Ansiedade: entenda quando ela pode ser preocupante
O tema ansiedade – um mecanismo de alerta presente em todos os seres humanos – tem sido amplamente discutido na sociedade, tanto em círculos profissionais quanto no dia a dia, em conversas cotidianas. É importante compreender que, por ser uma condição natural nas pessoas, nem sempre a ansiedade é motivo de preocupação. Mas é preciso atenção, pois há casos em que ela pode evoluir para transtornos prejudiciais à saúde.
Diante do contexto atual, que envolve mudanças rápidas da sociedade moderna, como o ritmo acelerado da vida, a pressão por sucesso, a produtividade e a aparência, além do uso das redes sociais, que reforçam padrões idealizados, a equipe de reportagem da TRIBUNA conversou com a psicóloga Nicole Martini, de Campo Mourão.
O objetivo foi entender os principais sinais que podem levar a ansiedade a se tornar um problema e quando é necessário buscar ajuda especializada. Essa discussão ganha ainda mais relevância neste mês, com a campanha nacional do Janeiro Branco, que tem como objetivo alertar a população sobre a importância da saúde mental e o cuidado com as emoções.
O que é ansiedade?
Com especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental e Psicologia Jurídica, além de formação em Psicopatologia e experiência em psicologia clínica há oito anos, Nicole explicou que a ansiedade é um “mecanismo de alerta natural que todos possuímos”. Ao contrário do que muitos pensam, a ansiedade é algo positivo nos seres humanos, conforme disse Nicole. “Ela desempenha um papel crucial em nossa sobrevivência e adaptação”, informou.
A profissional argumentou que, ao ativar sistemas de alerta no corpo, a ansiedade prepara as pessoas para enfrentar situações desafiadoras, o que permite melhores planejamentos e tomadas de decisões mais cuidadosas diante de situações desafiadoras. Ela exemplificou com o caso em que alguém precisa realizar uma apresentação importante.
Em situações como essa, a ansiedade pode aumentar a concentração, a energia e a motivação, incentivando a pessoa a agir de forma mais eficiente e organizada. No entanto, nem sempre essa manifestação ocorre de maneira favorável ao estado emocional ou, até mesmo, físico das pessoas. São nesses momentos que elas devem ‘ligar o sinal de alerta’ e avaliar o seu estado emocional com mais atenção.
Quando se preocupar?
São diversos os motivos que podem levar ao aumento da ansiedade na população. Eles incluem, segundo Nicole, as rápidas mudanças na sociedade, principalmente envolvendo o uso de tecnologias. “O medo do futuro e o distanciamento nas relações humanas, devido à tecnologia, também contribuem”, disse a especialista, ao lembrar que, no início de um novo ano, por exemplo, pode ser um dos momentos em que essa ‘resposta natural do corpo’ se intensifique e, em alguns casos, torne-se disfuncional.
Com isso, a ansiedade deixa de ser um ‘simples’ mecanismo de alerta e pode evoluir para uma condição problemática, como um transtorno, quando ela se torna excessiva e prejudicial, podendo levar a crises constantes e a problemas emocionais ou físicos. “A ansiedade passa a ser preocupante quando se torna intensa, frequente e gera prejuízos em diversas áreas da vida, como no âmbito pessoal, social e profissional”, alertou.
Nesses casos, o mais recomendado é buscar orientação de profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. “A qualquer sintoma físico, qualquer sentimento ou pensamento disfuncional, procure um psicólogo para identificar o que está acontecendo e prevenir que as coisas piorem”, recomendou, complementando que o profissional vai colaborar na compreensão do que está desencadeando o problema, para buscar os direcionamentos necessários.
A psicóloga explicou que alguns dos principais sinais de que a ansiedade está interferindo na vida de uma pessoa são quando gera procrastinação ou esquiva. Isso porque o medo do fracasso ou a falta de controle sobre o futuro a impede de tomar decisões ou avançar em direção às suas metas. Estresse e insegurança intensos são marcantes nessas situações.
A profissional aproveitou para chamar atenção, ainda, para o fato de que não se pode banalizar a ansiedade. “A ansiedade não é frescura, é uma resposta emocional e fisiológica do corpo. As pessoas não são fracas porque têm ansiedade, ela pode ser desencadeada em qualquer um. Nem sempre ela é fácil de identificar, seus sintomas não precisam ser só físicos, podem ser cognitivos e comportamentais”, falou.
Janeiro Branco
O Janeiro Branco é o mês destinado a promover campanhas nacionalmente voltadas à promoção da saúde mental e emocional. Há mais de uma década, a sociedade brasileira é convidada a refletir, dialogar e agir em direção ao bem-estar emocional. Oficialmente, a campanha foi instituída em 2023, por meio da Lei nº 14.556.
Com o tema “O que fazer pela saúde mental agora e sempre?”, em 2025, a iniciativa incentiva os diversos segmentos da sociedade a apoiar as ações voltadas à valorização da saúde mental enquanto prioridade coletiva. A ansiedade, tema destacado nesta reportagem, pode ser uma das doenças decorrentes de estresse, ao lado da depressão, do pânico e diversas outras condições.