Roubado, morador decide fazer ‘justiça’ com as próprias mãos
2 de dezembro, quinta-feira, 21h. No Conjunto Mendes, periferia de Campo Mourão, um homem – aqui vamos chamá-lo de “Z” – é castigado por diversos golpes de chicote. Apanhou sem dó. Foram 53 chicotadas. Ele foi apontado como o responsável por, pelo menos, dois furtos à casa do agressor – que iremos nomeá-lo com “G”. Mas “G” preferiu não acionar a polícia. “Não adianta. A Polícia vem e prende. Mas no outro dia ele já está em liberdade”, disse. Pensando assim, o “furtado” decidiu fazer “justiça” com as próprias mãos. Moradores filmaram tudo e o vídeo acabou viralizando na Internet.
“G”, que atuou com uma espécie de “feitor”, disse que “Z” teria roubado latinhas, makita, furadeira, macaco hidráulico, chave de rodas, estepe, cobre, martelo e facão. “Tudo o que ele encontrou no meu quintal levou”, disse. Sentindo a falta dos objetos, decidiu olhar a câmera de segurança de uma mercearia, vizinha a sua casa. “Elas mostraram a cara de pau dele, vindo apanhar as coisas”, explicou.
Agora, sabendo de quem se tratava, esperou. E quando “Z” apareceu, o castigo surgiu como o vento. Então, no meio da rua e, em posse de um chicote rabo de tatu, enquanto desferia os golpes, “G” perguntava se “Z” iria roubar novamente. Durante a ação, um outro morador o chutou por duas vezes. “Muita gente lá queria ter ajudado a bater nele. Mas eu não deixei. Disse que aquilo era só comigo”, revelou.
Depois de muito bater, “G” mandou que “Z” fosse embora, direto para casa. E sem correr. Ainda assim, levou outras cinco chicotadas nas costas. Aquela foi a última vez que o rapaz foi visto nas redondezas.
“G” tem 28 anos. Trabalha com sucatas. Compra e depois as revende. Já trabalhou na construção civil. Foi chacreiro e garçom. Segundo ele, o pouco que têm, conquistou sem roubar. E por isso não teve pena de “Z”, a quem descreve como um ser sem piedade. De ninguém. “Ele chega de mansinho, com cara de coitado. Pede uma marmita ou um prato de comida. Enquanto come, observa o local. Mais tarde surge para levar o que pode. Vou chamar a polícia para um sujeito desse? Não tem lei pra esse tipo de gente, não”, disse. A reportagem tentou localizar “Z”, mas sem sucesso. “G” tem em mãos as imagens do flagrante em que diz ter sido roubado.
Mas, fazer justiça com as próprias mãos, segundo a polícia, não é o caminho a ser feito. Ao contrário, isso deve ser evitado. Para o Comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar de Campo Mourão, o Tenente Coronel Cleverson Vidal Veiga, a lei determina, neste caso, que isso se configura num crime de tortura e lesão corporal. “Ele está passível de ser preso e encaminhado para o devido processo legal”, explicou. De acordo com ele, o correto seria ter feito um boletim de ocorrência sobre os furtos, na Polícia Civil. Indicado o suposto autor. E deixar as investigações e possíveis penalidades à polícia judiciária.