Roseli Vonsowski, o agro é delas
Há tempos as mulheres vêm assumindo posições de liderança em muitas áreas. No agronegócio, por exemplo, elas deixaram de ser espectadoras de um segmento tradicionalmente masculino e se tornaram protagonistas. Conduzem com êxito os negócios, vêm ganhando destaque e consolidando cada vez mais seu espaço na atividade.
Um dos exemplos na região de Campo Mourão é a produtora rural Roseli Vonsowski, 62. Junto de seus outros cinco irmãos, ela protagoniza o dia a dia na propriedade da família, a famosa fazenda “Venda Branca”, no município de Peabiru. Ao longo dos anos os Vonsowski cresceram. Atualmente possuem 1.100 alqueires de terra, divididas em várias áreas, onde cerca de 70% é para cultivo de grãos e os outros 30% pastagem e reservas.
“Ser produtora rural e fazer parte do agro é um orgulho não só para mim, mas para todos da família. Para as mulheres principalmente porque elas conquistaram muito espaço dentro do agro”, falou ela, que é associada ao Sindicato Rural de Campo Mourão e cooperada da Coamo. Roseli é apenas uma das várias mulheres que protagonizam o dia a dia na propriedade. Ela foi escolhida pela TRIBUNA para esta reportagem especial em comemoração do Dia do Agricultor, celebrado nesta quinta-feira (28). Além dela, há outras duas irmãs envolvidas nos trabalhos da fazenda, mas elas cuidam da parte administrativa.
Roseli se orgulha em falar que participa de cada detalhe do processo produtivo junto dos demais irmãos sócios da propriedade. Ela relata que o amor pelo agro está no sangue. Tem influência dos pais, especialmente pela experiência mais trabalhosa do campo. “Minha infância foi na roça. Meu pai criou a gente tudo na fazenda. Sempre trabalhei desde muito cedo na capina da soja, colheitas, na mecanização das terras. Participamos de tudo no começo”, lembra.
A família Vonsowski tem em seu DNA a união e o amor pelo agro. Roseli lembra que tudo começou em 1959 quando seus pais Otávio (já falecido) e Juraci chegaram em Campo Mourão e compraram uma propriedade chamada “Venda Água Branca”, em Peabiru.
Ali foi o início do trabalho da família como produtores rurais, pois no mesmo lugar está localizada uma das propriedades da família. Inclusive, o antigo local das vendas, hoje é o escritório da fazenda. Com o tempo, o casal Vonsowski passou o legado aos seis filhos que atualmente administram os negócios da família.
“Hoje o pai não está mais presente, mas tudo que ele acreditou e iniciou está enraizado nas terras da fazenda. Meus pais eram muito trabalhadores. Estamos dando sequência ao que iniciaram e sempre será feito da maneira que meu pai vinha fazendo”, disse.
A produtora explica que na propriedade é desenvolvida a agricultura (produção de grãos) e gado de corte. Na parte da pecuária a propriedade tem um plantel com cerca de 1500 cabeças para cria e recria, entre vacas criadeiras, novilhos e bois. O gado é todo para corte. “Tem cruzamento genético e fazemos inseminação artificial”, falou, ao comentar que o trabalho é o que não falta, mas tudo feito com muito planejamento.
Avanços tecnológicos
Roseli é uma daquelas mulheres que não dizem não a desafios. Ela lembra que no começo da atividade, quando ainda não existia tanta tecnologia, pegava no ‘pesado’. Dirigia trator, fazia plantio e colhia se fosse preciso. Na época, recorda, já operou por diversas vezes um trator CBT da família no plantio. A plantadeira tinha ainda o sistema de arrasto por correntão para cobrir a semente com a terra.
“Antigamente, quando a gente era mais novo, pegávamos mais no pesado. Mas agora com a idade vamos deixando mais para os funcionários. Mas se necessário a gente sabe fazer o trabalho”, diz. A produtora comenta que atualmente o setor está bastante tecnológico. Tratores e colheitadeiras todos com cabines e ar condicionado, computadores de bordo, entre outros aparatos tecnológicos que facilitam o dia a dia do homem no campo e contribuem para o aumento da produtividade. “Comparado há alguns anos, hoje tudo está mais fácil”, observa.
Sexo frágil? Que nada
A produtora Roseli é um exemplo de que mulher, na verdade, não tem nada de sexo frágil. Pelo contrário. Ela é uma daquelas que se sobrepõem aos homens. Faça sol, faça chuva, no frio, no calor, lá está Roseli, dando duro nos trabalhos da propriedade da família. Não tem dia ruim para trabalhar.
Para ela, não existe um único desafio no agro. “Tudo que a gente faz no agro é um desafio. Dependemos do clima: sol e chuva para produzir. Se o tempo colabora a colheita é boa, se não, o jeito é esperar para a próxima. Então não existe um único desafio, mas a cada dia surge um novo”, diz.
Roseli, pontua no entanto, que talvez um dos maiores desafios no campo seja a manutenção da sucessão familiar na atividade agropecuária. “Este é um processo muito importante dentro da propriedade para dar continuidade a atividade. Da mesma maneira que nosso pai passou para nós, temos que passar para os nossos filhos e esperamos que eles passem para os nossos netos para continuidade”, comentou.
Ela destaca ainda o atual momento em que a mulher cada vez mais vem ganhando força e espaço no agro, deixando o anonimato para trás. “Este crescimento da participação da mulher na propriedade é uma coisa maravilhosa. A opinião da mulher é muito importante. Ela tem outra visão, enxerga as coisas de maneira. Muitas vezes vê coisas que o homem não vê”, resume.
Os anos recentes não foram só de ganho de produtividade e aumento do uso da tecnologia no campo. Ele também ficou mais feminino. Uma em cada três propriedades rurais do país tem mulheres ocupando funções de comando – há cinco anos, eram 10%. Quando não são as principais responsáveis pelas propriedades, elas atuam como administradoras, dividem as atividades com um familiar ou estão sendo preparadas para assumir essas funções.
Os dados são de uma pesquisa feita pela ABMRA (Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio) e antecedem o Censo Agropecuário, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que deve ficar pronto este ano. O levantamento foi feito ao longo de 2017, com 2.090 agricultores e 717 pecuaristas de 15 estados.
História da família Vonsowski
De acordo com reportagem publicada na “Revista Coamo”, quando chegou a Campo Mourão, em 1952, Otávio Vonsowski estava disposto a fazer história. Apesar da experiência com agricultura – cultivava batatas com a família na região de Male (Sul do Paraná). Vonsowski começou a nova vida trabalhando na cidade, como funcionário de um posto de combustível. Dois anos depois, durante uma visita a amigos no interior do município, surgiu uma ideia diante de uma conversa em tom de brincadeira para instalar um pequeno comércio de secos e molhados na localidade, situada no entroncamento entre Campo Mourão, Peabiru e Araruna.
Colocou a ideia no papel e o comércio foi bem aceito pelos moradores da região. Vonsowski trabalhava em parceria com um sócio. Em pouco tempo, os agricultores que residiam naquela região passaram a formar uma pequena comunidade denominando-a de “Venda Branca”. A razão do nome surgiu, naturalmente, já que a venda era toda pintada de branco, e ficava bem no meio da comunidade.
Com o lucro que obtinha dos negócios com secos e molhados, Vonsowski comprou seus primeiros dez alqueires de terra, onde plantava milho e arroz – principais culturas da região da época. Ao passar de 20 anos, novas áreas foram adquiridas e os dez alqueires se multiplicaram para oitenta. Em 1971, um ano após a fundação da Coamo, Vonsowski entregou sua primeira carga de trigo na cooperativa.
Hoje a realidade é outra, a famosa Venda Branca já não funciona mais. Parte dela é utilizada como escritório. A comunidade também se desenvolveu. Os Vonsowski cresceram. Atualmente, tanto na agricultura como na pecuária a família utiliza o que há de mais avançado na tecnologia. No cultivo da terra eles não abrem mão da rotação de culturas. Plantam soja e milho no verão e no inverno milho safrinha, triticale, aveia e trigo.