Ano novo, mas erros na economia brasileira são antigos

Terminamos 2024 e iniciamos o novo ano com turbulências na economia, como podemos perceber pelos movimentos na taxa de câmbio e na bolsa de valores, por exemplo. Podemos culpar o mercado e seus especuladores gananciosos, mas estamos apenas colhendo o que plantamos em anos anteriores.

O aumento dos gastos públicos em relação ao PIB, mesmo em momentos de crescimento expressivo de arrecadação de impostos tem gerado crescimento da economia e redução do desemprego, mas à custa de uma elevação da razão dívida/PIB e da inflação, ou seja, é um crescimento forçado que gera instabilidade e menor crescimento em um próximo momento, além de uma possível recessão. O pior é que passamos pelas consequência de tais políticas em um passado recente, o que gerou a crise econômica que passamos entre 2014 e 2016, quando o PIB apresentou retração de 7% com consequente elevação da taxa de desemprego.

Torço muito pelo sucesso econômico e social do nosso país, mas me desanimo ao ver os mesmos erros sendo cometidos com vários analistas econômicos apontando, de forma clara, um caminho melhor, ou seja, o de responsabilidade fiscal”

O atual aumento dos gastos públicos, que deve se manter durante o novo ano, tem estimulado a demanda e a economia. Dessa forma, as empresas contratam mais pessoas e a taxa de desemprego cai. O problema é que, a partir de determinado ponto, as empresas passam a ter dificuldade em encontrar trabalhadores, com o processo de disputa pela mão de obra disponível levando ao crescimento do salário médio o que, por sua vez, gera aumento de custos de produção e consequente pressão inflacionária.

Adicionalmente, o crescimento dos gastos tem levado ao aumento do déficit público e, dessa forma, da razão dívida/PIB. Os investidores e empresários começam a duvidar da capacidade do governo em honrar sua dívida e, portanto, ocorre queda de investimentos e fuga de capitais, levando à depreciação cambial. O aumento do dólar faz com que os produtos importados e as commodities aumentem de preço em reais, levando a pressões inflacionárias adicionais.

Devido às pressões inflacionárias, o Banco Central é levado a adotar uma política monetária restritiva, ou seja, entra em um ciclo de elevação dos juros. No entanto, isso ocorre através da redução do nível de atividade da economia, em especial dos investimentos. Portanto, o crescimento que ocorre pelo aumento sistemático dos gastos públicos leva a uma trajetória tortuosa que reduz o crescimento em um futuro próximo, com efeitos negativos sobretudo sobre os investimentos. Políticas de expansão dos gastos públicos devem ser utilizadas em momentos de recessão e elevado desemprego e não em um cenário como o dos últimos dois anos. Adicionalmente, os problemas fiscais de hoje reduzem a capacidade de reação, reduzindo a capacidade de reação quando o país passar por uma nova recessão.

Torço muito pelo sucesso econômico e social do nosso país, mas me desanimo ao ver os mesmos erros sendo cometidos com vários analistas econômicos apontando, de forma clara, um caminho melhor, ou seja, o de responsabilidade fiscal. Temos vários outros desafios a serem enfrentados neste novo ano para que nosso país possa apresentar avanços sustentáveis na economia e na sociedade, de uma forma geral. No entanto, não há como esperar muito se não conseguimos nem resolver a questão fiscal. A plantação é opcional, mas a colheita é obrigatória! Espero que, a partir de 2025, o país possa plantar sementes melhores.

Luciano Nakabashi é doutor em economia e professor associado da FEARP/USP