À espera àspera

Quero ignorado, e calmo 
Por ignorado, e próprio 
Por calmo, encher meus dias 
De não querer mais deles. 
Aos que a riqueza toca 
O ouro irrita a pele. 
Aos que a fama bafeja 
Embacia-se a vida. 
Aos que a felicidade 
É sol, virá a noite. 
Mas ao que nada espera 
Tudo que vem é grato.

Fernando Pessoa

Sem que o dia não tenha começado para mim desejo que ele logo termine.

Espero o dia que virá.

Quis ontem o dia de hoje.

E no agora é ele que veio sem que eu pudesse esperar.

Entardece a tarde muda finita na luz do sol que perde o brilho.

À noite sem estrela é azul anil, oculta a lua. Anoitece tudo que é luz falece.

Se forem meus os meus dias, não os quero mais.

Foram eles bem mais para mim. E para mim se foram.

Os dias não me pertenceram, não vi se vivi por conta deles.

Dias são calendas gregas no calendário.

Contaram-se os dias, até o dia sem contar, adiado, há dia.

Ouço a ilusão, tudo é utópico. Ela diz com certeza: acontece o que crermos.

Logo ela, ilusão conselheira, respondo-a se deveria crer no que ela afirma.

Não sonhei em qualquer dia com qualquer dia. Utopia é crer em nada.

Antes que eu concluísse o que há pouco disse, a ilusão nem me olhou.

Ela, sem alterar a expressão, me ironiza por nunca eu ter sonhado:

Você recusou encarar o dia como se ele não fosse seu.

O dia, qualquer deles de toda a sua vida, seria seu!

Cada dia é um dia de espera. Um dia à espera do que for feito dele.

Mas você vê os dias passarem como se eles passassem sem existir.

A ilusão prossegue: Todo o dia é sempre o da busca. Agora tem um dia fatal… (Ela vislumbra o infinito, depois olha dentro dos meus olhos, sentencia):

Até que um dia o dia vem e te busca. Será o último dos teus dias.

Busca definitiva, do achado perdido para sempre.

Fases de Fazer Frases

Quanto a substantivo, mas escrito angustia, sem o acento agudo na letra u, (angústia, é o correto) tal erro me angustia (adjetivo) acentuada e agudamente.

Olhos, Vistos do Cotidiano

Foi tão grande o tempo até que eu finalmente encontrasse uma vaga para estacionar no centro de Campo Mourão que esqueci o que iria fazer. Sei lá quanto tempo levei para lembrar, mas via a esperança se evaporar de outros motoristas que, me vendo dentro do carro, imaginavam que eu estaria de saída.

Em mente a busca da vaga para estacionar, estacionada ficou vaga a mente, vagamente.

Reminiscências em Preto e Branco

A citação do poema logo abaixo do título desta Coluna é do poeta português Fernando Pessoa. E para homenagear o grande literato lusitano, a seguir outro poema, o autor é Álvaro Campos, o mais famoso heterônimo, o grande alter ego de Pessoa: Não sou nada./ Nunca serei nada/ Não posso querer ser nada./ À parte isso, tendo em mim todos os sonhos do mundo.