Praça levará nome de Jorge Fernandes de Moraes, o cara do Bar Aparecida

Após 12 anos de sua morte, o pioneiro Jorge Fernandes de Moraes terá uma praça com seu nome. A homenagem foi proposta pelo Poder Legislativo de Campo Mourão e sancionada pelo município, em abril. O espaço está localizado próximo ao aeroporto local. Pioneiro das terras vermelhas de Campo Mourão, “seo” Jorge nasceu em 23 de abril de 1927, em Siqueira Campos, norte do estado. Por lá trabalhou e depois se casou com Clarinda Aparecida de Jesus Moraes. Mas quis o destino que sua jornada perdurasse mesmo, na poeira do Centro-Oeste paranaense.

“Jorjão” como era chamado pelos amigos, chegou ainda quando a cidade se resumia a algumas ruas, todas sem pavimento. Ao lado da esposa, teve seis filhos. Um deles era Martinho, o Doutor Martinho, falecido já há alguns anos. Em Campo Mourão, abriu um bar na Avenida Capitão Índio Bandeira. Era o Bar Aparecida, um estabelecimento comercial que perdurou por mais de 35 anos.

Trabalhando por quase toda a vida atrás do balcão do bar, “seo” Jorge conseguiu formar os seis filhos. O dinheiro para os estudos saíram de moedas pagas com uma simples dose de pinga, ou de refeições através do que ele mesmo se referia como “zambau”. Muita gente passou por ali, desde pessoas comuns a políticos. Os presidentes Fernando Henrique Cardoso e João Batista Figueiredo tomaram um cafezinho servido por ele.

As histórias do Aparecida são inúmeras. Jorge contava que, entre as décadas de 40 e 50, os caminhões com madeira se reuniam em frente ao bar. Carregados, os motoristas se alimentavam para depois, encarar uma viagem até Brasília. “Muita madeira de Campo Mourão foi utilizada na construção da capital do Brasil”, lembrou ele durante uma entrevista.

Como o movimento do bar era intenso, por um tempo, passou a funcionar 24 horas. Isso na década de 60. Tanto é que num determinado momento, “seo” Jorge decidiu retirar as portas do estabelecimento. “Elas não serviam pra nada. Então eu tirei elas”, disse. Numa outra ocasião, mais precisamente, na chuva de granizo de 1971, o Aparecida teve o teto completamente devastado. Mas nem por isso foi impedido de funcionar. Com guarda-chuvas, Jorge passou a atender todos os seus clientes. A cena era hilária. Clientes e o próprio dono do bar de guarda chuvas sob o teto rasgado pelo granizo.

O Bar fechou as portas em 2002. Mas suas histórias não ficaram aprisionadas com ele. Elas estão soltas ao vento, na memória dos amigos de Jorge. O Aparecida definitivamente marcou um tempo de desenvolvimento da cidade, registrando fatos e acontecimentos. Foi somente depois de baixar as portas que o agora “vô Jorge”, conseguiu botar as pernas pra cima. Naquele ano, já aposentado, parou de trabalhar, dedicando o restante de sua vida à família.

Ele também voltou o tempo em favor de sua saúde. Passou a caminhar intensamente. Mas também foi nesse mesmo período quando teve problemas de coração. Fez ponte de safena e colocou marcapasso. E tudo ia bem. Até seu corpo evidenciar as consequências do vício do cigarro, utilizado durante 40 anos. O organismo cobrou e Jorge não suportou. Internado por uma semana, lutou contra problemas pulmonares. E perdeu.

Morreu aos 85 anos de idade, em 20 de junho de 2012. Deixou o plano terrestre de forma tranquila, calmamente, como sempre foi. Em vida, adquiriu uma serenidade invejável. Deixou o stress no caminho, passando a viver num estilo zen. Jorge era mais que um simples cara. Era um marido, um pai, um avô, um bisavô, um amigo. Um homem extraordinariamente pacífico e, acima de tudo, honesto e íntegro. As lições deixadas por ele certamente semearão novos canteiros. Novas flores em uma praça ainda a ser construída.

Jorge morreu garoto. Um menino com cabelos grisalhos. Parecia uma criança teimosa. Sorria o tempo todo e fazia piada com as dificuldades da vida. E elas não foram poucas. Chamava suas netas de “bem”. Era um baita companheiro. Para ele não havia momentos ruins. Possivelmente, o seu pior momento foi a perda do filho Martinho. Muitos acharam que não iria suportar aquela dor. Porém, quando se viu, era ele quem apoiava os filhos. O homem era uma muralha.