Preço da carne de boi dispara em Campo Mourão e afeta consumidor
O preço da carne de boi teve um aumento entre 30% a 35% neste mês de novembro em Campo Mourão devido à baixa oferta no mercado com o aumento das exportações da proteína à China. Conforme levantamento feito pela TRIBUNA em alguns açougues da cidade, a costela bovina e a alcatra, cortes que estão entre os mais procurados pelo consumidor, aumentaram de R$ 13,99 e R$ 35,00 o quilo para R$ 20,00 e R$ 43,00 kg, respectivamente.
O consumidor já sente a alta dos preços no bolso e está buscando outras opções de carne, como frango e porco, por exemplo. “Como muitos consumidores estão migrando para a carne suína e de aves, estas proteínas também já estão tendo um aumento no seu valor no mercado”, observou o encarregado do açougue de um supermercado da cidade, que pediu para não ser identificado.
Segundo ele, devido ao aumento pela procura de proteína suína e de aves, estes tipos de carnes também já começaram a ter baixa oferta no mercado, contribuindo para elevação dos preços. “Ontem [terça-feira] fizemos a compra de mercadorias e a empresa que nos fornece se posicionou que vai lançar estes produtos aos poucos porque não tem no sistema e a tendência é faltar”, disse.
O sócio proprietário de um frigorífico de Campo mourão, Paulo Sérgio Santos, informou que no mês de novembro, a arroba do boi teve uma valorização de 30% na região em relação a outubro, aumentando em média de R$ 162,00 para R$ 220,00. “Este valor começou a aumentar do início de novembro para cá”, falou.
Além do aumento das exportações de carne bovina pelo Brasil ao mercado chinês, Santos citou também como motivo para a supervalorização da proteína, a seca dos últimos meses que afetou as pastagens. “Isso tudo reduziu a oferta do produto no mercado brasileiro, aumentando o preço da carne”, explicou. Ele comentou que não há expectativa de normalização dos preços. “Infelizmente o churrasco de Natal deverá ficar bem mais caro este ano”, falou.
No entanto, Santos observa que dificilmente os preços se manterão por muito tempo. Segundo ele, como a tendência é que o consumidor diminua o consumo, o preço tende a cair. “A carne chegando bem mais cara na mesa do consumidor, com certeza ele vai refugar”, falou, ao observar que o aumento do valor da carne suína e de frango também está contribuindo para sustentar o preço da carne de boi.
A valorização da carne está refletindo também no abate de bois no frigorífico. A planta reduziu em torno de 20% os abates. “É uma reação em cadeia, reduz a venda e cai automaticamente o abate no frigorífico. É uma coisa nova para a gente, faz tempo que estamos nesta lida e nunca aconteceu uma subida tão radical de preço. Fica difícil até ter o que fazer”, falou.
Ele acrescentou que há especulação de mercado de que a arroba do boi poderá chegar ainda até R$ 250,00 até o fim deste ano o que está fazendo com que muitos produtores segurem a venda do seu rebanho. “Tem produtor que tem gado de corte para venda, mas está segurando acreditando que os preços melhorem ainda mais”, falou.
Consumidor sofre
A valorização da proteína está fazendo o consumidor pesquisar mais na hora das compras e buscar promoções. Em alguns casos, muitos estão deixando de consumir a carne, comprando porco ou frango. É o caso da dona de casa Nilcéia de Paula Gonçalves. Ela diz que nem lembra mais a última vez que comeu carne de boi. “Com este preço impossível, migramos para a carne de porco, que também já não está tão barata”, falou. Devido ao momento, segundo ela, o jeito é variar a ‘mistura’. “Tem dias que no lugar da carne vai um ovinho frito mesmo”, comentou.
Quem também está sentindo dificuldades são os proprietários de restaurantes que vendem comida a preço popular em Campo Murão. A proprietária de um restaurante na área central da cidade, que preferiu não ser identificar, está substituindo o bife que era servido todos os dias aos clientes por bisteca de porco e frango frito. Em seu restaurante, o buffet livre custa R$ 9,00 por pessoa. “Com este preço se mantermos o bife de boi a nossa margem de lucro é zero. Por outros lado se mantermos e aumentarmos o valor da refeição o cliente não vem. O jeito é substituir o cardápio e manter o preço da refeição até a situação se normalizar”, disse.
Números
Dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) apontam o crescimento na exportação de carne brasileira de aproximadamente 27% entre setembro e outubro deste ano, passando de 145 para 185 mil toneladas.
No mesmo período do ano passado, o Brasil exportou 161 mil toneladas – 14% a menos que o quantitativo para 2019. Já em relação à quantidade exportada em janeiro deste ano, de 123 mil toneladas, o crescimento até outubro foi de mais de 50%.
A China aparece em primeiro lugar no ranking de países que mais compram a carne brasileira. O aumento de exportações para a China aconteceu porque o país foi atingido no final de 2018 pela peste africana — doença hemorrágica altamente contagiosa provocada por um vírus que só atinge porcos.
Para suprir o consumo dos chineses, só este ano, o país já importou do Brasil 318.918 toneladas de carne bovina, 184.393 toneladas de carne suína, 448.833 toneladas de carne de frango, em transações que totalizaram mais de U$ 3 bilhões, segundo estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro (Agrostat). Atualmente, há 100 estabelecimentos processadores de proteína animal no Brasil autorizados a exportar para a China.