Trânsito vivo: um comparativo entre homicídios e sinistros de trânsito
Um estudo recente do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV; UFPR 2024) comparou a evolução de homicídios por armas de fogo e sinistros de trânsito, entre 2009 e 2022. Em linha com a realidade global, o Brasil enfrenta uma crise de saúde pública relacionada à violência, com destaque para homicídios por armas de fogo e sinistros de trânsito, que juntos correspondem a cerca de 10% dos óbitos mundiais.
O objetivo principal do estudo foi analisar como as taxas de mortalidade por homicídio por arma de fogo e por sinistros de trânsito evoluíram nas principais cidades brasileiras. A escolha das cidades se justifica por sua representatividade em relação à diversidade regional do país, permitindo uma análise mais abrangente do problema e a identificação de padrões e tendências.
A metodologia consistiu na coleta de dados sobre homicídios, especificamente por arma de fogo, e estatísticas de sinistros de trânsito nas bases do DataSUS para os 47 municípios brasileiros mais populosos, abrangendo todas as capitais. Em seguida, foram realizadas análises estatísticas para comparar as taxas de mortalidade por essas duas causas.
No Paraná, as cidades de Curitiba e Londrina foram analisadas. Curitiba, com uma população de 1.773.718 habitantes, apresentou uma taxa de homicídio de 20,35 por 100 mil habitantes, enquanto Londrina, com 555.965 habitantes, registrou uma taxa de 20,68, considerando os mesmos parâmetros.
Essa variação, embora menor do que a observada em nível nacional, demonstra a importância de analisar cada contexto local. Em todo o país, São Paulo apresentou a menor taxa (3,00 por 100 mil habitantes), enquanto Feira de Santana (BA) registrou a maior (65,39 por 100 mil habitantes), evidenciando a desigualdade regional no que diz respeito à violência.
Com uma taxa média de 20,36 homicídios por 100 mil habitantes, o Brasil apresenta um dos índices mais elevados do mundo. A distribuição regional é marcada por disparidades, sendo o Nordeste a região mais violenta, concentrando 43,44% dos casos, seguido pelo Sudeste (23,21%), Norte (14,13%), Sul (11,34%) e Centro-Oeste (7,88%).
Essa desigualdade revela a necessidade de políticas públicas específicas para cada região, considerando as particularidades de cada contexto. O estudo destacou que a violência por armas de fogo no Brasil, no ano de 2022, registrou 33.227 homicídios, sendo este um grave problema de saúde e segurança pública.
Com relação aos óbitos por sinistro de trânsito, no ano de 2022, o Brasil registrou 33.426 mortes no trânsito. O estudo destaca que a violência no trânsito é um problema crônico no Brasil, com mais de 380 mil vidas perdidas entre 2011 e 2020 e que a frequência com que esses óbitos ocorrem é preocupante, sendo que a cada 12 minutos uma pessoa morre em um sinistro de trânsito no país, o que se traduz em uma média de 5 mortes por hora, segundo o ONSV.
A taxa de mortalidade no trânsito varia significativamente entre as regiões brasileiras, sendo o Centro-Oeste com o maior índice (23,44 por 100 mil habitantes), Norte (20,10), Sul (19,86), Nordeste (18,91) e Sudeste (12,78). Já entre as capitais brasileiras, em 2022, Palmas (TO) registrou uma taxa elevada, com 25,77 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto São Paula (SP), apresentou a menor, com apenas 3,67. Nossa capital, Curitiba, apresentou uma taxa de 12,69 óbitos por 100 mil habitantes.
Ao comparar as mortes por armas de fogo e no trânsito, o estudo identificou que, em 38,30% dos municípios brasileiros, os sinistros de trânsito são a principal causa de morte violenta. Cidades como Cuiabá e Florianópolis, com aumentos de 110,89% e 44,06%, respectivamente, reforçam essa tendência.
O estudo é claro: a situação exige ações imediatas e coordenadas para reduzir drasticamente os índices de homicídios e de mortes no trânsito. A implementação de políticas públicas eficazes é fundamental para garantir a segurança da população. A solução passa por investimentos robustos em infraestrutura viária, promoção da educação para o trânsito, fortalecimento da fiscalização e utilização de tecnologias para monitorar e prevenir a violência. A integração entre os órgãos de segurança pública, trânsito e saúde é essencial para garantir a eficácia dessas medidas.
Em 2023, Campo Mourão registrou um total de 36 homicídios intencionais, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Paraná. Por outro lado, a Secretaria de Saúde do Estado (SESA) contabilizou 22 óbitos em decorrência de sinistros de trânsito no município. Desse total, 4 envolveram pedestres, 2 ciclistas, 8 motociclistas e 8 ocupantes de automóveis. A comparação entre os dados revela que, embora a violência intencional seja um problema relevante, os acidentes de trânsito também representam uma significativa ameaça à vida dos moradores de Campo Mourão.
A análise dos dados de mortalidade em Campo Mourão revela que a taxa por violência intencional é 33,33% superior à taxa de mortalidade por sinistros de trânsito, indicando que a primeira é um problema mais grave para a cidade. No entanto, se analisarmos os dados mais a fundo, notaremos que os sinistros de trânsito, embora menos frequentes que a violência intencional, resultam em um número similar de mortes, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais eficazes para prevenir acidentes e salvar vidas nas ruas.
Essa realidade exige um esforço conjunto de todos os setores da sociedade para promover a segurança viária e reduzir o número de mortes causadas tanto pela violência intencional quanto pelos acidentes de trânsito em nossa cidade.
Referência: ONSV; UFPR (2024). Comparativo entre Homicídios por Armas de Fogo e Sinistros de Trânsito. Observatório Nacional de Segurança Viária e Universidade Federal do Paraná. Disponível em: https://www.onsv.org.br/pdi/comparativo-entre-homicidios-por-armas-de-fogo-e-sinistros-de-transito
Por Cristiane Ap. Homan Razzini, Engenheira de Tráfego – [email protected]