Poder público tenta resolver situação de aposentada “acumuladora”

O Poder Judiciário e a prefeitura de Campo Mourão estão tentando resolver a situação da uma mulher aposentada (cerca de 75 anos) que mora sozinha em uma residência na Perimetral Tancredo Neves. Apesar de lúcida, por ter perdido três filhos de forma trágica, ela se tornou “acumuladora”. A casa foi transformada num verdadeiro depósito de todo tipo de material, desde objetos recicláveis, móveis velhos e até lixo acumulados desde o portão de entrada. 

No ano passado, a Vigilância Sanitária e Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente limparam o quintal, de onde foram retirados dois caminhões de “tranqueiras”. No local os agentes de endemias encontraram vários focos de dengue. Em menos de um ano, a situação do imóvel está ainda pior, o que gera um problema de saúde pública para o município. O Poder Judiciário já determinou que a prefeitura faça a limpeza, porém, desta vez há alguns impedimentos. 

Uma assistente social que acompanha a situação de perto (e pediu para não ser identificada), disse que esta semana foi realizado um estudo de caso do problema. “Há dois processos envolvendo o caso dela: um de interdição e outro de despejo. Por falta de pagamento de IPTU e outros impostos o imóvel foi leiloado. Como tem outro dono, para fazer a limpeza temos que ter autorização judicial, caso contrário caracteriza invasão de propriedade”, explica a assistente.

Ela ressalta que a mulher é acompanhada pela Secretaria de Saúde e também pela Assistência Social. “Ela mora sozinha, é lúcida e não quer ir para um asilo. E ninguém pode forçá-la, já que não há nenhum laudo que ateste doença mental”, esclarece a servidora, ao acrescentar que além da aposentadoria ela tem outra fonte de renda deixada pelo marido falecido.

As assistentes sociais descobriram que a mulher teve dois filhos assassinados e um morto em acidente. Depois ainda perdeu o marido, vítima de doença. “No início ela nos recebia com agressividade. Aos poucos estamos tentando conquistá-la para poder ajudar sem causar mais traumas”, argumenta a assistente.

Segundo a Vigilância Sanitária, assim como ele existem mais de 10 pessoas acumuladoras na cidade e que geralmente causam o mesmo tipo de problema. 

Doença

Especialistas do comportamento humano dizem que os acumuladores compulsivos são pessoas que têm uma grande dificuldade em descartar ou deixar seus pertences, mesmo que já não tenham qualquer utilidade. “Geralmente isso está associado a algum trauma em relação a perdas que faz com que a pessoa crie outras formas de suprir. Por não saber lidar com as perdas vai tentando encontrar respostas em objetos, ao ponto de se apegar”, explica o psicólogo e professor Frank Duarte.

O acumulador, segundo ele, encontra significado nas coisas que acumula, criando sentimentos de carinho e afeto. “Jogar fora esse objeto é viver outra dor. Eles não conseguem ver o lado ruim e nos casos mais graves acaba gerando até mesmo problema de saúde pública”, acrescenta. O tratamento para essa doença, segundo ele, envolve terapia e medicação.