Desembrulhar, brilhar

Afinal, há de que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e, uma vez

para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte.

Guimarães Rosa

São todos inesquecíveis domingos o Dia dos Pais. O senhor tinha a vantagem de ganhar mais que um presente e nós por sermos muitos irmãos (12!), reuníamos moedas para as   lembranças, (mãe Elza inteirava o dinheiro). Parabéns, pai! Era o coro a ecoar cedo no quarto dele.

Crianças são ansiosas quando presenteiam, desejam que logo os presentes sejam abertos, revelados e poder observar a reação do seu Eloy.

O Dia do meu pai, parecia que não terminaria nunca, a se arrastar no domingo.  Ele, após agradecer, sorrir, retribuir nossos abraços, então iniciava o desembrulho. Começava uma longa espera para nós. Meticulosamente desenlaçava, calmamente tirava a fita adesiva, o papel de embrulho, a tampa da caixa. Tudo pacientemente, não importa o pacote, cada desembrulho era com muito brilho, a incluir o dos olhos dele, da minha mãe, o nosso e o do sol, (não me recordo se existiu uma data com chuva).

A paciência do meu pai contrastava com a nossa impaciência. Agradecia tudo a todos enquanto carinhosamente punha de lado o desembrulho, enquanto contemplava carinhosamente os presentes, com cuidado e calma singulares. Outra demora era quando meu pai usaria os presentes. A mãe o lembraria, Eloy, quando vai calçar esta meia, usar o lenço, esta camisa, a gravata, estrear o canivete (…)?. A expressão dele: existiria a ocasião especial. Quando seria? O dia para ele em relação a nós foi sempre feito de todas as datas especiais.

Se fosse hoje e tendo aprendido apenas com o passar do tempo eu iria pacientemente apreciar a calma do pai. Me ensinou (ainda que não saiba plenamente), a paciência é virtude capaz de dissipar ou conter a aflição e contribui para a bonança (palavra que ele apreciava, comum no seu vocabulário culto somado com a fala simples que bem sabia empregá-lo).

A saudade dos pais não será inteiramente de tristeza pela ausência sempre sentida, o amor autêntico deles era apenas uma qualidade entre tantas. O domingo será bonança, vento e mar calmos; da ventura e tempo de prosperidade.

Fases de Fazer Frases (I)

Palavras rebuscadas são buscadas se rabiscadas.

Fases de Fazer Frases (II)

Consentir com o sentir sem sentir que consente.

Olhos, Vistos do Cotidiano

O promotor de Engenheiro Beltrão, (comarca que abrange Fênix e Quinta do Sol), recomenda aos candidatos que não façam qualquer campanha irregular. Ele cita ter sido comum noutros pleitos espalhar santinhos nos locais de votação é um absurdo o derrame, frisou José Pereira à Tribuna, quinta anterior. A propaganda prevê multa de dois a oito mil reais.

Dia da eleição não deveria ter propaganda. Triste admitir, será que a fiscalização conseguirá evitar inclusive santinhos do concorrente para incriminar adversários? Outro alvo, as gráficas que fazem material de propaganda. Sujeira é mais que emporcalhar com santinhos, mas é também.     

Reminiscências em Preto e Branco (I)

Se o perto não é tanto, o nada não é longe.

Reminiscências em Preto e Branco (II)

O sopro do tempo, não leva a vela elevada, a velar. Ele leva a luz que apaga sem pegá-la.

Reminiscências em Preto e Branco (III)

Referência positiva do Brasil em todo o mundo, imagem médica sem plástica. Muitas rugas podem recordar momentos de alegria e não tirar a dignidade do rosto, declarou com singular propriedade. Nascido em Belo Horizonte, na capital mineira se formou médico, marco inicial da sólida carreira profissional como cirurgião plástico. Ivo Pitanguy morreu sábado passado (seis) com 90 anos. Apenas para mencionar dois exemplos dos famosos, a linda e sensual Sophia Loren e o piloto de fórmula 1 Nik Lauda (teve o rosto queimado num acidente numa corrida) são exemplares do reconhecido talento do bisturi do Ivo. O importante é citar o permanente trabalho que fez ao realizar cirurgias para pessoas muito pobres. Além de devolver ou estabelecer uma imagem física bonita, ele fazia ressurgir, realçar a beleza e autoestima do paciente.

Professor de especialização médica no Rio de Janeiro, era mestre no ensinar, cativava estudantes e médicos. Ao ensinar coligiu o conhecimento em livros, da prática médica nos hospitais públicos, agindo com sentimento de humanidade. O legado de Pitanguy sintetiza o que ele foi:  Não sendo candidato à eternidade, quero preparar as coisas para que continuem sem mim.