O Torto faz 20 anos e recebe Rita Cadillac

Maior acervo do país sobre a história de “Mané Garrincha”, o bar O Torto, de Curitiba, completou esta semana duas décadas de existência. E a comemoração, na última segunda, 10, teve de tudo, um pouco. A começar com a presença de duas filhas e uma neta do craque brasileiro. A noite acabou ainda mais brilhante com a visita ilustre da ex-chacrete, Rita Cadillac. Ao som de músicas dos anos 80 – Wando, Amado Batista e Richie -, ela dançou sobre a única mesa de bilhar. Uma plateia com cerca de 600 pessoas gritou o seu nome.

Não adianta. Têm coisas que só acontecem em Curitiba. Na esquina das ruas Duque de Caxias e Paula Gomes, ao pé do Largo da Ordem, a noite não contou apenas com a estrela de “Garrincha”. Ali, num espaço de pouquíssimos metros quadrados, entre três paredes repletas de fotos e recordações do craque, boêmios celebraram O Torto. E eram muitas as estrelas.

A multidão começou a chegar às 18h. E em plena segundona brava, ao som do bom e velho Rock and Roll, ao vivo, gente de todas as tribos iniciaram o tributo ao Torto. Ponto de encontro dos finais de tardes da capital paranaense, o boteco sempre inspirou bons papos e muita cultura. Muito em razão do proprietário, Arlindo Ventura, ou apenas, “Magrão”, o responsável pela cerveja gelada e educação generosa. Com a camisa social pra fora da calça e a velha “Havaianas” branca, ele jamais mudou. Um gentleman por trás do balcão.

A celebração contou com um discurso emocionado, quando agradeceu a vinda de familiares de “Mané”. No entanto, o ponto forte aconteceu mais adiante. Foi quando “Magrão” tirou os chinelos e colocou um tênis “boyzante”. E mandou um blazer colorido, daqueles que só mágicos utilizam. Chegando a bordo de um Cadillac, com direito a tapete vermelho e coro da multidão, Rita dançou como uma musa. Rebolou como uma chacrete. E semeou empatia como uma dama. Todos gritaram. Aplaudiram. Tem coisas que só acontecem em Curitiba.

Mesmo sem saber o que acontecia naquela esquina, muita gente parou para assistir. Homens e mulheres. Ricos e pobres. Velhos e jovens. Uma plateia de muitas cores. “Eu nem vou catar mais latinhas hoje. Vou assistir a Rita. Sempre foi minha musa”, dizia José, um reciclador que por ali passava. Ele simplesmente não acreditava no que estava vendo, ainda mais, com um show, praticamente, em meio a rua.

E, falando na via, ela acabou fechada de tanta gente aglomerada. Todos os celulares voltados à musa dos anos 80. E, com uma noite inesquecível, como não podia deixar de ser, a maioria das pessoas saiu torta. Literalmente.

O Torto

Criado há 20 anos, O Torto é um bar temático em homenagem ao Anjo de Pernas Tortas, como “Garrincha” foi apelidado. Localizado no centro velho de Curitiba, o nome tem duplo sentido. Primeiro ao craque, depois aos clientes, que deixam o local como não chegaram.

Fã indiscutível de Manoel Francisco dos Santos, ou simplesmente “Mané”, “Magrão” foi cultivando no decorrer da vida retratos e recordações do jogador brasileiro. Então, com uma coleção invejável, possivelmente a maior do país, criou o bar. Há alguns anos a própria Elza Soares, a última companheira de “Garrincha”, visitou O Torto. E chorou ao ver a homenagem.

Garrincha

Manoel Francisco dos Santos, o maior driblador da história do futebol, nasceu em Pau Grande, Magé, no Rio de Janeiro em 1933. Ficou conhecido por vestir, particularmente, duas camisas: Botafogo e Seleção Brasileira.

Gênio dos campos, nasceu acometido por vários problemas congênitos. Era estrábico. Tinha desequilíbrio da pelve. O joelho direito era diagnosticado com valgismo. Além de possuir seis centímetros de diferença de comprimento entre as pernas. Daí o apelido de Anjos de Pernas Tortas.

Antes de morrer, em 83, fez fama no mundo. Vestia a camisa 7, sendo considerado até hoje um dos maiores pontas direita de toda a história. Com a Seleção Brasileira foi Bi Campeão Mundial, nas Copas de 58 e 62.

“Magrão” agradeceu a visita da neta (esquerda) e das duas filhas de “Mané Garrincha”