Jovem de 21 anos morre em Peabiru, família acusa município de negligência e pede Justiça
A moradora de Peabiru, Solange Lauriano, enterrou a própria filha neste domingo (2), Mariana Emanuela Lauriano da Silva, de 21 anos. A vítima deixa uma filha de apenas 4 anos. Desolada e inconformada com a perda, a mãe acusa o município de negligência médica. E pede Justiça.
Aos prantos, ela concedeu uma entrevista à TRIBUNA, denunciando o descaso com que a moça foi tratada no Posto de Saúde 24 Horas pelo município. Segundo ela, não fosse um enfermeiro do local, a jovem sequer teria conseguido transferência ao Pronto Socorro de Campo Mourão, onde morreu na madrugada de sábado (1). É a segunda morte na Unidade em uma semana. Supostamente por negligência, denunciou.
Consta no atestado de óbito de Mariana, que a causa da morte foi uma infecção generalizada no abdômen por conta de uma perfuração no estômago, causada por uma úlcera. A mãe relata que se a filha tivesse recebido o devido atendimento estaria viva hoje.
Drama
O drama de Solange com a filha começou na terça-feira (27). Às 7 horas da manhã a moça reclamava de fortes dores no abdômen. Sem pensar duas vezes, ela levou Mariana ao Posto 24 Horas. “Lá seguraram ela o dia inteiro, até quase meia noite. Medicaram com morfina e mandaram de volta para casa. Na quarta-feira (28) retornamos novamente às 7h30 com minha filha ainda sentindo fortes dores. Novamente medicaram e a mandaram para casa de novo”, relata a mãe.
Às 13h30 do mesmo dia, com a filha quase desfalecida de tanta dor, a família retornou com a paciente ao posto. “Quem atendeu ela foi um enfermeiro. Ele olhou para mim e disse: vou tentar fazer o possível para a gente salvar a sua filha porque não é o caso de ficar segurando ela aqui no 24 Horas. Tem que mandar para fora. Pelo jeito ela está com hemorragia. Mãe vou fazer o que eu puder”, falou Solange.
Iniciava ali uma corrida contra o tempo para salvar a vida da jovem. Preocupado com a situação, o enfermeiro chamou pelo menos três vezes a médica que estava de plantão na unidade e deveria fazer o seu papel. Mas não fez. Como não respondeu e não atendeu ao chamado, o próprio enfermeiro foi quem iniciou os procedimentos.
Passou uma sonda na paciente e constatou uma hemorragia interna. “Ele disse que ia fazer o possível e impossível para salvar minha filha e que pediria demissão do posto, porque em sete dias foi o segundo caso de negligência”, denunciou a mãe que estava dentro da sala acompanhando a filha. Ela teve de sair, a pedido do enfermeiro, quando começou a sair um sangue escuro da paciente.
Em relação a médica, ela só apareceu para atender, quando o enfermeiro já tinha feito todo o trabalho. “Depois de tudo a médica veio colocando a sandália aberta, colocando o cinto e arrumando o cabelo. Se é urgência e emergência, o médico tem que ficar a postos 24 horas. O paciente não tem que ficar esperando”, reclamou.
Solange disse que a médica simplesmente iria medicar sua filha novamente e mandá-la para casa de novo. “Falou que ali não tinha o que fazer. Não tinha estrutura para segurar. Ela nem pediu a transferência da minha filha para Campo Mourão. Foi o enfermeiro quem fez isso”, revoltou-se.
Tamanho descaso, que foi o próprio enfermeiro que fez as ligações à Santa Casa e Pronto Socorro de Campo Mourão para tentar uma vaga à jovem. Conseguiu um leito no Pronto Socorro. O Samu então foi acionada às 13h40 chegando ao Posto 24 Horas às 15 horas para a transferência. A mãe relata que a filha já estava desfalecida. “Parece que ela já estava morta”, disse. A jovem permaneceu internada em um leito de UTI no Pronto Socorro de quarta-feira até a madrugada de sábado, não resistindo às complicações.
“Estou aqui para lutar pela minha filha e por outros casos que estão acontecendo aqui. Médico faz pouco caso porque a gente é pobre. Se fosse filho de rico tinha atendimento privilegiado. Minha filha tinha 21 anos. Ela me dava força para o irmão que é cadeirante e meu outro filho de quatro anos e sete meses para cuidar. Eu dependia dela para tudo”, relatou Solange.
Porta arrombada e desorganização
Para se ter a ideia da desorganização na área da Saúde, a mãe disse que para conseguirem pegar o prontuário da paciente para a transferência até Campo Mourão, um enfermeiro teve de arrombar a porta da sala de agendamentos. Isso porque a pessoa responsável estaria em um curso em Campo Mourão e teria levado a chave junto.
A mãe relata ainda que o município já tinha os exames da filha desde o dia 14 de junho, mas que ela só conseguiu acesso na sexta-feira (30), ou seja, 16 dias depois. “Seguraram um papel de uma pessoa que precisa de atendimento de urgência. Que responsabilidade é esta. Mataram minha filha”, acusa. “Não estou pedindo cesta básica e nem dinheiro. Eu quero Justiça. Eu não quero mais nada. Não quero que mais ninguém passe o que estou passando, perder uma filha de 21 anos de idade por negligência”, emendou.
Outro lado
A secretária da Saúde de Peabiru, Valeska Alves, foi procurada pela reportagem. Porém disse que não se manifestará até tomar ciência dos fatos. Ela disse que faz acompanhamento frequente no Posto de Saúde, alegando ‘estranhar’ toda a situação. Valeska disse que ‘precisa’ olhar os prontuários médicos da paciente para ter certeza do que houve.
Ela alegou ainda que não esteve no Posto 24 horas durante o atendimento em que Mariana acabou morta e que o município irá apurar a responsabilidade. A secretaria disse também que se ficar comprovada negligência o responsável responderá às consequências.