O que você faz para ‘exercitar’ seu cérebro? Psicóloga alerta sobre falta de estímulos

Diariamente, as pessoas “exercitam” o cérebro, mesmo de forma automática. Atividades como fazer listas de compras, planejar o trajeto até o trabalho ou até tentar lembrar o nome de uma pessoa ao encontrar com ela são exemplos de como o cérebro está constantemente sendo desafiado. Embora muitas dessas ações aconteçam espontaneamente, elas, por si só, podem não ser suficientes para manter a mente saudável e estimulada a longo prazo.

A psicóloga clínica Thaís Serafim, que atua em Campo Mourão e Umuarama realizando atendimentos exclusivos em avaliação neuropsicológica, alerta que, além dessas práticas cotidianas, é importante buscar estímulos mais elaborados, para buscar uma saúde mental duradoura. O simples fato de mudar o trajeto de casa para o trabalho, ou vice-versa, já pode ser um caminho para proporcionar um desafio a mais para a mente.

“Quando mudamos hábitos simples, o cérebro sai do ‘piloto automático’ e precisa recriar padrões de conexão. Isso ativa a neuroplasticidade, fortalecendo redes neurais e criando novas sinapses, o que melhora a flexibilidade cognitiva e a adaptação a novos desafios”, elucida a profissional.

Por isso, ela destaca a importância de desafiar o cérebro diariamente com atividades que exigem pensamento lógico, memória e criatividade. “Isso estimula a neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de criar e fortalecer conexões entre os neurônios”, explica.

Exemplos disso são jogos analógicos, como de tabuleiro e de cartas, resolução de palavras cruzadas, caça-palavras ou mesmo Sudoku. Embora para alguns, em especial as gerações mais novas, atividades como essas possam parecer ultrapassadas, quando o assunto é “exercitar” o raciocínio, elas nunca se tornam obsoletas.

Isso porque, conforme comenta a especialista, elas são excelentes meios para estimular diferentes áreas do cérebro, reforçando as conexões já existentes e criando novas, o que torna as pessoas mais ágeis e, inclusive, mais resistentes ao envelhecimento. “Ao criar e fortalecer as conexões neurais, aumenta-se a reserva cognitiva, tornando o cérebro mais resistente a danos e ao envelhecimento”, alerta.

Doenças neurodegenerativas

Apesar de não ser possível prevenir o aparecimento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, a psicóloga elucida que há meios que podem retardar os sintomas. Com atividades simples, o prolongamento de uma mente saudável e ativa é possível.

“Isso significa que se uma pessoa desenvolver a doença de Alzheimer, por exemplo, a sua reserva cognitiva pode mascarar o efeito e atrasar o início dos sintomas por alguns anos”, pondera, ao acrescentar que a estimulação da memória e da coordenação pode ajudar a preservar as habilidades por mais tempo, além de melhorar a qualidade de vida de pacientes já diagnosticados.

Quando tais estímulos são aliados a exercícios físicos, então, os benefícios se potencializam ainda mais. “O exercício físico melhora a circulação sanguínea no cérebro, promove a liberação de neurotransmissores e aumenta a produção de fatores de crescimento neuronal – favorecendo a aprendizagem, a manutenção da atenção e da memória”, informa.

A ciência vem avançando no entendimento do funcionamento cerebral quando determinadas intervenções são realizadas, até mesmo, em relação à prevenção de quadros de demência. Um estudo inédito desenvolvido por 16 brasileiros no Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (Brainn), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) confirmou que a musculação, por exemplo, protege o cérebro de idosos contra a demência.

Por meio da pesquisa, publicada em um artigo na revista internacional GeroScience nos primeiros dias deste ano, 44 pessoas idosas com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), ou seja, com perda cognitiva maior do que a esperada para a idade, foram acompanhadas durante 24 semanas. Os participantes foram separados em dois grupos.

O resultado do estudo demonstrou que, ao fazer o exercício de força duas vezes por semana, com intensidade moderada ou alta, a metade dos idosos que foi submetida à prática teve o hipocampo e o pré-cúneo – áreas cerebrais que se alteram quando os pacientes são diagnosticados com quadros de demência –, preservados. Isso demonstra ainda mais a importância de manter o cérebro, aliado a atividades físicas, quando possível, ativo.

“Ao criar e fortalecer as conexões neurais, aumenta-se a reserva cognitiva, tornando o cérebro mais resistente a danos e ao envelhecimento”, explica a psicóloga

Estímulos físico e cognitivo

Veja a seguir alguns exemplos apresentados por Thaís e como eles atuam no estímulo físico e cognitivo, simultaneamente.

Dança: exige coordenação, memorização de passos e ritmo, promovendo tanto o exercício aeróbico quanto o raciocínio.
Esportes estratégicos: aqui entram o tênis, as artes marciais, o xadrez associado ao boxe (combinação de rounds de boxe com partidas de xadrez), que unem planejamento mental e esforço físico.
Caminhadas ou corridas com desafios mentais: ouvir audiolivros, podcasts educativos ou resolver problemas matemáticos mentalmente durante o exercício físico.
Aprender habilidades motoras complexas: por exemplo tocar um instrumento musical, praticar yoga ou treinar malabarismo, atividades que exigem controle corporal e processamento mental simultâneo.

A psicóloga enfatiza, ainda, que a ginástica cerebral é algo acessível, que não compromete a rotina diária. Por esse motivo, ela recomenda que a população estimule a mente, independentemente da idade, para melhorar e prolongar a qualidade de vida. Confira na sequência dicas de algumas tarefas fáceis que podem ser incorporadas no dia a dia das pessoas e sugestões de atividades que podem ser incluídas nos momentos de lazer.

Dicas

– Trocar programas passivos (como TV e vídeos no celular), por leitura antes de dormir.
– Ouvir podcasts ou aprender palavras novas em deslocamentos longos (da casa para o trabalho ou mesmo em uma viagem).
– Fazer compras sem lista para treinar a memória.
– Mudar o trajeto para o trabalho ou tentar fazer uma nova receita no fim de semana.
– Tentar fazer cálculos de cabeça antes de recorrer à calculadora.
– Escovar os dentes e o cabelo com a mão não dominante.
– Vestir a roupa de olhos fechados.
– Jogos de tabuleiro ou cartas.
– Quebra-cabeça.
– Palavras cruzadas, caça-palavras, Sudoku.
– Aprender um novo idioma.
– Praticar esportes.
– Fazer artesanato.