Saudação para o Nilson
A morte – esse pior que tem por força que acontecer;
Esse cair para o fundo do poço sem fundo;
Esse escurecer universal para dentro;
(…)
E é areia sem corpo escorrendo-me por entre os dedos
O pensamento e a vida.
A gare no deserto, deserta;
O intérprete mudo;
(…)
A Partida – Alvaro Campos (Fernando Pessoa
Fui levar o que imaginava ter, consolo.
No velório a dor sentida buscaria amenizá-la com a dos familiares.
O que a morte diz? Silêncio, responde ela.
Ele é luz!, sintetizava a senhora que irá em abril completar 90 anos.
Marcas do tempo, as mãos dela tocavam as do filho sem vida.
Alternava-as ao segurar o livro de orações e cantos. Pulso firme da fé
Dona Lourdes Piacentini continuará a ser mãe dele e dos demais. Dos amigos dele.
A dor em meio a busca, assimilar a perda do filho para o céu, vida eterna.
Nilson André Piacentini era filho dos pioneiros de Campo Mourão Avelino (saudosa memória) e da dona Lourdes. Amigo de infância, tínhamos de então uma convivência cotidiana. Já contei aqui o fato marcante quando Nilson e eu fomos jantar na famosa Churrascaria Marabá, propriedade do pai dele. Seu Avelino nos serviu com a mesma fidalguia como atendia a todos, e nos ensinou o cultivo da amizade. Cravada na memória aquela noite, dois piás a saborear a vida.
Crescemos, nos tornamos gente grande. O Nilson tinha uma perdulariedade, a gargalhada ou o sutil sorriso, cativantes. O abraço fraternal nos transportava até o tempo da infância. Nilson sintetizou a Campo Mourão que tínhamos, podíamos atravessar a avenida sem olhar para lado algum, eram poucos os carros e pessoas circulando. Disse-me ainda, conhecíamos todo mundo, e todos conheciam a gente, filhos da dona Lourdes, da dona Elza (em memória), éramos irmãos.
Sempre à vontade, para quem pudesse duvidar da amizade, a senha era como ele me chamava desde garoto e que o Nilson prosseguiu: Gudé. Temos praticamente a mesma idade, 54 e ele 53.
Perdi o amigo de infância. Ele leva, como deixa, a lembrança à italiana do bom humor, solidário e fraternal.
Leio o que você escreve, me sinto em Campo Mourão. É como se continuássemos aquelas nossas conversas daqueles tempos, escreveu, morando em Curitiba.
Desde o 19 último não mais está aqui, bem disse vossa mãe, agora é luz. Nilson, espero que leia esta (intenção) de homenageá-lo. Como biólogo dedicado, cuide daí da vida, regue com a chuva do céu todas as plantas. Olhe para a sua mãe. Continuaremos amigos, Nilson.
Fases de Fazer Frases
Estrada. Entrada. Estada. Caminhos sem ou com data.
Olhos, Vistos do Cotidiano
A fiscalização visa cumprir o Código de Defesa do Consumidor, promete o Procon mourãoense. Vem a calhar nessa época de vendas natalinas. É fragrante o abuso publicitário das lojas ao não informarem preços, juros e o total do valor final da compra. Quando tem, as letras são miúdas. Exceções existem, raras como as letrinhas.
Caixa Pós-tal
Texto instigante, ávido, muito bom, me fez lembrar da minha avó paterna que usava este termo para seus apliques em suas costuras. Melhor mesmo: 'a vida é um quebra cabeça que o coração consegue montar'. Será? Manifesta Estter Piacentini, se referindo ao tema principal desta Coluna (Bocete), semana anterior. E, especificamente sobre o Fases de Fazer Frases, a presidente da Academia Mourãoense de Letras indaga se é mesmo o coração que consegue montar, o quebra cabeça. Ela assimilou o duplo sentido do coração em ser o que cria ou desmonta o quebra cabeça.
Reminiscências em Preto e Branco
O ditado não é velho para quem acaba de conhecê-lo.
__
Por José Eugênio Maciel | [email protected]