Políticas, políticos, politicagens, por Alexandre Leidens

Arrisco-me a estar atrasado para falar de política num âmbito municipal; no entanto, ainda que muitas das definições partidárias, avaliações de apoio ou aliança política estejam em curso, creio que o assunto se mantenha importante. Não falo de uma cidade em específico nem me arrisco a citar um determinado prefeito, vice ou vereador. O fato é que amanhã ou depois os candidatos e seus correligionários começarão a bater na nossa porta, aparecer nos nossos trabalhos, encher as memórias dos nossos celulares com vídeos, deixar santinhos nas nossas caixas de correio, e, claro, se maquiar e engrossar a voz para aparecer na televisão.

Gostaria então de solicitar aos grupos políticos, sejam de direita, de esquerda, de centro ou um tanto diagonais, que avaliem com calma antes de sugerir candidatos, sobretudo para o cargo de vereador. É óbvio que não existe o candidato perfeito para cargo nenhum; entretanto, escolher alguém com discernimento é o mínimo que se pode esperar e, sinceramente, parece até meio ridículo escrever isso. Faço esse apelo sobretudo porque nós cansamos de ver candidatos que mais tendem para a pachorra do que para o pleito e, acredito, passamos da fase do político palhaço e do palhaço político.

Continuemos: o Brasil é um país continental e, por mais que não seja necessária uma formação acadêmica específica para nenhum candidato, poder escolher alguém com conhecimentos básicos sobre o país em que vive evitaria de antemão inúmeras situações vexatórias. Posso dizer, com a certeza de quem acompanha a política há muitos anos e conversa bastante com outros interessados no assunto, que não há mais espaço para políticos que censuram livros nem para políticos que falam barbaridades como bem entendem e se acham injustiçados quando cobrados, principalmente em cidades pequenas. A conjuntura do mundo contemporâneo não permite um desdém como nos anos oitenta e noventa, quando era comum ouvirmos a frase “eu não gosto de política” antes mesmo de qualquer debate.

Além disso, temos de convir que não há espaço nem paciência para pessoas como a então assessora de um deputado de Santa Catarina que, perante uma absurda tragédia climática assolando o Rio Grande do Sul, declara numa Rede Social algo como “Não é a toa que a mãe Terra esta limpando o lugar que mais consome carne do Sul do país”. Eu nasci naquele Estado e, sinceramente, me nego inclusive a comentar uma bobagem dessas. Minha cidade não foi afetada tão fortemente; entretanto, sinto intensa revolta quando percebo a que ponto pode chegar a ignorância de quem acha estar acima do bem e do mal por um posto político. Ninguém mais tem paciência para políticos ou grupos políticos que tratam todas as questões da realidade como um mundo maniqueísta, divido entre nós e eles, semelhante a um futebol de rua entre bairros, numa ampla e completa grenalização, perdão pelo termo pouco usual por aqui; todavia, uma vez que citei o Rio Grande do Sul, achei pertinente. Lembrando que política não é como o futebol, caso haja alguma dúvida.

Os senhores prováveis candidatos que me desculpem, mas não dá mais para aguentarmos vereadores que não sabem, por exemplo, qual o trabalho de um conselheiro tutelar. Da mesma forma, não dá para aguentar políticos que não conhecem um mínimo da história da sua cidade e região, que não consomem um mínimo de cultura, que votam a favor ou contra projetos sem sequer fazer uma leitura atenta do texto em questão. Vimos há pouco, aqui mesmo no Paraná, uma briga na câmara de vereadores de um município porque houve uma mudança na posição em que se sentavam durante a sessão. Por óbvio, fico pensando se não há nada mais importante para ser debatido naquele momento. Além disso, me coloco no lugar da pessoa que votou no tal vereador, que talvez esteja com problemas para serem resolvidos na sua rua ou no seu bairro e o assiste discutir fervorosamente pelo lugar em que vai sentar durante uma hora e meia, quando muito, nas sessões semanais da câmara.

Para não me alongar nos exemplos, pois sabemos que são inúmeros, vou sugerir uma pauta para os primeiros meses de governo no próximo ano. Convido algum futuro vereador a elaborar um projeto de lei prevendo um abreviamento do salário da câmara para um salário mínimo, contrapondo-se aos esperados reajustes de início de mandato. Começar com uma perspectiva um pouco diferente pode fazer bem, afinal, mudanças são sempre bem-vindas, não é? Claro, caso achem essa proposta muito abrasiva, talvez seja interessante uma doação automática do alto valor sobressalente para as APAEs dos municípios, ou para os asilos, ou para os hospitais públicos. Imaginem, futuros candidatos e representantes do povo, como seria estrondosa a repercussão de um projeto como esse. A pergunta, no fim das contas, é: temos algum político ou grupo político tão interessado em mudar o panorama dos municípios a ponto de sugerir algo parecido?

Alexandre Leidens