Prorrogação do zoneamento é negado a produtores da região e clima fica ainda mais tenso no campo
“Ficamos de mãos atadas. O Ministério da Agricultura tinha que ouvir nós produtores e não dar preferência às seguradoras para suas decisões”. O desabafo, com tom de desespero, é do produtor rural Geraldo Camilo, da cidade de Boa Esperança, após negativa do Ministério da Agricultura para prorrogação do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para implantação da cultura do milho safrinha por mais 10 dias. O prazo final encerra na segunda-feira (28) em 13 cidades. Veja abaixo quais são elas. O produtor afirmou que para sua decisão, o Ministério se reuniu primeiro com representantes de seguradoras.
Camilo e mais quatro irmãos reservaram uma área de 300 alqueires para a cultura. Os 225 cobertos pelo seguro rural, disse que estão sendo obrigados a plantarem no solo ‘estorricado’ de seco para cumprirem o prazo do ZARC. Caso contrário, não tem garantia de seguro e Proagro. O restante, vai esperar a chegada das chuvas.
Com a prorrogação negada, assim como Camilo, os produtores rurais de outros 12 municípios da Comcam, onde encerra o zoneamento nesta segunda-feira (28), estão agora correndo contra o tempo para concluírem os trabalhos de plantio. Além de Boa Esperança, a situação ocorre também em Altamira do Paraná, Araruna, Campina da Lagoa, Mamborê, Nova Cantu, Peabiru, Campo Mourão, Corumbataí do Sul, Farol, Juranda, Luiziana e Roncador. Nos demais municípios o prazo encerra mais tardiamente.
A própria Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão (Comcam), representando os prefeitos e produtores destas 13 cidades tinha encaminhado ofício ao Ministério da Agricultura no início deste mês solicitando a prorrogação. O pedido foi estendido aos deputados federais Rubens Bueno e Ricardo Barros e também aos três senadores do Paraná, Álvaro Dias, Oriovisto Guimarães e Flavio Arns, para que intercedessem pelos produtores junto ao Governo Federal. Mas não adiantou.
Camilo comentou que quando foi criado o Zoneamento Agrícola, há cerca de 21 anos, de lá para cá a realidade é outra. Muita coisa mudou, conforme o produtor. Houve, por exemplo, o desenvolvimento de variedades e cultivares adaptadas ao clima. “Naquela época não tinha isso ainda. Temos um zoneamento ultrapassado em que somos obrigados a plantar o milho safrinha até o dia 28 de fevereiro. Há 10 anos estamos tentando mudar isso”, lamentou.
O agricultor, que tem mais de 40 anos de atividade disse que este está sendo o pior ano para o setor. Segundo ele, muitos produtores estão plantando a safrinha em condições desfavoráveis. Cheio de incertezas. Certeza mesmo só com os prejuízos que sengo Camilo, são certo. “Vai perder muito. Aqui na nossa região está ‘super’ seco. Tem alguma área que ainda tem chuva esparsa, mas muito irregular. Ontem [quinta-feira], por exemplo, tivemos só 5 milímetros de chuva. Este volume, pelo tanto que o solo está seco não será suficiente para a germinação e muitas sementes se perderão”, afirmou.
Camilo alertou que o prazo de zoneamento do milho vai encerrar com muitos produtores rurais com a soja ainda para colheita no campo. Segundo ele, como houve um grande volume de acionamento de seguro rural, os peritos não estão dando conta de atender todos os produtores a tempo. E sem perícia não há como colher. “As seguradoras não está conseguindo fazer a perícia. Com isso, em vez de ajudar, vai dar prejuízo para o produtor”, ressaltou.
Ele lembrou ainda que muitos produtores ficaram descapitalizados com as grandes perdas da safra de verão em decorrência com a estiagem. A quebra na região da Comcam ultrapassou 50%. Em sua propriedade por exemplo, a expectativa de produção que era de 160 a 170 sacas de soja por alqueire caiu para em média 65. “Mais um prejuízo atrás deste outro o produtor não aguenta”, alertou.
Desabastecimento de alimentos
O técnico agrícola do IDR-PR de Boa Esperança, Gilson Martins, que tem mais de 30 anos de profissão disse nunca ter presenciado uma situação como esta. Segundo ele, alguns produtores deverão até mesmo desistir de implantar o milho safrinha devido as incertezas e temor de mais prejuízos. “Os produtores ficaram sem para onde correr. Muitos nem vão plantar, outros estão partindo para o desespero. Estão tendo de plantar de qualquer jeito nem que perca tudo. Estão colocando a semente no solo sem chuva e com muita incerteza”, lamentou
Conforme o levantamento feito por Martins, utilizado pela Comcam como informações para embasar o ofício encaminhado ao Ministério da Agricultura, o pedido pelos prefeitos e produtores destas 13 cidades, era que a janela do ZARC fosse prorrogada por um período de pelo menos mais 10 dias, se estendendo até o dia 10 de março, dando mais tempo e segurança aos produtores para implantarem a safra.
“Seria extremamente importante abrir esta janela. Sem esta prorrogação, muitos produtores estão sendo obrigados a plantarem a safrinha (milho) tenha chuva ou não. Se não cumprirem o prazo, ficarão sem seguro e de fora do Proagro”, lamentou Martins, ao ressaltar que apesar de todo estudo técnico para o zoneamento, faltou bom senso do Ministério para atender a demanda dos produtores destes 13 municípios.
“Essa negativa vai refletir bastante economicamente. Com certeza, muitos terão perda de safra porque estão plantando sem qualquer condição favorável. Já estamos em situação delicada e não duvido que entraremos em uma crise sem precedentes, inclusive, de falta de abastecimento de alimentos. A região sul do país está perdendo com seca, e do sul para cima, onde há o Mato Grosso do Sul, por exemplo, segundo maior produtor de soja do Brasil, perdendo com as chuvas”, preocupou-se, ao informar ainda a frustração de safra também nos países vizinhos como Argentina e Paraguai com a estiagem prolongada.
Indignação
O presidente da Comcam, Leandro Cesar de Oliveira, prefeito de Araruna, disse que recebeu com indignação a resposta com a negativa do Ministério da Agricultura. “Houve um trabalho da Comcam junto com todos os prefeitos, houve trabalho frequente do deputado Rubens Bueno junto com outros deputados e senadores para que aumentasse esta janela de plantio. Mas infelizmente não fomos ouvidos. Nossos produtores terão que plantar sabendo que correrão riscos de perdas novamente”, lamentou.
Oliveira disse entender toda as especificações técnicas que levaram à implantação do ZARC. Porém, segundo ele, o momento é de deixar ‘isso’ de lado e atender os produtores. “Sempre atender os produtores. Eles são a prioridade. Eles são quem levam alimentos para a mesa de todos nós. Não interessa se o município está em um local mais alto, mais baixo, se tem mais chuva ou se é mais seco ou frio. Isso não deveria vir ao caso. O momento exige sensibilidade do Governo Federal. Esperávamos uma resposta positiva do Ministério da Agricultura para ajudar os produtores. O País vai sofrer com isso, o agricultor vai sofrer mais uma vez com perdas por conta da falta de sensibilidade de nossas autoridades”, desabafou, ao ressaltar que recebeu a notícia com ‘muita tristeza’. “Lutamos por eles. Mas faltou bom senso do outro lado [Ministério da Agricultura]”, emendou Oliveira.