Pandemia mudou drasticamente os rituais e até tradição das igrejas

Assim como os demais segmentos da sociedade, o religioso também foi drasticamente afetado por conta das normas exigidas no enfrentamento da pandemia de Coronavírus. Além de não poder contar com a presença maciça dos fieis nas celebrações, tanto a igreja católica quanto evangélicas tiveram que adaptar os rituais, as formações, o que tem afetado até a própria tradição religiosa.

“Todos estão sofrendo com fechamentos de igrejas, toque de recolher e restrição de participação presencial. Além de missas mais curtas, celebrações de batizados tem que ser apenas um por vez. Antes fazíamos vários em uma mesma cerimônia. E agora as famílias também não conseguem acompanhar momentos importantes, como casamento, porque nem tudo é possível ser feito de forma virtual”, analisa o padre Adilson Naruishi, da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Para os pastores evangélicos, lidar com a situação também tem sido um desafio espinhoso. “A igreja é uma instituição que congrega pessoas, que se reúne em comunhão. O culto é parte muito importante da nossa tradição, onde temos a oportunidade de orar, dar suporte uns aos outros, o consolo, o companheirismo. Isso tudo acontece pela partilha e foi suprimido com a pandemia. É um choque quando não temos mais essa oportunidade de estarmos reunidos no mesmo espaço”, disse Fábio Firbida, presidente da Ordem dos Pastores Evangélicos (Opecam).

O padre Adilson ressalta que além de restritos, os atendimentos presenciais têm que ser agendados para que as pessoas não fiquem aglomeradas na sala de espera da secretaria paroquial. “Foi preciso mudar o formato da catequese, os encontros de pastorais, horários de missas. Estamos nos adaptando também para receber a oferta dos fieis e doações de alimentos. A vida pastoral da igreja, que era intensa, toda ela mudou”, lamentou o padre. 

Segundo ele, aumentou o número de pessoas doentes que pedem a visita de um padre, bem como famílias enlutadas que recorrem aos religiosos para orar pelos falecidos. “Já estamos indo direto no Cemitério dar a bênção, às vezes na porta do Prever, nem chegamos a entrar. Já cogitaram até levar defunto na porta da igreja para receber a bênção”, acrescenta.

Festas religiosas

As festividades católicas, como do padroeiro ou juninos, também sofreram mudanças.  Até mesmo as novenas não têm sido feitas nas paróquias. Neste domingo (13), por exemplo, é Dia de Santo Antonio, conhecido pelos católicos como o santo casamenteiro. 

Na região, Santo Antonio é o padroeiro das cidades de Araruna e Farol. E pelo segundo ano consecutivo, a data será marcada apenas por celebrações religiosas (tríduo), sem quermesse ou bingo, como era feito em anos anteriores. Essas festividades também eram oportunidades para a confraternização da comunidade e a arrecadação ajudava na manutenção das paróquias.

Na paróquia do padre Adilson, também teve mudança para a comemoração da padroeira, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, dia 27 de junho. “A gente havia programado novenas e também uma feijoada drive thru. Mas infelizmente pelo horário do toque de recolher e pela gravidade da situação achamos por bem adiarmos e organizar as festividades de outra maneira”, comentou o padre. 

Evangélicos

O pastor Fábio ressalta que as igrejas evangélicas realizam muitos trabalhos de orientação às famílias, como congressos, encontros, evangelização das crianças, retiros e acampamentos. “Todos deixaram de acontecer e o caráter de ensino da igreja ficou comprometido”, observa.

Ele acrescenta que poucas igrejas evangélicas têm uma estrutura para transmissões online a contento. “Na dificuldade de equipamentos, de pessoas capacitadas para trabalhar com tecnologia, muitas acabam não fazendo essas transmissões”, revela o pastor, ao lembrar que a situação também tem afetado o estado emocional dos pastores, pois todos continuam trabalhando. 

A exigência de redução no número de pessoas nas igrejas comprometeu também a arrecadação financeira para manutenção dos trabalhos. “As igrejas pequenas não têm canais de contribuição muito bem divulgadas. Além disso, pessoas mais simples ainda não têm o hábito de fazer doação por transferência bancária”, completa o pastor.