“O agro está ‘carregando’ o País”, diz Ágide Meneguette em encontro em Campo Mourão
Aproximadamente 250 produtores e produtoras rurais participaram na manhã desta quinta-feira (9) de um encontro de formação de liderança rural, no Mourão Garden Eventos, em Campo Mourão. Com o tema, “Liderança rural: cultivando conexões”, o evento foi promovido pelo Sistema Faep/Senar-PR em parceria com o Sebrae e Sindicato Rural de Campo Mourão. Em todo o Paraná serão realizados 10 encontros em diversas regiões.
O objetivo foi informar as lideranças agropecuárias da região e prepará-las para um setor cada vez mais competitivo. O presidente do Sistema Faep, Ágide Meneguette, participou do encontro, que reuniu também o deputado estadual Marcio Nunes além de lideranças rurais de vários municípios da região.
Durante o evento, Meneguette falou sobre a força do agro no Brasil e no Paraná. “Tenho certeza que nós [o agro] estamos ‘carregando’ o País. Já vínhamos com essa missão muito antes da pandemia que agora ficou ainda mais evidente. Graças ao nosso produtor o Brasil vem ‘tocando o barco’”, afirmou.
O líder rural e sindical, comentou também sobre o novo momento que o agro vêm vivendo com a implantação de energias renováveis, que aumentarão a eficiência nas propriedades, reduzindo custos ao produtor e ao mesmo tempo aumentando sua renda. Falou também sobre a polêmica de renovação do pedágio, os avanços no agro com a implantação do Novo Código Florestal que completou 10 anos, entre outros assuntos. Leia a entrevista completa abaixo.
Tribuna do Interior- O que é o projeto de liderança rural?
Ágide Meneguette – Temos que informar nossas lideranças. Hoje em dia o mundo está muito competitivo, então temos que ocupar os nossos espaços, tanto setor rural como setor urbano. E neste processo a sociedade organizada tem que se organizar para ser respeitada. E estamos justamente começando um trabalho que começou em Pato Branco, passou por Cascavel, hoje estamos aqui e vamos prosseguir em outros municípios. O que queremos é realmente chamar a atenção dos nossos produtores de que a participação de todos é importante. Evidentemente estamos também colocando à disposição todo o portfólio de treinamento que o Senar tem à disposição dos produtores rurais e das novas lideranças para que elas tenham oportunidade até se especializar se for necessário. Tenho certeza que o mundo que vivemos a guerra do conhecimento sempre vai existir e quem tiver mais conhecimento estará melhor preparado.
Qual o papel dos Sindicatos Rurais nos municípios neste processo de formação de líderes rurais?
Os Sindicatos Rurais são nosso ‘braço’ a nível de município que tem o poder de ajudar a fazer as mobilizações para os treinamentos do Senar. Evidentemente que se não tivermos o sistema sindical e sindicatos fortes não teremos uma federação forte e nem uma CNA (Confederação Nacional da Agricultura) forte. Então a nossa base é o sindicato para fortalecer o setor.
O Paraná comemorou em maio um ano como área livre da febre aftosa sem vacinação. Como o senhor avalia este feito?
O Estado está ganhando com isso. E o produtor passou a ter uma remuneração melhor. É só pegar a série histórica. Nos anos 80, uma arroba de boi custava de 18 a 22 dólares. E hoje, se você pegar o preço de ontem, elevamos este valor para quase 60 dólares. Então são 40 dólares a mais que o produtor está recebendo por arroba. Além disso, estamos abrindo mercados internacionais com isso e não só apenas na pecuária de corte. A avicultura está crescendo, assim como a suinocultura e a piscicultura. E o país perante o mundo, e nós o Paraná, estamos com selo que somos um Estado que atende todas as exigências sanitárias e ambientais.
A Faep criou uma Comissão Estadual das Mulheres do Agro. Como o senhor avalia a mobilização delas?
Está crescendo cada vez mais. A comissão tem um planejamento feito por elas. Senar e Faep estão dando suporte técnico para elas. Hoje já temos mais de 40 comissões de mulheres e mais de 1.200 mulheres participando nos sindicatos que foram criadas as comissões municipais. Tenho certeza que a maioria do Estado vai ter as comissões de mulheres que farão um trabalho muito grande na preparação das novas gerações do que é o sistema e como temos que fortalecer nossa representação para que possamos ser um setor respeitado por toda sociedade.
Importante esta saída delas do anonimato?
Sim. O importante também não é só participar, mas sim fazer o que elas estão fazendo, que é buscar mais conhecimento sobre liderança, empreendedorismo, enfim, se ‘municiando’ para tornar um agro mais forte.
Em maio deste ano completou 10 anos de vigor do novo Código Florestal Brasileiro. Na prática como está para o produtor hoje?
Trabalhamos no Paraná inteiro mobilizando mais de 26 mil produtores e organizamos a ida a Brasília. Mais de 4 mil produtores do Paraná estiveram lá. O novo Código Florestal deu avanços principalmente no nosso Estado que predomina a pequena e média propriedade. O Novo Código Florestal foi uma vitória imensa do setor rural, que precisava de segurança jurídica para continuar produzindo em consonância com o meio ambiente. Nós tínhamos clareza do que estava em jogo, por isso participamos dessa mobilização como protagonistas. Não medimos esforços para sensibilizar o Congresso da necessidade da aprovação. Depois, investimos em capacitação de técnicos, produtores, sindicatos e cooperativas. Agora, precisamos que os mecanismos que ainda não saíram do papel sejam, de fato, implementados.
Entre os pontos da Legislação, qual o senhor destaca como sendo os mais importantes?
Um dos pontos importantes foi manter em 20% os índices de Reserva Legal dentro dos imóveis rurais. O Novo Código Florestal trouxe um benefício ao pequeno produtor. Os imóveis rurais com até quatro módulos fiscais (72 hectares) ficaram desobrigados de recompor as reservas legais, valendo o percentual de mata nativa que existia na propriedade em julho de 2008. Ou seja, os pequenos produtores, que até essa data mantinham vegetação originária em dimensões inferiores a 20% da área total, passaram apenas a ter que manter esse índice. Essa consolidação provocou um impacto positivo ao Paraná, que na época da sanção do Novo Código tinha 92% de seus imóveis rurais com até quatro módulos fiscais. Se eu tivesse que chegar nos 20% da Reserva Legal, perderia uma área importante que já era produtiva. Teríamos um reflexo enorme não só dentro da propriedade, mas para a economia dos pequenos municípios, sustentados pela agropecuária. O Paraná iria perder uma importante área produtiva.
Hoje o Paraná vem incentivando a energia auto sustentável (solar). Isso vai gerar um ‘novo momento’ para o setor agrícola produtivo?
Tenho certeza que sim. Isso é muito importante. Sabemos que nossos recursos hídricos já estão praticamente esgotados. E temos alternativas que ambientalmente são mais aceitas, que é a energia solar e do biogás. E estamos caminhando bem. Temos um caso específico na região de Campo Mourão onde a Coamo foi uma das primeiras a estimular os cooperados a entrar com energia solar. O produtor tendo a sua própria energia vai reduzir o seu custo consequentemente aumentando sua renda. Vai sobreviver aquele que tiver produtividade, eficiência e produzir no menor custo possível.
A Faep lançou em abril o Agrinho 2022. Qual a importância deste projeto para as escolas e os estudantes?
Nos dois últimos dois anos, respeitando as normas da Covid-19 não foi feito presencialmente. Mas foi feito online. Este ano vai ter uma participação muito grande. Todas as escolas estaduais estão participando. Qual o ganho disso? É levar informação à nova geração que está vindo aí. Informações do campo, informações que ajudam na formação dele como um bom profissional, como um bom homem, antenado na sociedade. Dá a ele uma noção que atrás daquela caixinha de leite que ele consome todos os dias, por exemplo, tem uma vaca e um produtor trabalhando e produzindo alimentos.
Uma questão bastante grave não só na região de Campo Mourão, mas em todo o Estado é a insegurança no campo. Bandidos têm agido tirando o sossego dos produtores. Como a Faep vê esta situação?
Isso nos preocupa e muito. No Paraná temos estimulado há vários anos que os produtores rurais, nos pequenos municípios, têm de criar os seus conselhos comunitários de segurança e se prevenirem estrategicamente. Temos municípios no Paraná hoje que todas as estradas rurais são monitoradas com câmeras. Mas para isso a comunidade tem que participar. E através do conselho de segurança, onde já está implantado, está funcionando muito bem.
A Faep tem cobrado o Governo do Estado sobre esta situação?
Sim, temos cobrado e apresentado sugestões para aprimorar esta questão para que os produtores possam continuar trabalhando produzindo com tranquilidade.
O senhor visitou ontem a Coamo. Qual sua visão sobre a cooperativa?
A Coamo é uma verdadeira cooperativa que sempre está na frente buscando tecnologias. Ontem [quarta-feira] estive com o presidente [José Aroldo Gallassini], ele disse que hoje [quinta-feira] tem 500 produtores de Mato Grosso do Sul visitando o centro de pesquisa [Fazenda Experimental] para avaliarem as tecnologias de produção na área de plantio e máquinas para melhorar sua eficiência na propriedade. A Coamo está fazendo um grande trabalho. É uma universidade a céu aberto. Não é atoa que é a maior cooperativa da América do Sul. E isso é muito importante para o produtor porque sozinho fica difícil produzir.
O Brasil já vivia uma recessão econômica que se agravou com a pandemia da Covid-19. Mas o agro se manteve forte. Dá para afirmar que ele ‘carregou’ o País durante a pandemia?
Tenho certeza que carregamos o País. Tivemos também a participação ativa das autoridades que nos garantiram a parte de seguranças nas rodovias. E o nosso produtor produziu ‘tocando o barco’. O mercado internacional também nos ajudou com os bons preços gerando mais renda e riquezas circulando no Brasil pelo agro.
Em relação ao pedágio, estamos próximos de uma nova concessão de mais 30 anos. Qual a expectativa e como o senhor avalia este modelo que será implementado.
O modelo passado não critica muito porque quando foi implantado o pedágio a inflação estava 60 até 80% ao mês. Na época, com a constituição de 88, as taxas que tinham de conservação das rodovias foram extintas. Então o governo fez o que tinha em mãos. Conceder para a iniciativa privada e ela fazer a operação. Evidente que teve dificuldade e desvios, mas este é um problema para a polícia resolver. Eu acho que nossos governos federal e estadual não têm recursos para manter as rodovias, então vai ter que ter as concessões. É uma necessidade. Nos países Europeus a concessão é uma coisa rotineira.