Quinta do Sol, a incrível cidade interplanetária

Andréia Moreira sai de casa todos os dias em direção ao trabalho. Ela mora na Rua Óreon. Nos 15 minutos de caminhada até a empresa, passa por Marte. E depois, por Júpiter. Até chegar a Urano, onde trampa. São três planetas pelo caminho. Ou melhor, três ruas com nomes de planetas. Aos 35 anos, a jovem atua no ramo de confecções, na pequena Quinta do Sol. Município distante quase 50 quilômetros de Campo Mourão. Uma cidade diferente de todas as outras. Lá, ao invés de pessoas, as vias têm nomes de astros. O que, de certa forma, deixa a vida mais divertida pra aquelas bandas.

Mas isso nem sempre foi assim. O município foi criado em 64. Até 1977, as ruas tinham nomes de capitais e estados brasileiros. Uma lei mudou tudo. Ela foi indicada pelo então vereador Raimundo Targino de Melo. “Havíamos saído de uma administração ruim. Usamos a astrologia para tentar que a cidade melhorasse”, brinca ele. Passado o tempo, as vias continuam levando nomes de astros. Raimundo, hoje com 72 anos, diz que se motivou pelo astro rei, o sol, para dar os nomes. E a ideia emplacou. 

Mas, para a população, as explicações da cidade ser virada em astros, ainda não estão bem explicadas. Marco Antônio Rodrigues, 43, nasceu por lá. Mas desde os 17, mora em Porto Alegre. Dias desses retornou em visita ao pai. Ficou hospedado na Rua Três Marias. Nome popular dado a um asterismo de três estrelas que formam o cinturão da constelação de Orion. “Acho bastante interessante as ruas com estes nomes. Mas não sei dizer o porquê”, disse.

Jakslaine Correia tem 18 anos. Mora em Vênus. Ou melhor, na Rua Vênus. O segundo planeta do sistema solar em ordem de distância ao sol. Até pouco tempo, deixou a casa em que residia, na Praça Gentil José Soares. E fez uma viagem interplanetária. Até Vênus. A moça explica que ouviu dizer que os nomes das ruas têm haver com o desenho da praça. Dos raios de sol. “Não sei se é por isso. Mas acho bem legal ter nomes assim na cidade”, disse.

Kaíque da Silva tem 14 anos. Ele mora na Rua Estrela Polar. Astro alinhado com o eixo de rotação da Terra. Menino, ele sempre passa na casa do amigo, Elizael, na Rua Urano. O sétimo planeta a partir do sol. E o terceiro maior. Juntos, os companheiros também visitam diariamente o colega Carlos Vinícius, que mora na Rua Plutão. Formalmente designado 134340, é um planeta anão do Sistema Solar. Logo ao se unirem, os três brincam na praça central. E é lá onde “prosearam” com a reportagem. “Na escola aprendemos porque as ruas têm esses nomes. Mas eu já esqueci”, grita um deles.

Mas se para alguns os nomes são interessantes, a outros, não. Jonas dos Santos Batista é skatista. Tem 17 anos. Ele acredita que as vias deveriam levar nomes de pessoas. “Seria mais fácil para decorar os nomes”, acredita. Ele também diz que a maioria da população não sabe o que esses nomes simbolizam. No seu caso, reside na Rua Estrela Dalva. Nome também dado ao referido planeta Vênus. Igor Will tem 17 anos. Mora na Rua Saturno. O sexto maior planeta do sistema solar. Atrás apenas de Júpiter. O rapaz é pintor. Há duas semanas prestou serviço na Rua Netuno. O oitavo planeta mais distante do sol. “Acho bem legal esses nomes. É interessante”, ressaltou.

História

Quinta do Sol é mesmo diferente das outras. Principalmente, devido aos nomes de vias. Mas se revela uma cidade pacífica. De gente trabalhadora. Onde a calmaria predomina. E ainda, se escuta o assoviar do vento. Por lá também existem as ruas Centauro. Um tipo de corpos menores do sistema solar que orbitam entre Júpiter e Netuno. Cometa. Marte.      

O nome da cidade tem origem em sua colonização portuguesa. A palavra “quinta”, em Portugal, significa “grande fazenda”. E “sol” vem da escala musical. A quinta nota. No brasão de Quinta do Sol há a representação de uma propriedade rural e a notação musical de uma clave de sol. A cidade também é marcada pela forte colonização japonesa e também de paulistas, mineiros e nordestinos, que vieram para a região atraídos pela cultura do café e hortelã nas décadas de 1950 e 1960.

A praça central é um grande círculo. E é de lá onde saem oito ruas. Como os raios de sol. O desenho foi perfeitamente projetado no início do município. Tornando-o mais diferente ainda das demais cidades brasileiras. Hoje, segundo dados do IBGE/2010, a população é de apenas cinco mil habitantes. Aos turistas, vale um passeio espacial e interplanetário.