Interesses presentes e futuros

O julgamento do mensalão já começa a produzir efeito nas campanhas. Em Curitiba Gustavo Fruet está se apropriando, com direito, dos resultados desse julgamento que a imprensa ávida de sensacionalismo já define como o julgamento do século; por ter sido a seu tempo de deputado federal tucano, uma das mais fortes vozes a se levantar contra esse escândalo que pode, em seu resultado, trazer um pouco de moralização à política brasileira. Tentando porém driblar aspectos negativos de sua coligação com o PT , em cujos membros estavam alojados alguns dos réus desse processo. Não me coliguei com o mensalão. Pelo contrário: denunciei-o, repete. Situação mais delicada vive o candidato que Lula lançou em São Paulo. Uma declaração dos advogados de Fernando Haddad, que tenta ir para o segundo turno, no caso derrotando Serra, é no mínimo a visão de quem não vive a política com todas as conseqüências de uma palavra mal colocada. Ao defender seu cliente de um comercial da campanha oposicionista que vincula Haddad a  personagens do mensalão, teria Hélio Silveira (advogado da campanha petista) afirmado, entre outras coisas que quando era ministro Haddad nunca nomeou Delúbio, Maluf ou Dirceu. Defesa correta, sem a necessidade de colocar Maluf na história. Como é sabido e apesar dos descalabros mais recentes, quando a Justiça suíça coloca os bens de Maluf naquele país que já foi o paraíso dos corruptos mundiais, indisponíveis, o turco ainda goza de grande prestígio na capital paulista. Pelas obras que fez. Como dito anteriormente nesta coluna,  na mesma linha de comportamento que quase levou o ex-governador paulista Ademar de Barros, à Presidência, na base do rouba mas faz. O que prova que eleitor raciocina com o bolso, com o estômago e com benefícios imediatos. Alguns cuecas de seda (expressão do Ratinho (pai)) que investem nas campanhas, inclusive na de seu filho, com  outros interesses futuros. 

Afirmações comprometedoras

O título de um comentário da coluna Silêncio comprometedor, tem  que se curvar à frase de um manifesto do PSDB, divulgado depois que o publicitário Marcos Valério teve supostas afirmações suas divulgadas pela revista Veja. Nelas, o ex-presidente Lula é apontado como o mentor (via Zé Dirceu que nesta altura se ombreia com o PC Farias do Collor) do mensalão. Projeto que arrecadou cerca de R$ 350 milhões e não os menos de R$ 100 descobertos pela PF e pelo MPF, hoje em julgamento no STF, segundo afirmações do publicitário.

Decisão inteligente

Inteligentemente o núcleo oposicionista, PSDB, DEM e PPS, ao invés de apresentar uma representação junto ao Ministério Público Federal para investigar a participação do ex-presidente no esquema de corrupção hoje conhecido como mensalão, o que poderia desviar a atenção do público formador de opinião do julgamento em foco no STF, optou por esperar o resultado final.

Expressão deliciosa

Emitiu porém uma nota que confirma a análise feita pela coluna. Nenhuma manifestação mais forte foi feita pelos dirigentes do PT, depois da publicação, a não ser convocar a militância para um desagravo nas urnas. Um trecho da nota oficial dos oposicionistas contém uma expressão deliciosa: Estranhamos o silêncio ensurdecedor do ex-presidente Lula, que deveria ser o maior interessado em prestar esclarecimentos sobre fatos que o envolvem diretamente. Nenhuma expressão definiria melhor a situação que esse silêncio ensurdecedor.

Em choque

Durante todos os seus dois mandatos Lula escapou dos problemas que atingiram seu governo e o atingiriam diretamente. Para usar uma expressão comum entre pescadores: tal qual um bagre ensaboado. Agora que não é mais o dono do poder, e que gente do seu núcleo está sendo afastada, fortalecendo a candidatura da presidente Dilma à reeleição, uma denúncia como a que a revista Veja divulgou, pode atingir fortemente seu prestígio. Rei morto, rei posto.