Caminhadas vermelhas, luz na nossa história

O idealismo é a virtude da inexperiência. A virtude não passa de tentação insuficiente;

Não é colocando o dever em primeiro lugar e o êxito em segundo, que se eleva o

 padrão da virtude? A virtude não é somente o alicerce da felicidade humana,

 mas também o do Estado. Dissimular: virtude de rei e de camareira.

 A virtude é mais  apreciada  se resplandecer num corpo belo. 

Emanuel Wertheimer

            Ainda que o essencial da história seja sempre e sobretudo o conteúdo dos acontecimentos, o registro dela constitui indispensável significado tangente ao conhecimento do passado para se tornar inspiração ou advertência ante ao que virá ou poderá ser edificando.

            Caminhadas Vermelhas é uma obra magnífica especialmente por tratar da nossa região, Centro-Oeste repleto de história política até então, –  se não inteiramente desconhecida – , não contava com o devido registro metódico e organizado. O livro é uma bem engendrada pesquisa da autora, professora Nelci Veiga Mello, em face da tese que aprofundou de dissertação ao concluir o mestrado em Linguística Aplicada, na Universidade Estadual de Maringá (2003), publicado com o respaldo institucional da FECILCAM – Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão. É bom que se diga não tratar-se de uma panfletagem de engajamento político-ideológico, aliás, infelizmente comum mesmo nos meios ditos acadêmicos.

            Caminhadas Vermelhas é o retrato sem retoques, ocultação ou artificialismo. Ele se caracteriza pela narrativa singular que mescla um texto que é acadêmico assim como acessível ao senso comum. A qualidade se mantém no mais elevado nível ao contar com riquíssimos depoimentos que tanto esclarecem, confirmam ou deixam mais claro determinados fatos, como também geram à reflexão crítica. A autora, primando sempre pela dedicação e honestidade intelectuais, verificou as fontes, checou informações e incluiu documentos balizares, tais como as notícias dadas pelos jornais, expedientes policiais ou da justiça.

            Os movimentos sociais em sentido amplo e das esquerdas em termos de partidos políticos são postos através dos muitos personagens, figuras conhecidas em Campo Mourão ou nas cidades onde também ocorreram tais acontecimentos, como Nova Cantu, Campina da Lagoa, Mamborê, Peabiru, Roncador, Ubiratã, precisamente no período entre 1956 a 1974. Personagens como o velho comunista Rui Ferreira com a avaliação das suas incursões, com a severidade que considerava oportuna ou com o seu lado irônico. Moacir Reis Ferraz, Milton Luiz Pereira, Augustinho Vecchi, Eliseu Simões Mendes, Silvino Lopes, Eleotério Galdino, Rubens Sartori, Mariazinha Ferreira, Renato Fernandes Silva, Lídio Gonçalves de Jesus, Vitório Sorothiuk, Dênis Borgio, Marcos, Osiris Boscardin Pinto (Cardini) entre muitos outros personagens importantes.

             A conjutura política a partir do golpe de 64 culminou no endurecimento do regime através da censura, perseguição, tortura, banimento, exílio, atingindo violentamente os que se opuseram à ditadura. Os esconderijos, mundanças de identidade são expostos em Caminhadas Vermelhas, bem como o recrudescimento do regime militar e a resistência através da luta libertária e idealista dos movimentos sociais permitem refletir o quanto pessoas perderam ou tiveram suas vidas multiladas. 

            Valem todas as perguntas que o livro propõe, expõe implicitamente ou não, como valem também as respostas, muitas claramente postas, outras os fatos impossibilitam conclusões precisas. Uma história que merece ser conhecida não por ser apenas a nossa história como região, e sim como um necessário e dinâmico contraponto à história oficial que só deixava tornar público o que lhe fosse conveniente, ao mesmo tempo que estiolava o que fosse contrário aos poderosos.

            A Escolinha do Povo fundada pelo movimento social, político e religioso foi banida em princípio fazendo parecer não integrar na história específica do hoje Colégio Estadual Oswaldo Cruz. Outro exemplo enfocado no livro de modo pertinente é a biografia do Moacir Reis Ferraz, de saudosa memória, que foi coletor estadual e compulsoriamente aposentado por ser militante comunista. Foi vereador mourãoense e teve que fugir para preservar a própria vida (assumiu o mandado pela legenda do PTB, uma vez que o PCB fora posto na cladestinidade). Nada foi encontrado de errado na sua conduta profissional como servidor público, pelo contrário, foi funcionário exemplar, competente e dedicado.

            A professora Nelci Veiga Mello contribui magistralmente para literatura e história da nossa terra espelhadas no referido livro, no bojo dos fatos então desconhecidos, Caminhadas Vermelhas é digno do reconhecimento e enaltecimento, fonte de consulta, análise, compreensão e inspiração concernentes ao movimento social no seu aspecto de ideário e luta política.                

Fases de Fazer Frases (I)

            O seguro morreu de velho, seguro que não era velho.

Fases de Fazer Frases (II)

            Quem procura a certeza em tudo, perde-se no caminho da dúvida.

Olhos, Vistos do Cotidiano

            A Tribuna, num grande trabalho de reportagem sobre A Semana da Pátria constatou que o Fórum de Campo Mourão não tinha hasteado as bandeiras. Mesmo após a reportagem a situação permaneceu. Será que a sede do Judiciário perdeu ou não tem bandeira?

Reminiscências em Preto e Branco (I)

            Em Caminhadas Vermelhas é bela e exemplar a amizade cultivada entre o ex-prefeito mourãoense Renato Fernandes Silva e Rui Ferreira, mesmo a despeito de um (ex-prefeito) católico fervoroso e temente a Deus e o outro (o Rui) ateu e comunista convicto. Sem dúvida uma lição de convivência democrática.

Reminiscências em Preto e Branco (II)

            Eu cedo quando é cedo a sede de ceder que me sedia.