Ele é ou não fundamental?

“Podiam desnudar, nos mínimos detalhes, tudo quanto houvesse feito, dito ou pensado; mas o imo do coração, cujo funcionamento é um mistério para o
próprio indivíduo, continuava inexpugnável”.
George Orwell

Observo as casquinhas do pão crocante. Elas são de vários tamanhos. Saboreando o café, fui juntando toda elas e comi, me deu vontade, também por não desejar jogá-las fora. Separo um novo livro, livro novo, para ler. Antes de tomar contato com as páginas, palavras, me detenho quanto a feitura da capa, imagens, a tipografia. Também me detenho em saborear o cheiro de um exemplar novinho.

Olho pela janela e dois pássaros acabam de aterrissar nos galhos da árvore que eu plantei, um belo chorão. Parecem enamorados entre eles, a desfrutarem do tronco e sombra. Para pensar e depois efetivamente começar a escrever, é bom eu ler algo, não importa o tema, é como aquecimento, preparação técnica e de inspiração. Pronto! Fiz a escolha do tema desta Coluna.

Mesmo sem saber o que e o como escrever, sequer a ideia-chave, mas a palavra sim: Detalhe. A minha interrogação no pensamento vai para o final do título.

Não é mera interrogação, ela tem o sentido da dúvida: O detalhe é fundamental?

Se ele existe, sempre ou nem tanto, não é o problema, mas sim se o detalhe é essencial e deve vir em primeiro lugar. Ainda sem saber, escolho a frase que está logo a baixo do título. É do autor que foi escritor, jornalista, ensaísta e político inglês, George Orwell era pseudônimo do Eric Arthur Blair. Duas obras deles se tornaram grande sucesso de público e crítica, e continuam sendo lidas porque fomentam a reflexão sobre a vida humana singular ou coletiva. A Revolução dos Bichos e 1984, são clássicos da literatura mundial.

Eis que na frase que escolhi, consta a palavra imo. Desconfio sobre o significado dela, como suponho que possa ter mais de um significado e sentido. Imo é âmago, minúcia, algo profundo. Desconfiava ser minúcia.

George Orwell se refere ao imo do coração, mais profundo e que é um mistério inexpugnável. Além da indagação, se é ou não fundamental, em que nível um detalhe é essencial e prioritário?

Existiria uma razão, motivo irrenunciável, ou seja, que o detalhe é imprescindível? Afinal, ele é um detalhe dentro do seu todo de um pensamento, ideia, de estratégias e de ação?

Um detalhe poderá comprometer profundamente uma situação, objeto? Ou é meramente um detalhe?

Moedas são mero detalhes do dinheiro, somam bem pouco?

Palavras como declaração de amor, são detalhes, minúcias? A amada responderá que não, discordando do homem que afirmar tratar-se de meros detalhes. Para o cantor e compositor Roberto Carlos, “detalhes de nós dois (…). Embora tenha usado a expressão para enfatizar, sabe bem o cantor que todo o detalhe é pequeno por si só, tratando-se, então, de redundância.

Alguém riscou o meu carro zero-quilômetro na porta, veículo cor preta. Um detalhe? Para mim não é mero, o risco marcou, mas o carro não perdeu a beleza. Prestes a concluir esta Coluna, dou uma pausa. Resolvo recomeçar a leitura do livro, sem ter um marcador por perto, não lembro exatamente qual a página que parei.

Páginas seriam meros detalhes? Seguiria a partir daquela em que eu encontrava? Decidi regressar algumas páginas e passei a ler….me dei conta que já tinha lido, mesmo assim continuei.

Então seria a vida feita de detalhes? Sim, mas não de todos eles.

Fases de Fazer Frases (I)
A dita natureza humana tem se tornado artificial.

Fases de Fazer Frases (II)
Como ver.
Como é ver.
Comover.

Fases de Fazer Frases (III)
Em meio a metade que me sobra, não encontro a outra que me falta.

Olhos, Vistos do Cotidiano
Ao lado da sede do 11° Batalhão da Polícia Militar, em Campo Mourão, há meses estão depositados como sucata, dezenas de automóveis, viaturas policiais, também da Civil. Os carros estão a céu aberto. Evidentemente que já são ferro-velho, mas, na condição que se encontram sob sol e chuva, o ferro velho vai se tornando mais inservível ainda, comprometendo o valor na venda em leilão, quando o preço obtido poderia ser maior.

O desmazelo com o patrimônio público torna o inservível mais inútil.

Farpas e Ferpas (I)
A vida não tem custo? E o custo de vida?

Farpas e Ferpas (II)
O sem-vergonha é um desinibido sem noção.

Farpas e Ferpas (III)
O incrédulo só acredita se for nele.

Reminiscências em Preto e Branco (I)
A distância só é calculada como lembrança do passado.

Reminiscências em Preto e Branco (II)
Na tardança da vida, quem esmorece logo padece.

Reminiscências em Preto e Branco (III)
O tempo vem e vai ao longe e nós nem sempre o alcançamos, e, quando tal, definitivamente.

José Eugênio Maciel | [email protected]

* As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal