Afinal, a Inteligência Artificial é o futuro do trabalho?

O avanço da Inteligência Artificial (IA) no mercado de trabalho é inegável e, por vezes, assustador. Todos os dias, surgem novas aplicações de IA que prometem otimizar processos, reduzir custos e, em alguns casos, substituir tarefas realizadas por humanos. Contudo, seria essa substituição uma simples solução para o futuro do trabalho? Ou há algo mais que devemos considerar, especialmente quando pensamos nas relações humanas, que sempre foram e continuarão sendo a base de qualquer organização?

Em um mercado onde a presença humana já se vê diluída em práticas de trabalho remoto e sistemas automatizados, cresce a inquietação sobre até que ponto essa dependência da tecnologia irá, e se ela não sacrificará a essência do trabalho colaborativo e a riqueza da interação humana.

Por mais que a IA traga benefícios indiscutíveis, há um ponto de interrogação sobre a aceitação do home office, por exemplo, e das relações puramente digitais como modelo definitivo de trabalho. A prática mostrou, especialmente durante a pandemia, que, embora o home office funcione, ele também deixa lacunas no que se refere ao trabalho em equipe e à cultura organizacional.

Muitas empresas começaram a relatar dificuldades em manter a boa relação entre os times, reduzir o isolamento e melhorar a comunicação, que são elementos essenciais para um ambiente de trabalho saudável e produtivo. O retorno aos escritórios, ainda que parcial, demonstra que o mercado valoriza – e necessita – da proximidade, pois há aspectos intangíveis nas relações de trabalho que nem a tecnologia mais avançada consegue substituir.

Assim, apesar de toda a inovação que a IA oferece, as conexões humanas permanecem imprescindíveis. O mercado tem mostrado sinais de que, embora admire as soluções tecnológicas, ele ainda enxerga limitações em um ambiente completamente virtual e automatizado. O valor das equipes, do trabalho em conjunto, das discussões presenciais e do “olho no olho” continua sendo insubstituível, especialmente em áreas onde a criatividade, a empatia e o entendimento contextual são fundamentais.

Essa preocupação sobre a inserção da IA no mercado de trabalho não é nova e já foi levantada por especialistas, como o historiador e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Yuval Noah Harari. Em 2019, durante a Semana Nacional de Inovação no Brasil, Harari, que já vendeu cerca de 15 milhões de livros sobre o tema, ponderou sobre os desafios impostos pela IA para o futuro dos empregos. Ele destacou que, embora novos postos de trabalho possam surgir em função da automação, há um questionamento importante sobre se esses empregos serão suficientes para substituir as vagas eliminadas e qual será o tipo de “requalificação” seria necessária.

Harari deu o exemplo de um motorista de equipamento agrícola que, ao perder seu emprego para uma colheitadeira automática, teria de se reinventar em um novo mercado. “Como uma pessoa de 55 anos se reinventa?”, questionou ele, destacando a complexidade e o tempo que essa transição exigiria. Para Harari, mesmo que surjam novas oportunidades, elas não oferecerão uma solução imediata para os desafios enfrentados por profissionais deslocados pela tecnologia.

Por fim, como especialista em gestão de pessoas, vejo a Inteligência Artificial ainda com certo paradoxo; no entanto, por ser “um caminho sem volta”, não a enxergo como uma concorrente do nosso fazer e pensar, mas como uma ferramenta estratégica poderosa que, se bem utilizada, pode ser uma aliada no desenvolvimento humano.

Há que se considerar que a IA tem o potencial de expandir nossas capacidades e otimizar processos, permitindo que as pessoas se concentrem em atividades mais complexas e criativas. O segredo está em saber integrá-la de forma a fortalecer, e não enfraquecer, as relações humanas, aproveitando o melhor da tecnologia sem abrir mão do que nos torna, essencialmente, humanos.

Rosinaldo Nunes Cardoso é administrador, especialista em Gestão de Pessoas e Inteligência Competitiva, mestre em Administração na linha de Empreendedorismo, Inovação e Mercado e atual diretor de Inovação e Desenvolvimento Econômico do município de Campo Mourão.