Reféns do Covid, 200 trabalhadores são demitidos de resort na região

O coronavírus não só adoece e mata. Ele também desemprega. As últimas vítimas foram quase 200 funcionários do Jurema Águas Quentes, em Iretama. Um dos melhores e mais conhecidos resorts do país. Fechada e, sem fluxo de caixa nos últimos 90 dias, a empresa se viu obrigada a rescindir o contrato dos trabalhadores. Eles estarão cobertos por seguros do governo. Tudo foi feito com muita transparência. A direção jamais quis que isso acontecesse. Mas a pandemia acabou falando mais alto. 

Como todo o setor de turismo, o hotel foi obrigado a parar em março. Desde então, hóspedes desapareceram. E com eles, o dinheiro para bancar despesas. O anúncio caiu como uma bomba aos 550 funcionários. Mas eles entendem que, sem turistas, não há milagres. Existe uma possibilidade para a sua reabertura em julho. Mas nada oficial. Um dos sócios disse que a direção fez uma análise estratégica. A saída é ter uma segurança aos demais funcionários e ao próprio negócio. Ou seja, diminuir custos com a receita em queda livre.

São famílias inteiras trabalhando no resort. A grande maioria moradora da comunidade da Água Fria. Para minimizar os danos à economia local, e principalmente às pessoas, o hotel estudou as rescisões. Procurou deixar sempre alguém da família na atividade. Demissões humanizadas, se é que se pode dizer isso. Todos os demitidos receberão suas rescisões e multas contratuais. Além disso vão receber seguro desemprego. A meta é que todos sejam novamente recontratados assim que a empresa volte à normalidade, revelou um dos sócios, que preferiu não ter o nome revelado. “Eles são a força de trabalho que construiu o hotel. São treinados. Moram ao lado. Temos esse compromisso com eles”, disse.

Até 2019, o resort mantinha 350 funcionários. Mas com a inauguração de um novo complexo, os “Jardins de Jurema”, também no ano passado, a empresa ampliou o número para 550. Recém inaugurada, em agosto, a unidade não teve tempo suficiente para uma maturação de mercado. Ou seja, uma demanda ajustada frente a crise enfrentada hoje. A ideia, segundo ele, é reabrir o complexo “Lagos de Jurema”, e manter o novo fechado até o início das férias de verão. “A partir de julho vamos trabalhar muito para investir na recuperação”, disse. 

De acordo com a empresa, a maioria dos funcionários entendeu as circunstâncias. “É uma situação dramática. Nunca desejamos que isso acontecesse. Mas eles sabem que, quando melhorar, estarão de volta”, disse o sócio. A empresa foi criada em 1973 no município de Iretama. Com investimentos constantes, cresceu e atingiu a excelência nos serviços de hotelaria. Hoje, é considerada uma das melhores do país.

Preocupação

O prefeito de Iretama, Wilson Bratac (PP) disse que está preocupado. “Ninguém queria isso. As perdas serão grandes”. Segundo ele, será um “baque” ao município. Uma bola de neve. Se por um lado pessoas ficaram desempregadas, por outro, impostos deixaram de ser absorvidos. Segundo ele, desde que o resort foi paralisado, cerca de R$200 mil mensais deixaram de ser arrecadados. Uma conta simples. Não fatura. Não paga. Bratac acredita que o comércio e a saúde também serão atingidos. Ele torce para que o complexo volte as atividades o quanto antes. 

Maria de Lurdes Dias, 62, vende espetinhos na comunidade da Água Fria há quatro anos. Ela tem um filho empregado no hotel. E está preocupada. “É uma calamidade o que está acontecendo. Sem funcionar, o resort pode trazer ainda mais desempregos”, disse. Maria diz que a empresa não tem culpa. É preciso ter esperança e paciência. “Aqui não tem pra onde correr. Se não for as Termas, não tem emprego”.

Funcionária há 18 anos do resort, ela acaba de ser demitida. Com medo, não quis ter o nome revelado. Mas não está revoltada. Entende a situação. “Sei que neste momento não existem culpados. Devo muito ao hotel. Com ele fiz minha casa. Criei meu filho. Sempre gostei de trabalhar lá”, revelou. Ela foi informada que receberá sua rescisão na próxima semana. E com o dinheiro, irá montar um pequeno negócio com o marido. Pelo menos até que as coisas melhorem no hotel. 

De acordo com ela, a demissão aconteceu no anfiteatro do resort. Cerca de 200 pessoas. O gerente comandou a reunião. Um dia de tristeza. Ele informou a pauta e chorou. No local onde  antes os hóspedes gargalhavam com os shows de humor – feito pelos próprios funcionários –,  agora a plateia chorou.