O sorriso de Rachel e a esperança de Mateus
Dias desses uma foto postada nas redes sociais revelou o maior sentimento humano: o amor. Separados por uma das tantas janelas da Santa Casa de Campo Mourão, Rachel, de 83, e o marido Mateus, 85, foram as personagens das boas novas: a Covid está sendo vencida. Distantes por dez dias, ele não podia vê-la. A esposa havia contraído o coronavírus e permaneceu isolada. Mas a saudade ardeu no peito dos dois. E o jeito encontrado foi uma visita, mesmo com um vidro os separando. A foto fala por si.
Casados há 67 anos, os dois vivem no sítio, no Alto Alegre. Eles jamais haviam permanecido longe um do outro, por tanto tempo. E mesmo com a doença, arrumaram uma maneira de se verem. O sorriso de Rachel dispensa comentários. “Eu estava com muita saudade dela. É minha companheira. Nunca tinha ficado tanto tempo longe”, revelou Mateus. Por sua vez, a “moça” do lindo sorriso, afirmou o mesmo sentimento. “Foi difícil ficar sem ele”.
Jamais se viu tanta paixão num casal. Ainda mais, casados há quase sete décadas. O desejo em se verem, chamou a atenção até da família. No dia do encontro, Maicon, o neto, estava junto. Ele é o autor da foto. Teve a sensibilidade para eternizar a cena. Então pelo lado externo da Santa Casa, promoveram a visita. Rachel não se conteve, e emendou um baita sorriso. Do lado de fora, Mateus desejou abraçá-la. Mas era impossível.
A esposa, que já havia tomado as duas doses do imunizante, teve poucos sintomas da Covid. Na verdade, apenas uma fraqueza e alguns espirros. Preocupada, a família a levou para exames. Pronto. Havia sido contatada a presença do vírus. Um detalhamento mostrou que 50% do pulmão havia sido comprometido pela infecção. A partir daí, todos passaram a temer o pior. Mas Rachel venceu a doença. Não só teve alta como retornou ao seu cotidiano. Vida que segue. Desde que retornou para casa, Rachel e o marido são um grude só. Os dois se amam como nunca. E sempre estão rodeados pela família.
Mateus conta que os dois nasceram em Conselheiro Pena, nas Minas Gerais. Frequentavam o culto quando começaram a trocar olhares. Foi paixão à primeira vista. Filhos de lavradores, também passaram a viver no mesmo ramo. Tiveram dez filhos e vieram ao Paraná, em Assis Chateaubriand, na década de 60. Já, nos anos 70, desembarcaram de vez nas terras vermelhas de Campo Mourão. Nunca mais saíram.
Uma das filhas, Lenir, conta que o casal sempre foi apaixonado. Viveram juntos desde a adolescência, quando se casaram em 29 de setembro de 54. “Meu pai é muito ativo até hoje. Não para quieto. No sítio faz de tudo”, disse. Na verdade, o sujeito parece ter uma espécie de “fogo no rabo”. Para Rachel, ele tem formiga na bunda. Há alguns anos, colocando fogo a folhas e lixo na propriedade, foi vítima de uma explosão. “Existia algum recipiente que explodiu em meio ao fogo”, disse. Teve queimaduras em quase todo o rosto. Mas, inquieto, foi só se recuperar para continuar as “travessuras”.
Ao contrário do companheiro, Rachel é quieta. O avanço da idade não permite que seja tão ativa. Mas isso não a impede de nada. Muito menos, de continuar amando o marido. Quietinha e vaidosa, recebeu a reportagem arrumada, pronta a contar a própria história. Embora não tenha falado, ela passou maus bocados no hospital. Sozinha – uma das consequências da doença -, chorou por uma noite inteira. Mas agora tudo está de volta aos eixos. Nos próximos dias Rachel voltará ao sítio. Por estes dias ela continua na cidade, na casa de uma das filhas. Enquanto isso, Mateus já mais uma vez sorridente, retornou à propriedade. Enquanto aguarda a companheira, vai aprontando suas “traquinagens”. Mais uma fogueira pra queimar o lixo.