A páscoa da ressurreição

A palavra “páscoa” vem do hebraico “pessach” e do grego “pascha” que significam “passagem”. Os espanhóis chamam a festa de Pascua, os italianos de Pasqua e os franceses de pâques. Possui diversos significados, tais como a passagem da morte para a vida, a passagem da escravidão para a liberdade, enfim, a passagem pela qual o homem que se encontra neste mundo, passa na linguagem bíblica, para um novo céu e uma nova terra.

Modernamente, temos nos esquecido, em função de tantas ocupações, do real significado da Festa da Páscoa, pois, temos contato apenas com a versão comercial, perdendo-se o verdadeiro sentido de libertação, ressurreição e renovação, que ela, de fato, simboliza.

A data como é comemorada não traz nenhum benefício, se não compreendermos que Cristo é a verdadeira Páscoa; portanto, se quisermos comprar ovos de chocolate, façamos isso como quem compra chocolate e não com reverência pascal, porque a introdução tanto do ovo como do coelho nesta data, possuem outras razões e interesses aculturados.

É importante recordar que Páscoa é libertação e surgiu como sendo uma festa que marcava o fim da opressão escravizadora do Faraó Ramsés II, sobre o povo hebreu, que celebrava o êxodo por oito dias. Um caráter prospectivo, porque profetizava a libertação antes dela acontecer e prenunciava a obra de Cristo. Aceitar o sacrifício de Cristo feito por nós como diz as Escrituras, é comer da Páscoa e começar uma nova vida.

O próprio Cristo disse-nos “Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça; porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus e, tomando o cálice, e havendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós. Fazei isso em memória de mim”. Nesse episódio, Cristo introduz naturalmente a Ceia como sendo a substituta da festa pascal do Antigo Testamento. A memória desse feito permite-nos gozar da certeza da libertação do pecado, da morte e da miséria na qual estávamos, e nos permite olhar para o futuro com esperança, pois cada vez que ceamos anunciamos a morte do Senhor até que ele venha, para que como na festa dos hebreus, nos liberte da opressão desse mundo.

Ocorre, que na verdade, a páscoa pagã surgiu no meio da igreja e a páscoa bíblica desapareceu; o cordeiro de Páscoa, imaculado, deu lugar ao coelho sobrenatural, como ocorreu com outras datas. Com o passar dos anos, as tradições de diferentes povos se mesclaram. Na Páscoa, por exemplo, nas religiões orientais e na mitologia grega, o ovo sempre teve significado de princípio de vida, pois, aparentemente morto contém uma vida que surge repentinamente, passando-se, então, a simbolizar a ressurreição.

As lendas e estórias sobre os coelhos, parecem ter surgido por volta de 1215, na França, onde eram tidos como símbolos de fecundidade e abundância. A tradição do coelho da Páscoa foi trazida à América por imigrantes alemães em meados de 1.700. No antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da antiguidade o consideravam o símbolo da Lua. É possível que ele se tenha tornado o símbolo pascal devido ao fato de a Luz determinar a data da Páscoa.

E o ovo? Surgiu de um episódio, segundo contam os historiadores, na Alemanha, que estava em guerra e tinha por tradição, comemorar a páscoa, com a distribuição de presentes, como ocorre no Natal. Como nessa época, não havia recurso para manter o costume, e na região havia muitos ovos de galinha, tiveram então a ideia de pintá-los com cores vivas e colocá-los junto às árvores. Na manhã da Páscoa, as crianças procuravam os presentes na floresta e quando chegavam eram surpreendidas com milhares de ovos coloridos. Ao perguntarem quem os trouxe, a resposta vinha pronta e rápida: os coelhos! Dando origem à nova tradição.

A Páscoa cristã, em verdade, é celebrada no coração de cada um, que oferece a Deus sua própria vida, salva pelo Cordeiro Divino, que tem em si mesmo, vida eterna, podendo assim, ser o cordeiro de toda família humana, exceção feita aos que não veem na morte do cordeiro, sua páscoa, seu livramento, sua “passagem” da morte para a vida.

A partir de agora, tu podes ressurgir de ti mesmo, sair do lugar, da rotina, da mesmice. Renascer é recomeçar, libertar-se.

Abençoada e Feliz seja a tua PÁSCOA!

* GILMAR CARDOSO, advogado, poeta, membro do Centro de Letras do Paraná e da Academia Mourãoense de Letras