A utilidade da crise
“A crise pode ser ruim, mas também pode ser o início da cura. É ela que nos obriga a buscar algo melhor”
Graziela Bergamini
Toda crise gera uma oportunidade. A frase soa menos clichê quando percebemos situações reais de pessoas que superaram crises e saíram melhores delas. Sim, existem indícios históricos que nos fazem pensar que não é apenas mais um discurso otimista de algum palestrante motivacional.
Na pré-história os humanos alimentavam-se de caça. Nessa época nossos ancestrais produziam ferramentas, se organizavam em grupos e viviam coletando alimentos silvestres e caçando animais por uma vasta região. Nem sempre havia manadas de animais próximos, e eram constantes as migrações à procura de alimento.
Com a era da glaciação, houve a migração para o sul, e concentravam-se as tribos. Os animais ficaram mais disputados e distantes. Crise de alimentos. Então o homem desenvolveu as primeiras experiências de uma agricultura rudimentar e a domesticação de alguns animais.
De crise em crise, aprendemos a buscar alternativas. Durante a Primeira Guerra Mundial, a tecnologia bélica foi responsável por milhares e milhares de mortos e feridos. Nesse contexto, com muitos infectados, que o pesquisador Alexander Fleming desenvolveu suas pesquisas, descobrindo, em 1928, a penicilina, o primeiro antibiótico utilizado na medicina.
Estudos apontam que muitas pessoas que passam por traumas e dificuldades extremas desenvolvem habilidades e características que não tinham, ou não percebiam ter antes dos acontecimentos. Pessoas que passam por doenças graves, por exemplo, e depois de superá-las percebem que estão mais agradecidos, seguros e si e complacentes com outros.
O psicólogo polonês Kazimierz Dabrowski, autor da Teoria da Desintegração Positiva, sugere que nem sempre o medo, a ansiedade e a tristeza são indesejáveis ou inúteis. Pelo contrário: seriam processos necessários ao amadurecimento. Assim como a dor muscular resultante de um esforço para fortalecer o corpo, a dor mental contribui para desenvolver as emoções.
No mundo do empreendedorismo, crises são uma espécie de “filtro”, de onde saem empresas e líderes melhores e mais preparados.
Apple, Marvel, Nintendo, BMW e Nokia são alguns exemplos de empresas globais que passaram por momentos de dificuldades extremas, algumas chegando a propor o encerramento de atividades, e acabaram se reinventando e alcançando liderança em suas áreas de atuação. No Brasil, o Pão de Açúcar tem uma história muito interessante de superação a partir da crise que viveu nos anos 90, período Collor.
Empresas e produtos inovadores surgem durante as crises mais agudas. No inicio dos anos 30, o café viveu um momento de queda no consumo em todo o mundo. O Brasil, que à época tinha a maior produção de grãos do planeta, viveu um período de grandes prejuízos. Os produtores viam milhões de sacas de café apodrecerem em seus silos. Foi aí que a Nestlé desenvolveu uma variação de uma tecnologia que já fazia com o leite: transformar o café em pó. Surgiu então o Nescafé, lançado em 1938, que tornava o produto mais durável. Alcançou sucesso mundial, e hoje é a marca mais valiosa da Nestlé.
A palavra crise, na história da medicina, representava o momento decisivo na evolução de uma doença, para a cura ou para a morte. Momento de crise é momento de se tomar decisões. De agir. De pensar e trabalhar de forma diferente e inovadora.
Desejo a todos um Feliz Natal, e que neste novo ano de 2020 possamos estar motivados e com pensamentos criativos para superar as dificuldades.
Carlos Alberto Facco – Secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão | facco@campomourao.pr.gov.br