Elo paralelo para elas
O coração da gente é como uma casa que não pode ficar vazia.
Menotti del Picchia
Guardam o passado. Um dia abrigaram todos os dias. O hoje, não.
A vida, que parecia não ter fim, vai se desfazendo definitivamente.
Cor, a mesma. Ou muitas. Rapada a antiga para a nova pintura. Tiveram alguma cor?
Rugas, sulcos, fendas, frestas vão crescendo, tomam conta.
Ranger, estalos de uma vida longa acomodada nos cômodos certos ou improvisados. Hoje incomodam? Amoldam o que foram. Modelares são raridades.
Frequente é a crepitação. Suspiros derradeiros.
Sucumbidas elas vão em cada desvão. Esconderijos da infância.
Recordações cravam com pregos nosso coração, imagens resistentes.
Se ainda não, desaparecerão tombadas contra ou por vontade própria.
Se deixarão se abater para no entorno eterno descansarem.
Nelas o tempo é luz natural ou artificial, sóis da claridade e do foco escandecente.
Noites claras ou negrumes permeiam sonhos e pesadelos.
Portas abertas, fechadas, livres, trancadas. Entreabertas com ou sem chave.
Das janelas o olhar de dentro pra fora. De fora o ver intruso. Teto, telhados, talhados.
No imóvel se descortinam ou cobrem corpos, objetos móveis.
Assoalho liso, pisar incessante do tempo ficou ondulado, emendado, remendado.
Fachadas abertas, fechadas são rostos da primeira vista, imagem.
Alongadas no longo tempo, agora arqueadas, sem prumo, rumam para a ruína.
O pó gruda na ripa, parede, forro, caibro. Poeira impregnada nas pessoas.
Abrigavam todos e tudo. Hoje desabrigam e desabrigadas se desobrigam.
Morada namorada da alma, sentimentos contidos, comprimidos, repreendidos.
Não estão sozinhas e sim isoladas, cansadas, encolhidas, recolhidas, tolhidas.
Vizinhas do novo e do velho, contrastam. Se escoram, retardam o fim inevitável.
Vazias, pouco ou há tempos, são desmontadas. Serão lembranças dos moradores?
Em Campo Mourão, no começo eram todas novas, tinham faces lisas, retilíneas.
Com o envelhecer do tempo velhas ficaram, idêntico destino, o chão.
As que resistem, insistem, sentem o inexorável epílogo, ruidosamente silencioso.
Elas que sempre nos velaram, revelam o que se tornaram, fantasmas.
Minha memória de menino: mora em mim a casa de meus saudosos pais.
Não vivo mais nela. Aquela casa minha habita sempre em mim. Viva em mim!
Todos os dias ao caminhar pela ruas e avenidas as vejo sombrias, melancólicas.
Mesmo a decadência de muitas, elas forjam alguma bucólica beleza.
Abandonadas, empenam, soltam lascas, apodrecem, é o ruir com ou sei ruído.
Esconderijo dos andarilhos cada uma é mansão na imensidão do lar que não têm.
Casas que guardam a história de uma história que não as guarda.
Naquelas casas Ontem e Hoje se descasam.
Casas de madeira. Madeira não existe mais. Empilhadas, atulhadas: tábuas sem salvação.
Fases de Fazer Frases (I)
Quem se percebe ingênio já não o é mais.
Fases de Fazer Frases (II)
O calejar não é o calçado culpado. O calo é do andar calado.
Fases de Fazer Frases (III)
Não confundamos: O falo do qual eu falo não é o alheio. Eu falo só do meu falo.
Olhos, Vistos do Cotidiano
O presidente Temer trata do tema com desenvoltura: reforma da previdência. Ele, que se aposentou aos 55 anos como procurador do estado de São Paulo, declarou, caso a reforma dele não seja aprovada, ele irá renunciar a outra aposentadoria (de congressista e presidente). Temer recebe 30 mil reais brutos. Fácil é falar reforma com o burro na sombra, já tendo lavado a égua.
Reminiscências em Preto e Branco (I)
Não é o novo que mostra o antigo. É o antigo que demonstra o novo.
Reminiscências em Preto e Branco (II)
A esmo sou o mesmo ermo.