Vanusa trilhou uma estrada sem voltas

Janiópolis, 6 de dezembro de 2022. Já era madrugada quando policiais adentraram a casa número 33 da Rua Campo Mourão, no centro da cidade. Lá, num dos quartos, uma velha geladeira caída escondia o corpo de Vanusa Pereira da Silva. Aos 25 anos, a moça estava desaparecida desde a sexta-feira, 2 de dezembro. Dia em que um dos irmãos decidiu fazer um boletim de ocorrências sobre o seu sumiço. O que a família não sabia é que a jovem havia caminhado por uma estrada sem volta. Estava em um relacionamento com um homem casado. A ideia não podia dar certo. Como não deu.

Vanusa era a caçula de quatro irmãos. Nasceu em Boa Esperança. Sempre com um sorriso fácil, demonstrava empatia a quem a conhecia. Teve um relacionamento com um homem há sete anos. A relação não durou. Mas, diferente do resultado, ficou a filha, hoje com seis anos. Apesar do amor incontestável pela menina, perdeu sua guarda há pouco mais de um ano. A justiça entendeu que ela não possuía condições de cuidar da criança. O motivo: drogas.

Conta Simone, a irmã de 35, que Vanusa sempre foi uma pessoa normal. Mantinha simples desejos humanos, como qualquer um, como por exemplo, constituir uma família, ser feliz. Mas acabou conhecendo gente que não devia. Gente da pesada. Gente que não presta. Foi apresentada às drogas. Por fim, quando viu, já estava no crack. E esta, foi a sua última parada.

Vanusa tinha a irmã Simone e outros dois irmãos. Todos trabalhadores. Tiveram exemplos de honestidade do pai, morto há dez anos, e da mãe, uma modesta dona de casa. “Eu ainda não entendo como ela se desgarrou de tudo o que aprendeu com a gente. Não sabemos como entrou nas drogas. É uma pena que tenha acabado assim”, descreveu Simone, com os olhos marejados.

Dias antes de sumir, Vanusa foi até a casa do irmão. Era ele quem mantinha a guarda da filha. “Ela chegou e disse que queria muito ver a menina. E que, possivelmente, seria a sua despedida. Seria a última vez que a veria. Diante do que ela disse, acreditamos que já estava sendo ameaçada de morte”, relatou Simone. De acordo com ela, a família já sabe o que aconteceu. Porque aconteceu. E quem a matou. “Ela se meteu na vida de um homem casado e a sua esposa descobriu”, disse.

Em Janiópolis, Vanusa fazia algumas diárias para sobreviver. Mas, nos últimos meses, passou a se dedicar apenas ao álcool e ao crack. A moça sempre bebeu uma cerveja como qualquer outra pessoa. Mas após a dependência química, passou a beber muito e, não mais o malte de cevada. Agora, a elevada incidência etílica da cachaça. “Por algumas vezes eu pedi a ela pra fazer um tratamento e abandonar o vício. Mas ela nunca aceitou”, revelou a irmã.

Simone a descreve como uma moça simples. Não mantinha grandes pretensões, a não ser, encontrar a felicidade. Mesmo nos piores momentos de sua vida, continuava a gastar o sorrisão. “Ela nos divertia. Encontrava motivos para gargalhar. Era a alegria em pessoa”, disse.

O cenário do crime, descrito por vizinhos como “macabro”, é uma residência em alvenaria. São dois quartos e uma cozinha junto a sala. Era alugada por homens de outras cidades que, ali vinham para trabalhar com madeira. Na última temporada, todos foram embora. Com exceção de um, cujo paradeiro ainda é indefinido. A ele recaem as suspeitas do crime. Que teria ainda a participação da esposa e de outra mulher.

O dono do imóvel mora em Maringá. Contou que sempre teve problemas com a casa. Trata-se de uma herança da mãe, morta há alguns anos. Desde então, jamais passou ao seu nome, principalmente, por não ter grana ao inventário. Nos últimos meses ele a alugava aos lenheiros. Mas quando foram embora, um deles pediu para ficar mais duas semanas. Ele deixou. Só não sabia que o fim da prosa fosse acabar desta maneira.

Segundo a família, Vanusa foi morta em consequência de traumatismo craniano. “Ela levou uma pancada muito forte na cabeça, perdendo massa encefálica. Além disso, no seu corpo foram identificadas algumas perfurações”, disse Simone. Após o crime, os autores derrubaram a geladeira, tiraram as divisórias e colocaram o corpo. Na tentativa de evitar cheiro, jogaram cal virgem. Por fim, fecharam a porta da geladeira e desapareceram. Um martelo foi encontrado escondido atrás do sofá da sala. E algumas ferramentas, como chaves de fenda, permaneciam sobre um móvel da cozinha.

De acordo com a Polícia Civil de Campo Mourão, que apura o caso, o inquérito já foi instaurado. Através de denúncias, já existem dois suspeitos. Sim, o mesmo casal do triângulo amoroso. O sujeito, que pode ser de Cascavel, com 27 anos e a sua esposa, de 29. Ambos estão foragidos. Mas como as evidências são grandes, pegá-los agora, é uma questão de tempo.

Enterro

O corpo de Vanusa chegou ao cemitério municipal de Janiópolis na quarta-feira (7). Não houve velório. Presente apenas familiares e alguns conhecidos. Assim que o caixão deixou o carro fúnebre, a mãe de Vanusa desmaiou. Ela não aceita a morte da filha. E, a bem da verdade, quem aceitaria? Ainda mais da forma como foi. E, mesmo diante dos gritos de seu desespero, as tampas de concreto foram seladas. Um Pai Nosso e uma Ave Maria foram entoados. E só. A dor da família, que dali não conseguia se levantar era forte demais. Juntos, com os corações dilacerados e, com as vozes embargadas, clamaram por justiça.