Sem efetivo e falta de viaturas, Comcam vive insegurança. Prefeitos pedem socorro a Governador

O aumento da criminalidade nas cidades da região de Campo Mourão tem preocupado a população e os prefeitos. A insegurança tomou conta dos municípios. Em meio à cobrança dos moradores, gestores convocaram uma reunião com o comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Campo Mourão, tenente coronel Adauto Nascimento Giraldes Almeida, para cobrar soluções. No encontro, realizado na manhã desta terça-feira (8), no formato online, os prefeitos decidiram que marcarão uma agenda oficial da Comcam com o Governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), para pedir, com urgência, socorro na área de segurança pública.

Pelos dados apresentados aos prefeitos, a principal dificuldade no combate ao crime nos municípios de abrangência do 11º Batalhão tem sido principalmente a falta de efetivo, que hoje está reduzida pela metade, e de viaturas. Para se ter ideia, o batalhão necessitaria de no mínimo de 350 policiais militares. No entanto, o efetivo não chega nem a 200. Por motivos de segurança pública, a TRIBUNA não divulgará o número exato de policiais na ativa.

Já em relação às viaturas, o correto seria cada município ter no mínimo uma. Mas não é o que acontece. Em 14 municípios elas são compartilhadas, assim como os policiais. Ou seja, em casos de ocorrências, o militar tem de se deslocar de uma cidade a outra para atendimento.

Enquanto isso, por outro lado, a criminalidade só aumenta. Para se ter ideia, somente em 2021 Campo Mourão registrou 32.000 furtos. Os números são menores comparados a 2019, quando foram mais de 40 mil, mas a polícia acredita que a população deixou de denunciar. Houve crescimento também de roubos. Neste caso, a maioria das vítimas, 85%, são mulheres.

De acordo com o comando do 11º Batalhão, uma boa parte das ocorrências envolvendo furtos a população nem liga mais à Polícia Militar para fazer o registro por desacreditar na resolução do crime. Na maioria dos casos, os autores são presos, mas acabam soltos, voltando à reincidência. Conforme dados, 80% dos crimes na região são os mesmos criminosos que praticam. “Hoje minha maior fraqueza é falta de efetivo”, resumiu o tenente coronel ao ser questionado pelos prefeitos. Com isso, policiais estão sendo submetidos a jornadas exaustivas. E muitos, inclusive, estão adoecendo.

O comandante respondeu ainda aos gestores que a falta policiais atrapalha todo o planejamento de trabalho. “Me falta tanto que não sei nem o que fazer. Tenho 50% do meu efetivo, não tenho viatura, a criminalidade está aumentando e fico sem possibilidade de poder planejar”, comentou, ao ser questionado pelos prefeitos sobre o que pode ser feito para redução da criminalidade na Comcam.

Os prefeitos cobraram também explicações sobre uma viatura semi blindada para atender a Rotam, destinada ao batalhão de Campo Mourão, que acabou sendo enviada posteriormente para Cascavel. Cogita-se que o veículo foi transferido de unidade por interferência política. Segundo informações, todos os batalhões do Paraná receberam viaturas semi blindadas para Rotam, menos Campo Mourão. Além disso, a frota inteira de viaturas do 11º Batalhão é velha.

A atenção dos prefeitos está voltada agora também à contratação de 2 mil policiais no próximo ano pelo Governo do Estado. Eles deverão se formar até dezembro deste ano. Apesar da defasagem de 164 policiais militares, há reivindicação do comando do batalhão de Campo Mourão que destes 2 mil, 100 se formem na escola de soldados no município para que sejam alocados na região.

Desabafo

Além de preocupados com a situação de segurança pública nos municípios, prefeitos dizem estar desapontados com a situação devido a cobranças já feitas, mas sem qualquer resposta. “Pelo que sinto, o coronel fez um desabafo e um apelo. Um pedido de ajuda para nós prefeitos”, comentou o presidente da Comcam, Leandro Oliveira, prefeito de Araruna.

Conforme Oliveira, pelas informações repassadas aos gestores, os policiais militares estão sendo ‘sugados’. “E esta história do carro blindado é algo que não podemos engolir. Não recebemos nada no nosso batalhão e vamos ter que sentar com o governador e cobrar isso dele”, afirmou. “Não podemos deixar isso passar em branco. Somos parceiros do governo sim, mas temos que cobrar. Até para apoiar temos que ter resposta”, afirmou.

O prefeito informou que somente nos últimos dias o município teve um prejuízo de cerca de R$ 10 mil em furtos de fiações elétricas de repartições públicas. “Isso demonstra o quanto estamos vulneráveis à criminalidade. Está virando um caos”, destacou.

O prefeito de Barbosa Ferraz, Edenilson Miliossi, disse que na sua cidade a situação não é diferente. “Temos pouquíssimos policiais para atender cinco distritos e os municípios de Corumbataí do Sul e Fênix. Uma defasagem muito grande. Temos que encampar esta luta. Se a gente não fizer isso, imagine o caos até o fim do ano”, preocupou-se.

Em Nova Cantu, o prefeito Airton Agnolin afirmou que o município já chegou a ter 8 policiais militares e hoje tem apenas quatro. “Precisamos de viaturas e de policiais. Hoje com quatro militares já tivemos que cobrir Roncador, Nova Cantu e até Ubiratã. Agora imagine no fim de semana”, questionou.

Já o prefeito de Mamborê, Ricardo Radomski, cobrou uma audiência diretamente com o governador para discutir o problema. “Secretário não resolve nada. Mamborê estava sem viatura em dezembro. Fui para Curitiba, me prometeram uma no começo deste ano, mas até agora nada. Precisamos nos impor com o governador. Se estão atendendo Cascavel e outras regiões porque não estão nos atendendo também. Mamborê é Comarca, é corredor do Mercosul e tem várias estradas de escape dos bandidos. A polícia tem que ter viaturas boas que possam atender as ocorrências. Não dá mais para ficar passando a mão”, desabafou.

Os prefeitos de Farol, Oclécio Meneses, e de Peabiru, Julio Frare, também lamentaram a situação. “A falta de efetivo é uma dificuldade muito grande e uma necessidade antiga. Hoje o número de policiais é o mesmo de 20 anos atrás. Enquanto isso, a criminalidade aumentou. Mas temos conversado com o governo Ratinho Junior e parece que eles estão vendo para começar ‘arrumar a casa’, mandar mais policiais para a gente e viaturas”, comentou.

Atualmente Farol compartilha policiamento militar com Janiópolis. “A gente até brinca que os bandidos chegam de Land Rover para assaltar e nós estamos praticamente a pé para correr atrás deles. Temos que nos reunir e buscar uma solução para isso”, frisou.

Já Julio Frare defendeu que é ‘inaceitável’ a Comcam perder para todas as microrregiões mesmo com o governador tendo apoio da maioria dos prefeitos. “Temos que pegar firme nesta questão de segurança. É uma situação que envergonha todo mundo. As pessoas nos cobram e querem que a gente garanta a segurança”, falou, ao ressaltar que desde agosto do ano passado ele e o prefeito de Araruna vem frequentemente cobrando o Estado sobre o problema. “Estivemos na secretaria de Segurança, lideranças do governo, com o Delegado Geral do Estado e pedimos ajuda. Mas até hoje estamos a ver navios”, criticou.