Onda de furtos em cemitério de Araruna gera revolta: ‘nem os mortos podem descansar’
A moradora de Campo Mourão, Elaine Damazio Simoneli, visita pelo menos uma vez ao mês o túmulo do esposo no Cemitério Municipal da cidade de Araruna. Mas nesta sexta-feira (27) teve uma surpresa quando verificou que as peças em bronze do jazigo tinham sido furtadas. Revoltada com a ação criminosa, ela fez registro do crime em vídeo e fotografias e fez um boletim de ocorrência na delegacia de Polícia Civil de Campo Mourão para que providências sejam tomadas. “Dá uma tristeza, porque é um ente querido da gente. É revoltante. Faltam palavras para expressar o que estou sentindo. Não é fácil não. E inadmissível. Dá uma dor no coração”, expressou Elaine, revoltada.
Ela denunciou que do túmulo do marido foram furtadas cinco peças de bronze, como placas que levam nome e data de nascimento e moldura da fotografia. Elaine disse que ficou sabendo dos furtos no local nessa quinta-feira (26), pela sogra, que reside em São Paulo e nesta sexta foi ao cemitério para conferir o túmulo do esposo, encontrando a lápide sem as peças de bronze. “Está um descaso lá”, denunciou.
O caso de Elaine não é isolado, andando pelo cemitério dá para ver que são inúmeros os túmulos que tiveram peças furtadas. O local não tem vigia nem câmeras de segurança o que facilita a ação de criminosos. “A revolta maior não é nem tanto pelo valor do prejuízo, mas pela ferida aberta na gente. Envolve uma questão sentimental. Nem os mortos podem descansar”, desabafou. “É um total desrespeito. Sentimento de indignação”, acrescentou. Ela disse esperar que uma solução seja adotada pelas autoridades. “Não dá para aceitar que essa situação continue acontecendo. Não existe isso”, disse revoltada.
Situação descontrolada
O administrador do ‘Campo Santo’, Isaac Fialho, que começou a trabalhar no local aos 12 anos quando o pai ainda era coveiro do cemitério, informou que a onda de furtos no ‘Campo Santo’ está bastante preocupante e descontrolada. Para se ter ideia, somente neste mês de dezembro foram quatro registros de furtos no local. Segundo Fialho, aproximadamente 400 túmulos tiveram peças de bronze furtadas neste período. Ele estima que em torno de 400 quilos de bronze foram levados pelos ladrões, um prejuízo de cerca de R$ 12 mil.
“A coisa está descontrolada por aqui. Está feia”, lamentou. O administrador informou que a última ação dos marginais aconteceu na noite dessa quinta-feira (26). Somente nessa ação entre 70 a 80 túmulos foram furtados. Em alguns casos, além de levarem as peças em bronze, os bandidos deixam estragos para trás, como túmulos quebrados e pedras de granito danificadas.
Mesmo correndo perigo, Fialho informou que chegou a frustrar uma das ações dos criminosos no começo deste mês. Os bandidos entraram no local para furtar por volta das 9 horas. “Neste dia quando perceberam a minha chegada saíram correndo deixando várias placas para trás. Conseguimos recuperar uma boa parte das peças que eram levadas. Mas nos demais furtos não tivemos a mesma sorte”, relatou. O administrador informou que em uma das ações os bandidos furtaram até fios de cobre deixando o local sem energia elétrica. “O nosso cemitério pede socorro. É muito triste chegar a uma situação desta”, lamentou.
Fialho informou que os bandidos costumam agir à noite ou durante a madrugada para facilitar a ação e passarem despercebidos. Mas segundo ele, ultimamente estão invadindo o local para furtar ‘quando setem vontade’. “Só pode ser o sentimento de impunidade que leva uma pessoa a fazer uma coisa dessa. A polícia pode até prender às vezes, mas não ficam nem dois dias atrás das grades e já voltam para as ruas cometendo o mesmo crime”, opinou. “A verdade é que aqui a gente não tem mais paz porque sabe que eles [os ladrões] podem voltar a qualquer momento”, preocupou-se.
O administrador disse que fez um boletim de ocorrência dos furtos na Polícia Militar. Ele pede a moradores que têm entes queridos no local que visitem os túmulos para levantar a situação e fazer boletim de ocorrência em caso de furtos. “Se não fizer boletim de ocorrência fica ainda mais difícil adotar alguma medida”, frisou, ao comentar que se tem gente furtando é porque tem receptador comprando as peças.
Fialho disse que está orientando famílias com entes queridos sepultados no local a evitarem a utilização de peças de bronze para diminuir os furtos. “Sempre que vai ter um sepultamento já oriento a fazer as molduras das placas em granito”, disse. O administrador comentou que solicitará ao prefeito eleito, Gustavo França, a implantação de um sistema de monitoramento por câmeras de segurança e a contratação de um vigia para deixar o local protegido dos marginais. “Eu que cresci aqui ajudando meu pai fico muito triste com o que está acontecendo. É realmente muito revoltante”, afirmou.
O cemitério de Araruna fica na entrada da cidade. Apesar de ocupar a mesma área é divido em duas partes: o ‘cemitério velho’, com 1.502 túmulos e o ‘cemitério novo’ com mais cerca de 800. Fialho acrescentou que a maior parte dos furtos está concentrada no cemitério velho. “Estão furtando bronze, quando acabar o bronze não tenho dúvidas de que passarão a levar alumínio também. Alguém tem que fazer alguma coisa para impedir estes criminosos”, pediu.
Investigação
A TRIBUNA conversou com o prefeito de Araruna, Leandro Oliveira, que lamentou o caso. Ele disse que já se reuniu com a Polícia Militar do município, que está fazendo um trabalho de investigação em conjunto com a Polícia Civil para prender os autores dos furtos.
“Mais do que isso, a polícia está investigando para chegar ao receptador. Se tem gente furtando é porque tem gente comprando este material”, afirmou. “Ficamos tristes pelos familiares que passaram ou estão passando por esta situação. Mas a polícia já está fazendo um trabalho investigativo e esperamos, tão logo que estes delinquentes sejam presos”, comentou.
Oliveira lembrou que até pouco tempo a cidade vinha sofrendo também com furtos de fiações de cobre da rede elétrica. Ele disse que a prefeitura passou a substituir os fios em cobre por fios de alumínio, o que reduziu os furtos. “Acredito que no cemitério, não só em Araruna, mas em toda a região este vai ser o caminho também, substituir cobre, que tem um valor mais alto no mercado, por alumínio”, prevê.