Mulheres no campo: a representatividade de três agriculturas de Barbosa Ferraz

O crescimento gradual da representatividade das mulheres no campo é uma realidade no Paraná. Na Comcam, não é diferente. Esse fortalecimento vem sendo viabilizado pelo apoio de grupos organizados, como a Comissão Estadual de Mulheres da FAEP (CMEF), e de eventos tecnológicos e científicos ofertados na região, como é o caso, por exemplo, da Feira do Agronegócio, Tecnologia e Inovação (Fati), realizada em Campo Mourão.

Apoios como esses também contribuem para o sucesso feminino no meio rural, por exemplo, de Letícia do Carmo Souza, de 20 anos. Junto com a mãe, Maria Helena do Carmo, de 44, e a tia, Marinalva de Souza, de 38, ela resolveu iniciar o cultivo de maracujá, a princípio, em uma pequena área da propriedade da família, que fica no município de Barbosa Ferraz.

Plantação de maracujá na propriedade da família em Barbosa Ferraz

Letícia ajuda os pais, os tios e os avós na propriedade da família desde muito nova. Porém, no local, as culturas sempre se resumiram a grãos. “Somos em três mulheres e sempre tivemos planos de cultivar uma lavoura diferente, que não fosse grãos, mas até recentemente não tínhamos posicionamento sobre”, contou.

O grande ‘divisor de águas’ veio quando as agricultoras receberam um convite para participarem da quarta edição da Fati, em junho deste ano, em Campo Mourão. “Foi uma virada de chave em nossas vidas”, ressaltou a jovem agricultora, ao dizer que elas voltaram cheias de ideias e decididas a colocar o projeto em prática.

O apoio logo começou quando compartilharam a intenção com a família. Mas esse incentivo não se restringiu ao interior da propriedade. Elas também foram encorajadas por outras pessoas que conheceram em um grupo, a princípio, informal, de mulheres no município.

Formalizada recentemente, a Comissão Estadual de Mulheres da FAEP em Barbosa Ferraz tem atualmente 16 integrantes. “Como o grupo é novo, estou começando a conhecer as produtoras dessa região e estou encantada com a diversidade e dedicação dessas mulheres”, expressou Ligia Perri, produtora de grãos e coordenadora estadual da CEMF na área que abrange o município de Barbosa Ferraz.

Assim, a trajetória da participação de Letícia, Maria Helena e Marinalva no sistema sindical rural é apenas um exemplo entre as diversas mulheres que têm se engajado em direção à capacitação e ao fortalecimento da atuação feminina no agronegócio em Barbosa Ferraz e em toda a Comcam.

Em Barbosa Ferraz, o grupo, formalizado recentemente, está com 16 integrantes e vem expandindo

A Comissão: fortalecimento da atuação feminina no meio rural

Além de estar à frente do grupo em Barbosa Ferraz, Ligia também é “madrinha” de outros dez comissões na região, sendo Ubiratã, Campina da Lagoa, Mariluz, Nova Cantu, Juranda, Goioerê, Mamborê, Campo Mourão, Araruna e Engenheiro Beltrão. Ao todo, no Paraná, já foram criadas 96 CEMFs, em diversos municípios, somando mais de 3 mil integrantes.

Ligia explicou que a motivação para a criação de grupos femininos rurais formais se deu a partir do ano de 2021, quando havia aproximadamente 19 grupos informais e independentes de mulheres por todo o estado, com cerca de 600 produtoras envolvidas. Agora, com a criação das Comissões, elas recebem o apoio, além da FAEP, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e dos Sindicatos Rurais locais.

O objetivo desses grupos é claro. Visam fortalecer as mulheres no campo e proporcionar representatividade feminina efetiva nesse meio. “Nós queremos preparar essas mulheres com capacidade de decisão também da propriedade, com liderança política, aprendendo a empreender”, disse.

Isso porque muitas delas não se consideram produtoras, mesmo sendo donas das propriedades ou também assumindo dívidas junto com o marido, por exemplo, de um arrendamento. “Para que elas se sintam, então, pertencentes, a gente quer ajudá-las a entender como é todo esse processo, cada uma dentro de sua realidade”, falou a coordenadora.

Ajudar essas mulheres dentro da propriedade delas também é considerada uma forma de refletir sobre os benefícios que isso trará ao município e, até mesmo, ao estado como um todo. Para isso, há toda uma adaptação; os ambientes em que são realizados cursos de qualificação, por exemplo, são preparados para as mulheres de forma a atender as necessidades e os interesses delas também.

Ligia comentou, ainda, que os impactos positivos gerados a partir dessas capacitações femininas no campo não se limitam ao âmbito profissional, mas também beneficiam as inter-relações familiares. “Tem criado unidade nas famílias, com os casais, e essas mães têm influenciado também os filhos a permanecer na propriedade ou até voltarem”, enfatizou.

Para o grupo funcionar em todo o Paraná, há uma estrutura organizada. Assim, a CEMF recebe a coordenação geral de Lisiane Czech, que é a vice-presidente FAEP, e a coordenação técnica de Kelly Alves Taborda. Além disso, há mais 16 coordenadoras regionais espalhadas pelo Paraná, entre as quais Ligia faz parte, para darem o suporte necessário. Por fim, há de três a cinco coordenadoras locais por Comissão.

Incentivos como esse que Letícia, a mãe e a tia têm recebido, por exemplo, já estão fazendo a jovem, que concluiu o ensino médio em 2021, almejar cursar o ensino superior. Mas a intenção não é sair do campo, pelo contrário, é se especializar ainda mais na área rural, na qual pretende continuar atuando e expandindo.

“Tenho intenção de fazer uma faculdade de Agronomia, pois sempre trabalhei na roça com minha família e peguei um grande amor pelo que faço, e hoje mais ainda por termos uma segunda cultura, que seria o maracujá”, afirmou, ao completar que as agricultoras já pretendem expandir as produções e diversificar a cultura, com o cultivo também de tomates.