O PT respira por aparelhos. Estrela decadente.

Por trás dos nossos preconceitos atuais contra a política estão a esperança e o medo: o medo de que a humanidade se autodestrua por meio da política e dos meios de força que tem hoje à sua disposição; e a esperança, ligada a esse medo, de que a humanidade recobre a razão e livre o mundo não de si própria, mas da política.

Hannah Arendt

Lula não foi votar na eleição do segundo turno em São Bernardo do Campo, São Paulo. A partir dos 70 anos de idade o eleitor não é mais obrigado a votar. Lula fez 71 anos e exerceu tal direito. Não é um fato qualquer. O ex-presidente ao longo da vida sindical, política e partidária sempre teve discurso de conclamar o brasileiro a fazer história. Sem comparecer para votar, Lula se contradiz. Na verdade o gesto dele é bem mais o de não votar. Lula não veio ao velório do PT, precisamente onde o Partido nasceu. Lá como nos demais municípios do Grande ABCD (Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema), cenário da luta sindical, das gigantescas greves e protestos dos metalúrgicos que as duas estrelas nasceram, ambas agora decadentes.

Das capitais, PT só disputava o segundo turno em Pernambuco e perdeu. No primeiro turno sofreu várias derrotas acachapantes e a mais emblemática é a de São Paulo, o prefeito Haddad teve o menor desempenho de toda a história do Partido, 16%. Sequer teve segundo turno. No Rio de Janeiro o PT foi mais pífio, ninguém se candidatou. Exemplos de um fracasso prenunciado, anunciado, noticiado. De 630 prefeitos em 2012, tem agora 256, 61% menor. Fora dos grandes centros populacionais e políticos, não é só o número de prefeituras que perdeu, é notório o de eleitores: 50 milhões. Ao contrário do Fora usado por décadas pelos petistas inconformados com derrotas (até então nada era golpe para eles), os foras se restringem aos que não reconhecem os desvios programáticos e de dinheiro que o PT amealhou. O brasileiro, sem golpes, o fora Lula, fora PT foi sem ocupação. Foi sim o desejo das urnas, um fora também dado pela classe que dá nome ao Partido.

O Paraná, a nossa região e Campo Mourão, a esmagadora derrota não carece de análise. Em Curitiba o PT ficou de fora do segundo turno, amargou um revez bem mais do que se previa. Assim também foi em Cascavel, não teve segundo turno lá e em Londrina. Em Maringá figurou nas últimas colocações. Em Ponta Grossa não teve candidato próprio e apoiou o que perdeu. Na nossa região tiveram dois cabais fora PT, que governava as prefeituras de Barbosa Ferraz e Peabiru. Desde há muito tempo, em Campo Mourão o PT está a reboque dos acertos oportunistas.  O máximo que o Partido alcança é eleger um vereador. Sem lideranças mourãoenses de envergadura, é coadjuvante satisfeito com cargos, benesses, sinecuras. Evidente que tem filiados que não pactuam e até criticam a situação total, vão se tornando raros. Não encolheu, tão só foi maior o próprio apequenar-se.

Lula sempre foi maior que o PT. A estrela com luz própria é ele. Outrora cativante, o carisma lulista hoje não fascina. A demagogia não convence. O povo decidiu o fora na camaradagem, com ela a estrela que, aliás, assim como o nome e o número 13 do Partido, pouco apareceram na propaganda, tão discreta, quase invisível. Não são poucos os petistas que se envergonham do PT. A sociedade mais ainda.

O PT respira por aparelhos. Aparelhos como a CUT e entidades estudantis UBES e UNE. No Paraná o aparelho é a APP – Sindicato, que vai perdendo paulatinamente o apoio dos professores e funcionários da Educação. O PT míngua, a Gleisi vive dias de incertezas como senadora, talvez não chegue a concluir o mandato, dadas às acusações de corrupção. O PT do Paraná só tem olhos para a podridão alheia.

Sem ir à UTI ou ao velório do PT, talvez Lula não esteja no hospital a tempo, disfarçado para não ser reconhecido, sem poder curar ou não ter que sepultar o Partido.

Fases de Fazer Frases

A errância: supor que privado é o masculino de privada.

Olhos, Vistos do Cotidiano

Fim da política: o poder. Fim do poder: não da política.

Reminiscências em Preto e Branco

Lápis sem ponta aponta: ele carece ser apontado para não ficar desapontado.