Onde estão os restos mortais de João?

Em fevereiro, Severino perdeu a irmã, Ana, aos 62 anos, vítima de infarto. Então iniciou os preparativos para o funeral. O sepultamento era pra ser no lote da família, no cemitério municipal de Peabiru, junto a outro irmão, João, morto em 1971. Mas isso não aconteceu. À sua surpresa, ao chegar até o local, Severino constatou que haviam duas pessoas de outra família enterradas ali. Ainda perplexo com a situação, teve que mudar os planos. E levou o corpo ao cemitério de Engenheiro Beltrão.

Passados alguns dias e, agora com o documento original de propriedade do lote 6, da quadra 50, em nome do pai, Manoel Gomes das Neves, em mãos, buscou explicações junto ao cemitério. Mas nada foi resolvido. “Estão me enrolando. Alguém sugeriu me dar outro lote. Mas não aceitei. Porque meu irmão está enterrado ali, embaixo de outros dois que, nem sei quem são”, afirmou Severino.

Ele conta que o lote foi adquirido em 09 de agosto de 1971, praticamente, no dia da morte do irmão, João. E, desde então, jamais imaginou que alguém se apossaria do local. “Fizemos o túmulo todo revestido com azulejos. Estava bem organizado, embora não tivéssemos o costume de o visitar”, disse. Os outros dois corpos ali enterrados datam de 2005 e 2012.

A reportagem entrou em contato com familiares dos dois sepultados. E descobriu que o túmulo se refere ao lote 7, e não ao 6, como Severino afirma. Mesmo assim, o 6 também é de propriedade da nova família. “Ele tem direito de ir atrás e ver se encontra o que procura. Que ele tenha boa sorte nas buscas. Mas o nosso túmulo está tudo correto”, afirmou a detentora dos lotes 6 e 7.

Severino conta que, além da péssima surpresa, o que mais o preocupa é o “esquecimento” do irmão. “Quem liberou o lote se esqueceu que ali estava o corpo do meu irmão. Agora ele continua ali, sem ao menos o seu nome”, explica. Severino Gomes das Neves mora com a família em Campo Mourão. Casado, é pai de três filhas e ganha a vida honestamente como jardineiro. Ele deseja que o município de Peabiru resolva a situação. E, por fim, descubra onde estão os restos mortais do irmão, João.

A tragédia de João

João Gomes das Neves morava com a família no distrito de Ivailândia, Engenheiro Beltrão. Trabalhava como jardineiro e se apaixonou por uma moça. No ano de 71 decidiu marcar a data do casamento – 09 de agosto. Então, mandou um alfaiate de Campo Mourão fazer o terno. Um dias antes da cerimônia – 08 de agosto -, pegou a moto e percorreu o trecho até a cidade. Após apanhar a roupa, seguiu novamente à Ivailândia. Mas no caminho um acidente acabou com todos os seus sonhos.

Aos 19 anos, João morreu na hora. Ele carregava apenas uma sacola com o terno que usaria no dia mais importante da vida. Mas, se não o usou no casamento, foi útil ao funeral. Acabou enterrado com a farda matrimonial. Segundo Severino, cerca de 30 dias depois à sua morte, a noiva foi quem perdeu a vida. “Ela havia ido se banhar nas águas do Rio da Várzea, em Quinta do Sol e morreu afogada”, lembrou.

Versão da prefeitura de Peabiru

A TRIBUNA buscou informações junto à prefeitura de Peabiru. E, de acordo com o advogado do município, Luciano Viana, “internamente, o caso ainda não foi solucionado. Situação de “1971” o que por si só já traz uma certa dificuldade e cuidado”, disse.

Viana também sugeriu que Severino redija por escrito a reclamação e protocole na prefeitura. “Pois daí ele fica documentado e a municipalidade fica também com a obrigatoriedade de resposta”. Ele acredita que a situação será resolvida da melhor forma possível.