O polacão e o porco
“Quem toda a noite ouve o ronco bem alto, quando ele para de repente,
é alívio, desde que não seja a morte de quem se quer bem”.
Estive Nólocal (b.d.C.)
Ronoviski tinha o apelido de Polacão da Água da Curva, onde nasceu e vivia desde sempre. Aliás, na vida, não conhecia nenhum outro lugar. Era um homenzarrão razão, estatura e tamanho avantajados. Destacava-se pelo rosto redondo e nariz espadaúdo. A calça sempre estava abaixo da cintura e só não caía devido aos velhos e surrados suspensórios. Trabalhador da roça, de sol a sol, acordava quando ainda estava escuro, já estava no eito no pequeno Sítio Orvalho, herança do velho pai e da mãe querida. Suava muito, mas por causa do calor, pois aguentava o trabalho bruto e dava conta de toda a lida.
Era casado com Celestiana, companheira de toda a vida, desde os tempos do primário, se conheceram no grupo escolar. Enquanto tinha escola no lugarejo eles estudaram e aprenderam bem a cartilha Caminho Suave, sabiam ler e escrever bem.
Não tinham filhos, desistiram de tentar, mesmo o médico ter afirmado que ambos não tinham problema algum. Religiosos, se conformaram, “é coisa de Deus”.
Um casal feliz? Quase!
Depois de trinta anos de feliz convivência como casal, Celestiana já não suportava dormir com o marido. Pensou muitas vezes, fui dormir no quarto ao lado. Pensou em desabafar, mas não tinha até então coragem, melhor dizendo, jeito de falar, não queria magoar o esposo, sempre amável, fiel, puro.
Mas de tanto pensar e pensar, tudo martelava na cabeça dela que, ao decidir o que fazer, foi abrupta, radical, falou, resoluta e direta na prosa:
– A partir de hoje a noite o senhor vai dormir na área ao lado do cachaço Quaresma! Não tem outra escolha e não tem não querer!
– Para que isso?! – respondeu estranhando tudo e surpreso, o Ronaviski.
Nem bem ele terminou de perguntar, ela foi logo enfatizando:
– Não suporto os seus roncos, é demais! Você não me deixa dormir. Nem consigo te acordar. Tá demais. Vai dormir com o Quaresma.
Dito e feito. Ela trouxe o cachaço e colocou ao lado do marido na área da casa. De tão cansada de noites em claro e com raiva, que, deitou e logo dormiu.
Pela manhã, sentiu a falta do marido e, pulando da cama, foi ver como estava ele e o Quaresma. Os dois roncavam feitos dois porcos.
Depois de quase um mês naquela situação, Celestiana resolveu matar o Quaresma. Aproveitou o fato de o marido ter ido a Água da Curva, foi lá e matou o porco. Como de costume, limpou e guardou toda a carne.
De noite, quando já se preparava para dormir lá fora e com o Quaresma, ela interveio e disse calmamente:
– Hoje o senhor passa a dormir comigo e em nossa cama novamente.
– E como vai ficar o Quaresma?
– Eu matei aquele porco desgraçado!
Naquela noite eles namoraram muito, a saudade e o ciúme foram ingredientes do amor, só de gemidos.
Fases de Fazer Frases (I)
O dia não está pronto antes de nós.
Fases de Fazer Frases (II)
O tempo não está pronto antes do nosso relógio.
Fases de Fazer Frases (III)
Não temo perder o rumo, sigo o prumo da vida.
Fases de Fazer Frases (IV)
Não temo perder a vergonha, a tenho o bastante.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Tem chamada a atenção a construção da arquibancada pré-moldada em concreto, obra levantada rapidamente. Ela está sendo erguida no Estádio Municipal José Carlos Galbier, conhecido como Estádio dos Amadores. O Estádio é localizado no Jardim Nossa Senhora Aparecida, Campo Mourão.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Neste domingo é dia de eleição municipal, a escolha dos prefeitos, segundo turno. No Paraná o pleito ocorre em Curitiba, Londrina e Ponta Grossa. As demais cidades com mais de 200 mil eleitores resolveram a escolha no primeiro turno, Maringá, Foz do Iguaçu e São José dos Pinhais. Estrearam o direito a ter o segundo turno Foz do Iguaçu e São José dos Pinhais.
Farpas e Ferpas (I)
Tem vez ser preferível coisas estranhas a acontecer ao normal acontecido.
Farpas e Ferpas (II)
O direito à vida deveria ser tão natural quanto respirar.
Sinal Amarelo
Cautela é hábito que também se adquire com a prudência dos fracassos.
Trecho e Trecho
“´Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”. [O tempo e o vento – Erico Veríssimo].
“Não tenho tempo para mais nada. Ser feliz me consume muito”. [Adélia Prado].
Reminiscências em Preto e Branco
Na tardança da vida, a experiência é bagagem que não deve ser dispensada.
José Eugênio Maciel | [email protected]
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