Réu confesso e sentenciado a 14 anos de cadeia, Hilderson Sambati apelará em liberdade, conforme as leis brasileiras

Submetido a um júri popular, durante todo o dia de hoje, o agricultor Hilderson Sambati foi condenado a 14 anos e oito meses de prisão pela morte de Silvio Ribeiro da Silva, ainda em 2016. Mas, mesmo sendo réu confesso e os jurados entendendo se tratar de um crime passional, Sambati não foi preso. Saiu em liberdade, contando com o seu direito constitucional em apelar através de recursos judiciais. Conforme as leis brasileiras.

Há quase oito anos – 21 de abril de 2016,  motivado por ciúmes da ex companheira, com quem se relacionou por mais de três anos, ele se escondeu atrás de uma árvore, no Jardim Parigot de Souza, e aguardou Silvio deixar a casa da namorada, a sua ex. Pelas costas, acertou dois disparos em Silvio, que morreu na hora. 

Durante o julgamento, a ex-namorada de Hilderson confirmou ter tido uma relação bastante conturbada com o acusado, inclusive, com violência física. Ela também relatou ter visto o agricultor portando uma arma. E que, próximo do dia do crime, vinha sendo “ameaçada” pelo ex. 

Silvio tinha uma vida tranquila. Divorciado e com dois filhos, vinha traçando os seus próprios objetivos. Não dependia de ninguém. Trabalhava há 26 anos no setor administrativo do Hospital Santa Casa de Campo Mourão. E, em plena liberdade, arrumou uma namorada. Mais adiante, com um bom relacionamento, passou a dormir na casa dela. Uma rotina diária. 

Mas, naquela manhã de 2016, Silvio não apareceu para trabalhar. Possivelmente, a única falta em mais de 20 anos de trabalho. Ao deixar a casa da namorada, não mais que alguns passos, na Avenida Parigot de Souza, acabou morto por disparos. O primeiro tiro veio pelas costas, direto na nuca. Caído, já praticamente sem vida, recebeu o segundo. Agora na cabeça, como uma espécie de execução. Um crime passional. Recheado de ódio e ciúme.

Na época, populares afirmaram terem visto um homem vestido de preto, utilizando uma motocicleta. Ele teria esperado a vítima chegar até a esquina e efetuado os disparos. A polícia constatou que o crime teve motivação passional e teria sido cometido pelo agricultor, e ex-namorado da mulher, Hildeson Sambati, também conhecido como Hildo. 

Silvio Ribeiro da Silva (foto), foi morto com dois tiros, um na nuca e outro na cabeça

Após o crime, ele fugiu. Mas dias depois, após deixar o flagrante, acabou se apresentando à polícia, quando teria confessado a autoria, em legítima defesa. Depois disso, saiu em liberdade, conforme as leis brasileiras.

Já são quase oito anos da morte de Silvio. Hildeson jamais foi preso. A família vitimada clama por justiça. Há quatro anos, em entrevista à TRIBUNA, a mãe de Silvio, Lourdes Onhibene da Silva, lamentou a morte do filho. “Queremos Justiça, isso não pode ficar impune. Um pedaço da família se foi com a morte dele. Uma parte do meu corpo parece que foi embora. A Justiça tem que fazer a parte dela”, clamou. A dor da mãe foi tamanha que ela não suportou tanta espera. Ela morreu há dois anos. E sem ver a justiça ser feita.

Motivação

Segundo as investigações da polícia, à época dos fatos, Hildeson não aceitava o fim do relacionamento com a mulher, a então namorada de Sílvio. E acabou perdendo a cabeça e, com ela, todas as demais razões. Familiares da vítima também revelaram que o mesmo vinha ameaçando Silvio há mais de uma semana antes do homicídio. A polícia encontrou a arma do crime dentro do guarda roupas, na casa de Hildeson.

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É um caso passional. Por questões de ciúmes depois do fim do relacionamento do casal, o autor dos tiros passou a acompanhar a rotina da ex-namorada. Inclusive, pulando o muro da casa dela. Também vinha passando em frente à casa da vítima de moto ou de caminhonete. Identificamos a moto usada no dia do crime e já temos a arma e munições que foram usadas no homicídio. Enfim, todas essas informações já estão no inquérito e as medidas necessárias foram tomadas”, disse na época, à imprensa, o delegado que conduzia o inquérito, Nagib Nassif Palma.

“Queremos justiça. Meu irmão foi covardemente assassinado. E o criminoso, réu confesso, até hoje não foi preso”, cobrou o mecânico industrial, Dionísio Ribeiro da Silva, irmão de Silvio. Segundo ele, a impunidade só aumenta o sofrimento da família. Dionísio reconheceu que a polícia fez a sua parte, identificando o autor do crime, elucidando também a causa do mesmo. “Eu quero que esse assassino pegue a pena máxima. Meu irmão era um homem bom demais. Nunca mereceu isso”, afirmou.

Silvio era o irmão do ‘meio’ de sete irmãos, quatro homens e três mulheres. Segundo Dionísio, ele deixou um filho tetraplégico que dependia dele para tudo. “O meu irmão hoje está enterrado. E o cara que o matou vive numa boa, curtindo a vida”, disse Dionísio. Silvio foi descrito por ele como uma pessoa especial.

“Todo mundo o conhecia na cidade, era uma excelente pessoa. Mas parece que estamos vivendo em um mundo de faroeste. O sujeito mata, foge, o advogado usa sua estratégia de esconder o réu. Depois ele aparece e fica respondendo pelo crime que praticou em liberdade, como se nada tivesse acontecido”, desabafou. Na época, Hildo confessou a autoria à polícia. Mas anos depois, em audiência à justiça, exerceu seu direito de ficar em silêncio.

Segundo o advogado do réu, Márcio Berbet, a defesa recorrerá da sentença. “Saímos tristes, principalmente, em decorrência da decisão ser contrária à prova dos autos”. Irmão da vítima, Dionísio revelou estar feliz com a condenação. “Ele deve ficar um ano solto ainda. Minha vontade é que ele saísse algemado. Infelizmente as leis brasileiras são assim”, afirmou.