. Depois, foi locutor e noticiarista na Rádio Independente, de Lajeado, também levado pelo pai.
O jornalista foi correspondente no exterior pelo Jornal do Brasil e, anos depois, subsecretário de Imprensa da Presidência da República, no governo João Baptista Figueiredo, durante 18 meses. Passou pela TV Manchete, onde ocupou o cargo de diretor. Atuou por 31 anos na TV Globo como repórter especial, comentarista e apresentador substituto no Jornal Nacional, Bom Dia Brasil e programa semanal na Globonews, além de comentarista e apresentador do noticiário local. Foi também diretor de jornalismo da Globo em Brasília.
Com décadas de experiência no jornalismo, o jornalista já cobriu três guerras (Angola, Líbano e Malvinas), foi enviado especial no Peru, Paraguai, Colômbia e Chile e correspondente especial na Argentina e Uruguai. É também autor dos livros João presidente e Nos bastidores da notícia, que vendeu mais de 60 mil exemplares.
Como o senhor enxerga o Brasil de hoje?
Com muita esperança. Se bem que na minha idade já vivi ciclos de esperança que foram frustrados. Parece que o Brasil é um país meio masoquista porque na hora que está dando certo a gente da um jeito de estragar. Lembra do governo Temer, estava se recuperando ia passar a reforma da previdência, o PIB estava crescendo aí chegou o Joesley. É uma coisa assim, as coisas vão bem e a gente dá um jeito de estragar. Neste momento as coisas estão indo bem, basta olhar o dólar abaixo de R$ 4,00, a Bolsa de Valores subindo, a taxa básica de juros caindo, a previdência aprovada, outras reformas já encaminhadas (administrativa, tributária), e o que já foi feito, como a lei de liberdade econômica. São várias coisas que foram conquistas de recuperação do país, mas sobre tudo a recuperação moral. A gente passou uma fase de roubalheira, corrupção institucionalizada, a Lava-Jato venceu e está vencendo, agora está aí o Supremo para ver se estraga. Faz parte da ciclotimia, o Supremo tentando puxar para baixo o país que estava subindo no combate à corrupção. O segredo disso é que a população, que só é ativa na hora do voto, não tem que ser passiva. Tem que continuar cobrando do governo e participando. Se a gente quiser mudar o país temos que começar a mudança em casa, não adianta ficar esperando pelo governo e pelo estado.
Há algum método de direcionamento de suas análises para o cenário brasileiro?
Eu diria o seguinte: eu nunca fico perto da árvore para poder ver a floresta. Eu vejo a floresta porque não me aproximo muito da árvore. Outra coisa, estou há 43 anos em Brasília e evito intimidade com o poder porque a gente pode se contaminar. Tem que manter uma distância ‘sanitária’ do poder para poder analisar, para poder ver o conjunto como um todo e não se enganar com a última informação, com a última fonte e com o sujeito que passou um segredo muito próximo. É importante manter esta distancia para guardar a isenção necessária para ter credibilidade sem militância e sem fanatismo. Eu acho que uma das virtudes do jornalista é o ceticismo não dá para acreditar na primeira, a gente tem que receber a coisa com os quatro pés atrás, sempre desconfiar. Eu costumo citar um provérbio argentino que diz que o diabo não é sábio porque é diabo, mas porque é velho e porque tem experiência. Então com a experiência a gente já viu tanta coisa podemos traçar uma comparação e até projetar o que pode acontecer porque a história é meio repetitiva. Eu trabalhei no Palácio do Planalto 40 anos atrás por um ano e meio e foi o suficiente para saber como funciona nas entranhas. E hoje é igualzinho há 40 anos. Então eu sabendo de 10% posso até projetar o que vai acontecer porque sei como funciona a engrenagem do poder já tendo trabalhando lá dentro. Foi uma aula que precisei para não ficar só do lado de fora.
Qual é o papel da imprensa, especialmente dos conteúdos de opinião, diante da onda das fake news?
Eu não vou concordar que é uma onda de fake news. Essa onda começou desde que iniciei como jornalista. Hoje mudou de nome, está em inglês. A gente chamava de boato, mentira, notícia falsa, boataria. Tem coisas incríveis que eu vi ao longo dos meus 50 anos de jornalismo, mentira, mentira, mentira… Então hoje apenas se multiplicou porque todo mundo ‘virou’ jornalista, todo mundo está na rede social, todo mundo está dando o seu palpite e a sua invenção. O que é preciso na rede social é que a gente fique também com os quatro pés atrás para que saiba distinguir o que é mentira e o que é verdade.
Qual a sua relação com o Paraná, tanto no aspecto pessoal quanto no profissional?
No aspecto pessoal, meu melhor amigo da adolescência mora em Curitiba. A cada vez que vou a Curitiba eu visito o Carlos Eduardo Gouveia da Costa que foi diretor da Copel. Ele é engenheiro e hoje tem uma empresa de engenharia. Tenho também amigos na área jornalística. Acho que Curitiba é a melhor cidade do país, mais civilizada e mais organizada. Eu tenho amigos também que já se foram em Assis Chateaubriand, o Ibrahim Abud, tenho amigos em Cascavel, Foz do Iguaçu. Eu gosto muito do Paraná, sou sulista, sou gaúcho e está cheio de gaúcho aí no Paraná que adoraram o Estado e se estabeleceram aí.
Como o senhor vê o jornalismo brasileiro com a questão do avanço das redes sociais e com o fato de qualquer pessoa hoje está se bancando ‘jornalista’?
Em primeiro lugar o jornalista veio de uma formação geral de professores que ensinaram a fazer militância e não jornalismo. Eu sei por que estava fazendo uma palestra na UNB em Brasília e quando falei em isenção e neutralidade o próprio professor me disse na frente dos alunos que ensina os seus alunos a serem militantes e teológicos para combaterem a opressão e não para serem neutros e isentos. Aí a pessoa já sai com essa cabeça achando que jornalismo é isso, e não é. Jornalismo é escravo do fato. Não pode nem ajudar o fato porque se não deforma o fato. Estou falando em reportagem, não opinião editorial ou comentários.
E a grande mídia do Brasil?
Eu acho que as grandes empresas ainda não conseguiram perceber nem distinguir o seu público. Eu vejo o jornal que assino aqui em Brasília, está fazendo jornal para quem não lê jornal, está fazendo jornal para jovem de 20 anos, botando banda de rock. Não está fazendo jornal para quem tem mais de 40 anos, não pegaram o público certo e não fizeram um abraço com a rede social para amarrar uma coisa com a outra para que a rede social turbine o jornal e o jornal não fique atrás da rede social porque o noticiário pelo celular chega na frente. Inclusive este é outro problema do jornalismo, na pressa de não receber o furo de dar na frente não está se conferindo para saber se é verdade ou não. Está dando em primeiríssima mão sem passar pela conferência para saber se é verdade. Recebe de uma fonte a informação, não checa se está sendo usado pela fonte e corre a frente. Isso não é de hoje. Os meios eletrônicos e impressos de jornalismo ainda estão patinando diante da novidade que se chama mundo digital rede social.
Com toda sua experiência no jornalismo, mediante a esta avalanche de notícias de corrupção e escândalos de políticos brasileiros, o senhor acredita que o Brasil ainda tem jeito?
Eu acho que a gente tem que perguntar se o brasileiro tem jeito. O Brasil em si é uma abstração, é um mapa, uma constituição. O Brasil é o brasileiro. Não é o Brasil que eu vou mudar, tem que mudar o brasileiro. Vamos ficar dando ‘jeitinho’, ficar passivos, achando graça de tudo, que futebol é mais importante que política, aí os políticos vão se aproveitar. Futebol é um belo circo para nos desviar. Eu lembro que quando deu aquele 7 a 1 da Alemanha eu disse ótimo agora as investigações vão ter caminhos e a Lava-Jato vai ter jeito. Porque se não a gente ia ficar fazendo festa e esquecer da corrupção. Então acho que nós brasileiros temos que dar um freio, temos que virar país sério e isso começa em casa.
O que o leitor da TRIBUNA pode esperar coluna de Alexandre Garcia.
Pode esperar o seguinte: eu faço uma avaliação para saber qual o fato mais importante da semana e que tenha importância no futuro, qual a consequência. Nesta semana, por exemplo estou falando da eleição na Argentina e suas consequências para o Brasil nessa bobagem de a gente achar que temos que ficar longe da Argentina. Não, a Argentina vai ficar ali na fronteira sempre, não vai sair até que o mundo acabe. Então a gente tem que considerar isso. Pode esperar que em 40 linhas, não vou tomar muito tempo de ninguém, eu jamais vou passar de 40 linhas, vou fazer uma linguagem simples e clara.