Sistema binário no trânsito: vilão ou solução?

O sistema binário de circulação no trânsito consiste em transformar ruas ou avenidas paralelas e próximas, que antes eram de mão dupla, em vias de sentido único. Com todos os veículos seguindo na mesma direção, diminui-se o risco de acidentes e melhora na fluidez do trânsito.

Em nossas cidades, temos diversas avenidas que interligam grandes áreas da cidade. Desaguando nessas avenidas, temos várias ruas que se conectam a elas. No entanto, no trânsito, é comum que os fluxos se cruzem e sigam em sentidos opostos. Quando veículos das ruas cruzam com os das avenidas, ocorre um entrelace, conhecido como conflito viário.

Vamos fazer as contas: em um cruzamento simples entre uma avenida e uma rua, sem restrição de circulação, onde os veículos podem realizar qualquer movimento, são gerados 16 pontos de cruzamento ou 16 pontos de conflito. Quando se restringem os movimentos na circulação viária, como na implantação de um sistema binário, onde a avenida só vai no sentido leste e a rua só no sentido norte, por exemplo, esse número é reduzido para apenas 4 pontos de cruzamento ou 4 pontos de conflito.

Essa redução significativa de pontos de conflito melhora a segurança e a fluidez do trânsito, tornando o sistema binário uma solução eficaz para a gestão do tráfego urbano. Isso reflete em menos veículos conflitando entre si.

Ao implantarmos o sistema binário, o objetivo é direcionar o fluxo de veículos em um único sentido, tornando o trânsito mais fluido. Para que isso funcione de maneira eficiente, é necessário alternar o sentido de fluxo nas vias: “uma só vai e a outra só vem”. Isso ajuda a organizar melhor o tráfego e a reduzir os pontos de conflito.

Com todas as faixas de uma via direcionadas para o mesmo sentido, o fluxo de veículos se torna mais contínuo e rápido. Isso diminui o tempo de viagem e melhora a eficiência do transporte público, já que os ônibus, por exemplo, podem se deslocar com mais facilidade.

Além disso, essa configuração aumenta a segurança. Com menos cruzamentos e conflitos entre veículos que vêm em direções opostas, o risco de acidentes diminui. Pedestres e ciclistas também se beneficiam, pois, a organização do tráfego se torna mais previsível e segura.

Outro ponto positivo é a melhoria na utilização do espaço urbano. Ao transformar vias de mão dupla em vias de sentido único, é possível criar mais faixas de circulação, ciclovias e áreas de estacionamento, otimizando o uso do espaço disponível.

O sistema binário é uma estratégia que divide opiniões. Por um lado, ele promete melhorar a fluidez do trânsito, reduzir congestionamentos e aumentar a segurança ao transformar ruas de mão dupla em vias de sentido único. Isso pode otimizar o uso do espaço urbano e facilitar a circulação de veículos, pedestres e ciclistas.

Por outro lado, a implementação desse sistema pode enfrentar resistência de moradores e comerciantes locais, que podem se preocupar com mudanças no acesso e na circulação. Além disso, há o desafio de adaptar a infraestrutura existente e garantir que todos os usuários da via se beneficiem igualmente.

Portanto, o sistema binário pode ser visto tanto como uma alternativa eficaz para problemas de mobilidade urbana quanto como um vilão que traz desafios e controvérsias. A chave está em um planejamento cuidadoso e na comunicação com a comunidade para garantir que os benefícios superem as desvantagens.

Outro ponto importante é a infraestrutura viária. Muitas cidades, especialmente as mais antigas, têm ruas estreitas que não comportam estacionamento e duas faixas de rolamento com sentidos opostos. Nesses casos, a implantação do sistema binário ou a conversão dessas vias em mão única são inevitáveis, especialmente considerando o grande volume de veículos em circulação.

O sistema binário vem para ordenar o fluxo de trânsito e garantir maior segurança, pois a quantidade de conflitos é reduzida significativamente. No entanto, na prática, vemos desrespeito à sinalização, aumento de velocidade em vias locais e não cumprimento das regras de trânsito, apesar de tudo isso ser ensinado na autoescola. Esses problemas devem ser considerados como fatores humanos, e não como falhas do sistema binário.

Com o crescimento das cidades e o aumento das frotas de veículos, não é viável alargar ruas e diminuir calçadas, pois isso privilegia apenas os veículos. Essa abordagem vai na contramão das tendências modernas de mobilidade urbana, que buscam equilibrar o espaço entre veículos, pedestres e ciclistas.

Priorizar apenas os veículos motorizados contribui para o aumento dos congestionamentos, poluição e acidentes, além de reduzir a qualidade de vida dos moradores. Em vez disso, é essencial investir em soluções que promovam o transporte público eficiente, ciclovias seguras e calçadas amplas e acessíveis. Essas medidas não só melhoram a mobilidade urbana, mas também incentivam meios de transporte mais sustentáveis e saudáveis.

Cidades como Curitiba/PR, Campinas/SP e Santos/SP, implantaram o sistema binário em diversas regiões de suas cidades. Esses são exemplos de sucesso que ajudaram a reduzir o congestionamento e aumentar a segurança nas vias.

Dar uma volta a mais ou precisar contornar o quarteirão para chegar ao seu destino pode parecer um gasto extra de tempo e combustível. No entanto, quando consideramos a segurança, isso se torna inestimável. Como diz uma frase popular: “É melhor chegar atrasado neste mundo do que adiantado no outro”.

A segurança de todos deve ser sempre a prioridade máxima, pois, no final das contas, chegar com segurança é o que realmente importa.

Por Cristiane Ap. Homan Razzini, Engenheira de Tráfego – [email protected]

* As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal