Roncador: produtor denuncia situação de estrada rural. Prefeito reconhece, cita ‘limitações’ e diz que ‘todos serão atendidos’
Indignado à espera de uma solução definitiva, pela prefeitura, na manutenção da estrada rural de acesso à sua propriedade, o produtor rural, João Batista Muraro, 65 anos, percorreu 95 quilômetros de Roncador a Campo Mourão, nessa segunda-feira (27) com um único intuito. Vir ao Jornal Tribuna do Interior para relatar a situação que vem vivendo. Ele é dono do sítio Rio Bonito, localizado na Comunidade que leva o mesmo nome, distante cerca de 35 quilômetros da cidade. Fez um verdadeiro desabafo à reportagem.
O produtor rural disse que não aguenta mais os transtornos enfrentados diariamente para deslocar de sua propriedade e até mesmo escoar sua produção por conta da situação da estrada secundária, um trecho de cerca de um quilômetro, que faz a ligação à estrada principal. Ele está colhendo no momento 10 alqueires de soja, o que faz com que a apreensão aumente ainda mais. É que segundo Muraro, caminhões carregados só sobem o trecho, que é íngreme, puxado por trator. “Não sei nem se vou conseguir colher toda a soja”, preocupou-se. Em dias de chuva então, diz que nem arrisca sair de casa.
Muraro falou que maquinários pesados, como colheitadeiras, por exemplo, também sobem o trecho com dificuldades. Patinando devido a pedras soltas e ao mesmo tempo deslizando em buracos. “Têm cabeças de laje (valetas) que se cair não sai mais. Há muitos anos tenho procurado a prefeitura. Somente com este último prefeito já tem dois anos que estou atrás. Mas nada acontece”, falou Muraro. Além da produção de grãos (soja e milho), ele mantém a criação de um rebanho de gado de corte no sítio.
Muraro diz que decidiu procurar o jornal porque já não sabe mais a quem recorrer. “Eu avisei na prefeitura que ia procurar a imprensa”, disse, ao relatar que a estrada, além de inviabilizar o tráfego de veículos, coloca em risco a vida de usuários devido à sua precariedade. Informou que outros produtores também utilizam o trecho para acesso às suas propriedades.
“Até a minha propriedade é um trecho de um quilômetro. Mas tem o vizinho de cima e outro pedaço [de estrada] que sai na estrada mestre”, citou. O produtor disse que o problema não é ‘de hoje’. Informou que desde as últimas quatro gestões anteriores vem enfrentando o drama. “Tenho esta propriedade há 21 anos e ninguém faz nada para resolver o problema em definitivo”, revoltou-se.
O morador informou que de tão precário que está o trecho, dias deste o pneu de um trator estourou enquanto puxava um caminhão até a estrada principal. “Carro baixo não sobre nenhum. Só o vizinho que tem uma VW Brasília consegue subir. E nem Brasília tem mais porque o carro está destruído por causa da situação da estrada”, lamentou. O produtor disse entender que a malha viária rural do município é extensa, mas argumentou que já são dois anos dentro da atual administração e outros 19 anos, se referindo a administrações passadas, correndo atrás de uma solução definitiva. “É tempo para esgotar qualquer paciência. Tudo tem limite”, ressaltou.
Outro lado
A TRIBUNA ouviu o prefeito da cidade, Vivaldo Lessa (DEM) sobre o caso. Lessa foi direto ao reconhecer o problema de João Muraro. Informou que enquanto a prefeitura não faz um trabalho definitivo, o produtor foi atendido com serviços paliativos com patrolas e pá-carregadeira. Porém, o excesso de chuvas de fevereiro e início deste mês agravou o problema no trecho, assim como destruiu estradas rurais em várias outras localidades. “Ele merece sim o serviço. E vamos fazer, mas quando conseguirmos amenizar trabalhos emergenciais que estamos fazendo em trechos que são rota do transporte escolar. Todo produtor merece uma estrada boa para escoar sua produção e ter o mínimo de conforto de deslocamento. E todos serão atendidos”, falou o gestor.
Lessa disse que as estradas rurais do município foram bastante castigadas pelas chuvas. Segundo ele, a secretaria de Obras definiu um cronograma de recuperação dos pontos que estão nas rotas do transporte escolar. Atualmente o município está atendendo a região do da Comunidade Cateto e seguirá às comunidades do Alto Palmital e em seguida Alto São João. “E assim que conseguirmos solucionar esta parte emergencial, vamos atender os demais, inclusive o senhor João Muraro, que realmente já nos procurou”, disse.
O prefeito explicou que os trabalhos de recuperação na estrada de acesso à propriedade rural de Muraro, exige a utilização de uma escavadeira hidráulica devido a “quebra” de barranco. Mas que atualmente o município possui somente uma máquina desta, que está justamente atendendo outras regiões definidas em cronograma. “Para nossa infelicidade, recentemente tivemos ainda um período que a máquina ficou 40 dias parada porque quebrou um pistão. Este foi o tempo da assistência técnica para consertar a peça, o que também acabou atrapalhando os serviços”, informou o gestor.
Falta de pessoal
Outra dificuldade enfrentada pela prefeitura, Segundo Lessa, é a falta de operários para os equipamentos. A prefeitura vinha mantendo um contrato com uma empresa terceirizada para os serviços, mas foi rescindido. Ele informou que a administração deverá abrir um concurso para contratações para que tenha pessoal suficiente para operar a frota pesada.
“Estamos com dificuldade de equipes. Infelizmente está uma correria. Para se ter ideia, temos dois rolos compactadores e não temos operador para trabalhar. Temos três máquinas niveladoras e só dois operadores. Hoje, mão de obra, também é outra grande dificuldade nossa”, explicou. Lessa citou que desde que assumiu o município tem investido na melhoria de estradas rurais. “Temos feito investimentos grandes ao longo destes dois anos em estradas vicinais naquela região – Estrela e Rosílio -, com cascalhos e recuperação de estradas. É a região mais distante da sede do município”, falou.
Como exemplo, citou a recuperação e readequação de 14 quilômetros de estradas rurais, com cascalhamento, da rodovia até o entreposto da Coamo, na comunidade Tricolor. “Entendemos a situação do senhor Muraro e compreendemos sua revolta e decepção. Mas infelizmente não temos condições de atender todos ao mesmo tempo. Porém estamos trabalhando. E assim que conseguirmos amenizar as recuperações emergenciais vamos deslocar os equipamentos para aquela região para atender não somente a ele, mas os demais produtores também”, garantiu Lessa.