Loucura ao piano até a morte

Ernesto Nazareth é a verdadeira encarnação da alma musical brasileira

Heitor Villa-Lobos

                Como noutras vezes ele tinha sumido. No dia primeiro de fevereiro saiu sem voltar. No dia quatro de 1934 o corpo dele foi encontrado nas cercanias da colônia Juliano Moreira, Jacarepaguá, numa represa do Rio de Janeiro. Neurologicamente o quadro dele era irreversível, a sífilis tinha atingido o cérebro, levando a surtos de loucura manifestos ao tocar piano compulsivamente.

                Ernesto Nazareth nasceu há 150 anos, em 20 de março de 1863, morto aos 70, nome indiscutivelmente integrante da nossa música, a cultura brasileira tão enriquecida pelo brilho do extraordinário pianista e compositor, que fez a primeira canção quando possuía apenas 14 anos, início de uma trajetória musical profícua em conteúdo mas nem sempre devidamente reconhecida à época e na atualidade.

                Ernesto deixou uma vasta, variada e completa obra musical, própria de uma genialidade singular pela qual ele sabia harmonizar o erudito e o popular sem deixar de lado o esmero na sonoridade, nos arranjos primorosos das canções caracterizadas pelo sentimento da musicalidade brasileira e engendrada no universo de outros povos. Entre os grandes feitos como autor e que brilhantemente tocava ao piano com acompanhamento de outros instrumentos à altura e sempre de um grande espetáculo, estão Odeon, Brejeiro, Batuque, Bambino, Escovado, Fon-fon, Outro Sobre Azul e Apanhei-te Cavaquinho.

                São mais de 200 canções distribuídas em pelo menos onze gêneros na sua monumental obra: Tango, Valsa, Polca, Hino, Marcha, Samba, Quadrilha, Choro, Romance, Schottisch e o Maxixe, dignos de serem apreciados nos grandes salões, nas casas sofisticadas e nos espaços simples como nos bares, rodas de cantigas e serestas que bem comportariam homenagens condizentes à importância do Ernesto Nazareth e que, segundo o jornalista e escritor Ruy Castro, Os 150 anos de seu nascimento estão sendo lembrados, mas bem ao nosso jeito: intramuros, em surdina. Se o Brasil fosse mais grato a seus heróis, Nazareth já seria biografia, filme, selo, estátua, nome de teatro e cadeira na universidade.     

Fases de Fazer Frases (I)

                O ruído ruiu nas ruínas, ruidosos e ruins como rumas de rumores.

Fases de Fazer Frases (II)

                No mapa mental o GPS é cerebral.

Fases de Fazer Frases (III)

                No mormaço amasso, mormente, o maço maciço.      

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)

                Minutos antes de iniciar o funcionamento, a simpática e prestativa funcionária da Caixa Econômica Federal, para tornar ágil a movimentação da enorme fila na agência mourãoense, pediu aos clientes:

           – Por favor, já separem tudo o que for metal e passar tranquilamente pela porta giratória. – E, com bom humor, complementou:

          – Que estiver com arma, que tire!

          Então me fiz de desentendido para brincar também: – Que atire quem tiver arma?! 

         O que são as palavras, colocadas indevidamente ou compreendidas erroneamente, geram interpretações várias. Claro que a funcionária corretamente empregou a palavra e estava brincando, e eu também. Tire e atirar em se tratando de arma poderá ser mesmo uma armadilha.

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)

                E por falar da Caixa Econômica, grande banco social responsável pelo pagamento de muitos benefícios, tem clientes com pouca escolaridade. Quando eu acessava a conta um senhor ao meu lado perguntou-me o que era inserir. De fato é um comando corretamente utilizado pelo banco, embora a palavra inserir não seja utilizada habitualmente nem por pessoas esclarecidas, que, neste caso mesmo sabendo, preferem outros significados como colocar, pôr, introduzir. 

                Então é pra colocá o cartão né? –  simpaticamente falou aquele senhor.

Olhos, Vistos do Cotidiano (III)

                Livros de Bento 16 encalham após eleição do novo pontífice, é o título da notícia publicada no domingo passado pelo Jornal Folha de São Paulo. A matéria informa que o fato repete o que já estava acontecendo com relação às lojas de lembranças como cartões postais. O livro Coração da Fé repousa encalhado na famosa livraria La Feltrinelli, no centro de Roma, assim como outros livros de Ratzinger já colocados em liquidação. Ficam evidentes o desinteresse pelo papa que renunciou e o pragmatismo dos católicos, voltados para o novo pontificado, fanatismo, subserviência de muitos cristãos legando o ex papa ao esquecimento. 

Reminiscências em Preto e Branco

                No dicionário as palavras arcaicas são encontradas como se estivessem em lápides, por vezes a vagar como almas dispostas a se encaixar nalgum texto… Mas não neste de hoje… Nada lapidar.