Pesquisa analisa dieta de povos antigos a partir de crânios de mais de 2 mil anos
Uma pesquisa da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Campo Mourão, em parceria com dois dentistas do município e o Museu Paranaense, está propondo um estudo acerca da dieta de povos que habitavam no litoral do estado há mais de 2 mil anos.
O trabalho está utilizando os silicofitólitos, que são pequenos grãos de sílica presentes em vários grupos de plantas, aderidos ao cálculo dentário (tártaro). “A gente está extraindo o cálculo dentário para saber a dieta desses povos”, explicou o professor doutor Mauro Parolin. O docente da Unespar de Campo Mourão está participando da pesquisa atuando sobretudo na extração do material e na preparação e identificação das amostras.
O estudo também conta com a parceria da arqueóloga do Museu Paranaense, professora doutora Claudia Inês Parellada, e do doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Comparada da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Luan Maler de Oliveira. Tem, ainda, a colaboração dos odontólogos Marcos Antônio dos Santos e Max Willian dos Santos, ambos de Campo Mourão.
De acordo com Parolin, a partir dos silicofitólitos, é possível identificar a família botânica e, em alguns casos, até a espécie da planta presente nos tártaros. Além dos fitólitos, também pode ser feita a avaliação dos grãos de amido presentes no tártaro dentário, conforme acrescentou o docente.
Coleta do material analisado no estudo
O material que a equipe está trabalhando trata-se de crânios recuperados de sepultamento em sambaquis. Parolin elucidou que esses são locais caracterizados pelo acúmulo planejado de restos de conchas e peixes, plantas, artefatos, restos de combustão, entre outros, e que também são usados como cemitérios e/ou locais cerimoniais.
A pesquisa avaliará, ao todo, aproximadamente 12 maxilares, sendo a maioria do litoral paranaense. Porém também analisará materiais de sepultamento recuperados de sítios arqueológicos do interior do Paraná, como Prudentópolis e Guaporema.
Procedimentos: da extração à análise e identificação do material
A análise do material é um trabalho multidisciplinar complexo, mas que pode ser resumida, de modo geral, a partir de três procedimentos, conforme apresentou o professor. Primeiramente, os tártaros dentários são extraídos no Museu Paranaense. Em seguida, o material é trazido à Unespar de Campo Mourão e encaminhado ao Lepafe.
No local, são extraídos os silicofitólitos e o amido, mediante tratamento químico. Ainda no laboratório, as formas dos silicofitólitos e dos amidos são comparadas e analisadas, com auxílio de microscópio, para que seja possível identificar a qual tipo de planta cada forma pode ser correlacionada.
Para que todo o processo seja realizado adequadamente, os pesquisadores também recebem auxílio na orientação dos dentistas quanto aos procedimentos, bem como na identificação e na descrição dos maxilares e apoio técnico.
Parolin informou que, até o momento, foram identificados o uso de frutas, como cajá, araticum, amidos pertencentes a caules e rizomas, além de coquinhos, por exemplo, o butiá. “A pesquisa demonstra muita complexidade. Embora não seja algo inédito na área arqueológica, as publicações utilizando-se desse tipo de análise não são abundantes”, ressaltou o pesquisador.
Para divulgar cientificamente os primeiros resultados da pesquisa, o estudo será apresentado em um congresso na Argentina ainda no segundo semestre deste ano.