Tombou a árvore símbolo mais antiga do Paraná

“Araucária,

Nasci forte e altiva,

Solitária.

Ascendo em linha reta

Uma coluna verde-escura

No verde cambiante da campina.

Estendo braços hirtos e serenos.

Não há na minha fronde

Nem veludos quentes de folhas,

Nem risos vermelhos de flores,

Nem vinhos estonteantes de perfumes.

Só há o odor agreste da resina

E o sabor primitivo dos frutos.

Espalmo a taça verde no infinito.

Embalo o sono dos ninhos

Ocultos em meus espinhos,

Na silente nudez do meu isolamento.

Helena Kolody

          Qualquer araucária é árvore símbolo do Paraná, nativa. Nem uma delas é um pinheiro qualquer. É nossa identidade. Aqui neste modesto espaço de jornal, incontáveis vezes foram feitas referências (continuarão sendo). A araucária mais velha paranaense tinha 750 anos. Ela tombou na madrugada de intensas chuvas e ventos, entre os dias 29 e 30, segundo informou a prefeitura de Cruz Machado.

Pude conhecê-la pessoalmente na única visita que fiz ao referido Município, a araucária estava localizada em região rural, um vistoso, imponente, gigante pinheiro, braços extensos, vigoroso a abraçar a natureza, também a humana. Foi há cerca de trinta anos, e vem agora a reminiscência daquele dia. Ergui a cabeça, meus olhos pareciam não enxergar até a altura dela, 42 metros, sendo 36 metros de tronco!

A tristeza não é só dos moradores de Cruz Machado, é dos paranaenses. Caída e com grandes rachaduras, ainda assim é gigantemente imponente. Lembro ainda, obviamente, assim como ela já estava lá há mais de sete séculos, continuaria firme e forte. Eu é que iria embora de lá, já com saudades. Eu partiria primeiro que ela dessa vida terrena. Enganei-me. Sequer envergou, caiu, agora madeira, história, clarão na mata.

A minha memória rapidamente me fez relacionar o poema da paranaense Helena Kolody. E, não por coincidência, rememoro e informo ao caro leitor, caso não saiba, que Helena Kolody nasceu em Cruz Machado, em outubro, dia 12 de 1912. O  poema transcrito abaixo do título é dela, justamente sobre araucária.

O Paraná daquela Araucária, de Cruz Machado que tem a mais famosa moradora, menina que cresceu para não mais desaparecer com o seu lirismo poético, profundo como as raízes do pinheiro, saborosos nos versos como os pinhões semeados pela nossa bela gralha azul. Eu pessoalmente conheci Helena em Curitiba, encantadora.

Numa das imagens distribuídas e divulgadas por vários meios de comunicação do Estado, está um macaquinho mico-leão-dourado, como quem pousa faceiro e seguramente nos galhos da araucária de 750 anos. Certamente agora o olhar dele é triste, perdeu uma de suas mães natureza.

Terá ele sentido mais do que todos os homens?

Fases de Fazer Frases (I)

          A maior humildade é aquela mostrada, sem demonstrar.          

Olhos, Vistos do Cotidiano

          Temporais levaram com as águas e ventos intensos, vidas e pertences, levando a decretos de calamidade pública. O que não afundou é a esperança e solidariedade. Nossos rios paranaenses não tragaram a paciência que está vindo, o da reconstrução, recomeço, mãos em comunhão.        

Farpas e Ferpas

          Tem tempo pra tudo! E para nada, tem?

Trechos e trechos

          Pra quem tem fé a vida não tem fim”. [Banda Rappa].

          “ Nada é pequeno no amor. Quem espera as grandes ocasiões para provar a sua ternura não sabe amar”. [Laure Conan].   

Reminiscências em Preto e Branco – Marcelo, menino homem do bem

“A violeta é introvertida e sua introspecção profunda. Dizer que se esconde por modéstia. Não é. Esconde-se para poder captar o próprio segredo. Seu quase

não-perfume é glória abafada mas exige da gente que o busque. Não grita

nunca o seu perfume. Violeta diz levezas que não se pode dizer”

Clarice Lispector

Se aqui em vida ele tinha e precisava de atenção especial, agora no infinito azul do céu, é anjo da guarda. O último aceno do Marcelo Bagini foi no dia 24 de outubro. Foi por muitos anos aluno da APAE de Campo Mourão. Por lá tinha amigos, colegas, professores, funcionários e familiares. Era sempre visto pelas vias da cidade, a caminhar de a pé ou de bicicleta. Tinha uma introspecção peculiar, existia um mundo interior bem dele, supostamente de idealização. Sentia das pessoas, embora pudesse parecer, aos olhos dos outros, fazer parte de um mundo distante, alheio. Era sereno, o modo de olhar, peculiar, humano, reticente.

Cresceu além dos limites que poderiam ser impostos humanamente, se tornou homem ao mesmo tempo que se manteve menino. Marcelo foi ao encontro do pai Pedro Bagini, transformado em saudade. Imagem inesquecível e do perfume de violeta. Para sempre sentimento, luto da mãe Rosa e dos cinco irmãos.

José Eugênio Maciel | [email protected]

* As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal