Redação do Enem: nem zero nem dez

Existem situações tão desagradáveis à vista que o nome que se dá para elas vem a calhar. É o caso do uso  calão das palavras, erros tão grosseiros que não se limitam ao grafar s quando   deveria ser z, e que foram apelidados de internetês a linguagem empregada na comunicação pela internet. Não é uma alternativa de escrita dita simples e apenas utilizada virtualmente. Na verdade o internetês é facilmente encontrado nos textos produzidos no cotidiano escolar.

A redação é o tema mais temível nos concursos e a responsável pela eliminação de centenas de candidatos no vestibular ou para a carreira do serviço público. Não são poucos os que defendem a exclusão da redação ou pelo menos o fim do caráter eliminatório. Não carece tecer maiores comentários ante à esdrúxula proposta, equivalente a varrer para debaixo do tapete todo o entulho da falta da mínima capacidade de comunicação e expressão.

O tema é antigo e atual, gera notícia, debate, polêmica e o conteúdo está bem longe de despertar transformações que não residem em alterar critérios de avaliação dos textos e sim na necessidade imperiosa dos estudantes brasileiros em dominar corretamente a língua.

Na quinzena passada o Jornal O Globo estampou erros grosseiros contidos nas redações do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio de 2012. Rasoavel, enchergar, trousse, necessario, entre outros. Porém, maior do que tais erros crassos é que as redações mencionadas obtiveram nota máxima! Trata-se um absurdo tão claríssimo quanto indefensável. São erros imperdoáveis e que não poderiam merecer a devida consideração na correção, ou seja, se não era o caso de registrar a nota zero, também não é – em hipótese alguma – atribuir nota máxima.

Entre os critérios inafastáveis aplicados na correção, é evidente que se deva privilegiar o senso crítico de quem redige, tem capacidade de narrar fatos e refletir condizentemente sobre os mais relevantes. É como imaginar um texto com boa argumentação através de um conteúdo claro e que o autor tenha escrito caza, não se poderá registrar nota zero, mas também o referido erro tem que ser computado, ainda que ele fique com 9.5, 9.7 ou 9.0, jamais a nota máxima dez.

O presidente Luiz Cláudio Costa, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP afirmou (no endereço no endereço eletrônico Último Segundo – Educação, 19 passado) que os jovens estão ainda em processo de formação e que não se pode exigir deles um domínio absoluto da língua portuguesa. É mais uma tentativa de defender o governo, mas não a educação e o nosso idioma. Já para o professor titular da Língua Portuguesa do Instituto de Letras da UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, declaração publicada na Gazeta do Povo no último dia 19, foi enfática ao concluir: A demagogia política anda de braços dados com a demagogia linguística.

Gíria, modismo, estrangeirismo, coloquialismo e ser prolixo não podem ser admitidos, devem ser decisivos no momento da correção e de se atribuir nota para as redações. Cabe citar os critérios estabelecidos para o exame do ENEM: 1. Domínio da norma padrão da língua portuguesa; 2. Compreensão da proposta da redação; 3. Seleção e organização das informações; 4. Demonstração de conhecimento da língua, necessário para a argumentação do texto; 5. Elaboração de uma proposta de solução para os problemas abordados, respeitando valores e considerando as diversidades culturais.

Engana-se quem supõe que escrever bem, (que pressupõe senso crítico), não tenha importância na vida cotidiana, no ação profissional e no diálogo oral e escrito. Assim padecem e não alcançam níveis melhores de vida, individual e coletiva. Vale ressaltar novamente, se é inaceitável dar zero a alguns erros na vida, dar nota máxima é inconcebível.       

Frases de Fazer Frases

Certas palavras não estão certas. Erro certeiro é não dominá-las corretamente.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)

Escandaloso é o Ministério da Educação pagar três reais ao professor para cada redação corrigida do ENEM. Ironicamente, se encaixa a cacofonia: porcada redação corrigida.

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)   

Ao longo dos quase 25 anos de publicação desta Coluna perdi as contas do número de vezes em que o tema foi sobre a importância da redação, da leitura, da compreensão e domínio da língua. O assunto vem sempre à tona, com a tônica, tonitruante e torturada pela tontura.

Olhos, Vistos do Cotidiano (III)

No Exame de Ordem da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil – com reprovação  de cerca de 80% – um dos critérios para a aprovação dos candidatos é o domínio da língua e do vernáculo jurídico. O futuro advogado deve saber argumentar nas petições e na sustentação oral.

Tem os que atuam há muitos anos como operadores do Direito em Campo Mourão, todavia tem aqueles que cometem um erro a princípio é pequeno, mas a ser evitado. Erro  não notado pelos profissionais e por outras pessoas que tomam contato com a chamada qualificação das partes.

Rapidamente para situar o caro leitor, qualificação das partes, contida na procuração e no início da petição, é a informação do nome e de todos os dados pessoais do autor da ação e do réu. Advogados colocam o nome da pessoa e escrevem o seguinte: José Eugênio Maciel, portador da RG (número tal)….. O erro é: não sou eu nem ninguém portador da RG! O que cada um porta, possui, tem, dispõe é de uma Cédula de Identidade, nela constando um número específico e logicamente único. Que possui RG – Registro Geral é o órgão expedidor. Noutras palavras, cada pessoa possui o seu número na RG, mas não a RG.

Reminiscências em Preto e Branco

Quem tem afirme que a acentuação das palavras não é tão necessária, com a pretensa justificativa, dá para entender quando é para ler. Várias vezes neste espaço uso o seguinte exemplo pitoresco, com a palavra cágado. O acento não faz falta?